Idealizado pelo coletivo artístico Minas de Minas Crew, o projeto Delas promove oficinas de customização e grafite direcionadas à mulheres cis e trans, a partir desta segunda-feira (1º de Maio). Com inscrições limitadas e já encerradas, as atividades serão oferecidas gratuitamente no Centro Cultural Alto Vera Cruz, na Região Leste de BH, e ministradas pela grafiteira Fênix e a estilista Lorena Santos, a Lolita, com programação até 16 de junho.
O Delas foi criado em 2017 e busca aumentar a autoestima feminina e fortalecer a presença das mulheres no mundo da arte. Realizado com recursos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte, o projeto também planeja homenagear com um painel de grafite Dona Valdete da Silva Cordeiro, fundadora do Meninas de Sinhá. Com cantigas de roda e cirandas, tradicionais e autorais, que valorizavam a ancestralidade feminina, o grupo contribuiu para a melhoria da qualidade de vida das mulheres no Bairro Alto Vera Cruz.
A iniciativa do Minas de Minas Crew surgiu da vontade de integrar mais mulheres à realidade artística de BH. Uma das participantes do coletivo e idealizadora do Delas, Carol Jaued, relembra a vontade de mudar o cenário, antes extremamente masculino, que sobressaía na capital.
“O grupo é formado por quatro grafiteiras aqui de BH (Carol, Lidia Viber, Musa e Nica). Nós já tínhamos essa vontade de ter mais mulheres na cena do grafite, porque, desde quando começamos a pintar, antes da formação do Minas de Minas, existiam poucas mulheres exercendo a arte na região”, afirma.
Segundo Carol, as atividades promovidas pelo Delas discutem não só o grafite, mas a arte de uma maneira geral, favorecendo trocas e o fortalecimento de laços entre as artistas. “Discutimos a arte, o trabalho e a linguagem. O que queremos transmitir com nossas pinturas é a dificuldade que encontramos pelo caminho. Principalmente para as mulheres que são mães. Foi a partir da coletividade que o Delas se desenvolveu”, afirma.
Nessa nova edição, o Delas propõe a inserção das mulheres da periferia da Região Leste da cidade e o reconhecimento aos talentos que por lá já passaram. A oficina de customização de peças de roupa é novidade na programação do projeto.
MODA SUSTENTÁVEL
Mesmo sendo veterana das salas do Centro Cultural Alto Vera Cruz, é a primeira vez que a estilista Lorena participa do projeto Delas. A dona da marca Lolita az Avessas é responsável por abordar a moda sustentável ou moda “slow fashion” nas oficinas.
Com foco na sustentabilidade e criação de novas peças a partir da customização de roupas antigas, a estilista crê que os processos ensinados nas oficinas serão capazes de modificar o olhar das mulheres sobre a objetificação que as roupas das grandes marcas incentivam sobre seus corpos. “Acredito que, para essas meninas, a transformação pode existir, pelo fato de elas mesmas moldarem as suas peças”, afirma Lolita.
Além do uso pessoal, a customização poderá abrir novas oportunidades financeiras às participantes. Lorena explica: “Nas quebradas, nas comunidades e nas favelas, sempre há bazares. Então, a partir do garimpo e da customização, as costuras podem também ser uma fonte de renda para as mulheres”.
REFERÊNCIAS
O projeto busca, a cada edição, possibilitar que novas artistas compartilhem suas obras e se tornem referências para as mulheres que têm o sonho de colorir os muros da cidade. A grafiteira Sthefany Santos de Oliveira, a Fênix, também faz parte da equipe que movimenta o Delas.
A artista já havia participado do projeto, pintando em festivais de grafite organizados pelo Minas de Minas Crew, agora, ela retorna como professora. Ansiosa, a belo-horizontina planeja abordar em sua oficina assuntos normalmente não discutidos no nicho, como a organização pessoal e o planejamento de carreira.
Como reflexo de sua arte, Fênix ensina as mulheres a importância de se autorreconhecerem em suas obras. “Quero compartilhar as coisas que gostaria de ter ouvido quando tinha o sonho de ser artista e ninguém me apoiava”, afirma.
Sobre a escolha de seu nome artístico, ela explica que, “desde muito nova era fascinada com a imagem da Fênix, uma ave que ressurge das cinzas. Minha trajetória na arte é assim, comecei sozinha, sem nenhum apoio e me sinto honrada de hoje ter a possibilidade de ser referência para as meninas.”
A artista destaca a importância de fortalecer os laços que trazem cada vez mais mulheres para a arte. “Em Belo Horizonte, existe um movimento de mulheres na arte que se fortalece cada dia mais. É um prazer encontrar mulheres que também são referência para mim e cultivar essa admiração entre nós todas.”
DONA VALDETE
Pouco antes do fim do projeto, que termina em 16 de junho, o Delas vai homenagear Dona Valdete da Silva Cordeiro, fundadora das Meninas de Sinhá. A trajetória de vida da baiana, falecida em 2014, foi marcada pelo ativismo social e pela contribuição para a melhoria do Alto Vera Cruz.
Pouco antes do fim do projeto, que termina em 16 de junho, o Delas vai homenagear Dona Valdete da Silva Cordeiro, fundadora das Meninas de Sinhá. A trajetória de vida da baiana, falecida em 2014, foi marcada pelo ativismo social e pela contribuição para a melhoria do Alto Vera Cruz.
Para relembrar e homenagear o trabalho social na região, Dona Valdete será tema de um painel de grafite feito pela artista Dninja, com a participação especial do grafiteiro Wanatta.
* Estagiária sob a supervisão da subeditora Tetê Monteiro
PROGRAMAÇÃO
• Oficina de customização, com a estilista Lorena Santos. Às quartas-feiras (3, 10, 17, 24 e 31 de maio, e 7 de junho), das 14h às 16h.
• Oficina de grafite, com a grafiteira Fênix.
• Às quintas-feiras (4, 11, 18 e 25 de maio, e 1º e 15 de junho), das 19h às 21h.
• Abertura do projeto Delas nesta segunda-feira
(1 º de Maio), às 20h, no Centro Cultural Alto Vera Cruz (Rua Padre Júlio Maria, 1.577 – Vera Cruz).
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