Sonia Braga é uma das principais atrizes brasileiras, como comprova sua carreira no cinema e na TV do Brasil e dos Estados Unidos, reconhecida com diversos prêmios. O que poucos sabem é que ela já trabalhou como carregadora de lenha, recepcionista e secretária de um buffet.
Também pouco se comentam suas inúmeras reprovações em testes de elenco para peças de teatro e o período em que morou no barco do então namorado Arduíno Colassanti, onde viviam “sempre nus e cozinhando peixe fresco na areia”, conforme revelou certa vez.
Os principais fatos e também curiosidades e casos sobre a vida da atriz estão no livro “Sonia em fotobiografia”, organizado pelo jornalista e designer Augusto Lins Soares, lançado pelos selos Sesc Edições e Cepe Editora.
Com aproximadamente 200 fotos de diversos autores - há registros de Bob Wolfenson, Lew Parrella, Greg Gorman, Steven Meisel, entre outros -, o livro acompanha a trajetória de Sonia desde o nascimento, em Maringá (PR), até os dias atuais, com os recentes trabalhos nos filmes “Aquarius” (2016, Kleber Mendonça Filho); “Bacurau” (2019, Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles) e “Casamento armado” (2022), de Jason Moore.
Os textos que associam as imagens ao percurso da atriz são assinados pela jornalista e roteirista Melina Dalboni. Mesmo com reconhecimento internacional - Sonia Braga foi indicada três vezes ao Globo de Ouro e foi a primeira brasileira a apresentar uma categoria do Oscar, em 1987, ao lado de Michael Douglas -, há pouco material biográfico disponível sobre a atriz. Grande parte das informações são de entrevistas que ela concedeu ao longo de seus 70 anos.
Essa carência de informações foi o que motivou Soares a organizar uma fotobiografia da atriz. “O único livro que traz informações e fotos sobre Sonia é do Antônio Guerreiro, que foi casado com ela durante dois anos. Ele publicou esse livro nos anos 1980, mas ele é mais próximo a uma revista, com fotos dela. Não tem um compromisso com a biografia ”, afirma.
Antes de dar início ao projeto, Soares pediu a bênção de Sonia, que concedeu com duas condições: não daria entrevistas e não queria fazer fotos novas. Aceitos esses termos, Soares deu início a um processo de pesquisa em bancos de imagens e em acervos de jornais e revistas. “Foi realmente um trabalho de garimpo”, diz ele.
Nessa etapa, o jornalista contou com a ajuda de Sonia, que cedeu o acervo pessoal que ela mantém em Niterói. Com um número razoável de fotos, ele foi montando uma espécie de quebra-cabeças. Algumas peças ficaram faltando.
“São aquelas fotos que a gente encontra, mas não têm o crédito do fotógrafo. Ou então aquelas que a gente encontra na internet e, quando vai até o acervo da revista ou jornal que publicou, ela não consta lá”, explica Soares.
Testes
O que ficou faltando, no entanto, foi bem costurado pelo texto de Dalboni. É por meio dele que o leitor fica sabendo que, antes de ser a grande estrela do musical “Hair”, de 1968, Sonia foi reprovada pelo diretor Ademar Guerra em todos os testes. Só conseguiu o papel porque a coreógrafa Marika Gidali disse ao diretor que precisava de Sonia porque ela sabia dançar.
Também consta no texto a informação que, por pouco, Sonia não integrou o elenco do filme “Roberto Carlos em ritmo de aventura” (1968), de Roberto Farias, e a banda Os Mutantes. O convite para participar do grupo de rock psicodélico partiu de Rita Lee, que ficou muito amiga da atriz quando Sonia ainda era assistente de palco de Ronnie Von, em 1966.
Sonia começou jovem no showbiz. Aos 14 anos, fez seu primeiro trabalho na TV, no programa “Jardim encantado”, da TV Tupi, e logo foi convidada para trabalhar com Ronnie Von. Paralelamente, encenava peças no ABC Paulista.
No final dos anos 1960, fez sua primeira participação em longa-metragem. Em “O bandido da luz vermelha” (1968), de Rogério Sganzerla, ela foi uma das vítimas do assaltante João Acácio Pereira da Costa, interpretado por Paulo Villaça.
Na sequência, Sonia estrelou “Hair”. O sucesso do musical rendeu a ela papéis importantes, como Carolina, protagonista do filme “A moreninha” (1970), de Glauco Mirko Laurelli; e Lídia Siqueira, da novela “Irmãos coragem” (1970).
Na esteira do sucesso das produções, a atriz passou a ser convidada para mais projetos. Entre eles, o programa infantil “Vila Sésamo”, uma coprodução da TV Globo com a TV Cultura. A atração foi a primeira adaptação do original "Sesame Street" fora dos EUA.
Em 1975, protagonizou a novela “Gabriela, cravo e canela”, da TV Globo. Interpretando a personagem criada por Jorge Amado, a atriz desafiou os padrões de beleza da época, pautados por cabelos loiros, pele e olhos claros e conquistou um assombroso sucesso.
Sedução
Sedução
“Quando a Globo comprou os direitos para adaptar ‘Gabriela, cravo e canela’, Jorge Amado ligou para o Boni, que era o superintendente de produção da TV Globo, e impôs uma condição: a personagem não deveria ser uma mulher sedutora, ou seja, de caras e bocas; e sim a própria sedução”, escreve Dalboni.
A partir de “Gabriela, cravo e canela”, Sonia passou a ser considerada sexy simbol. Fez diversos ensaios sensuais para revistas masculinas - um deles, inclusive, abre a fotobiografia organizada por Soares.
Entre os filmes e novelas marcantes na carreira de Sonia, o livro traz imagens de “Dona Flor e seus dois maridos” (1976), de Bruno Barreto; “O beijo da Mulher-Aranha” (1986), de Héctor Babenco; “Cidade do silêncio” (2006), de Gregory Nava. E participações dela em programas e séries de TV norte-americana, como no “The Cosby Show”, do comediante Bill Cosby, e na série “Sex and the City”.
“Sonia em fotobiografia” não se limita às cenas de filmes, séries e novelas protagonizados pela atriz. A publicação conta ainda com registros de croquis de vestidos que ela usou em cerimônias importantes de sua carreira, cartazes de alguns dos filmes de que participou.
Estão registradas ainda participações de Sonia em atos como o comício das Diretas Já, em 1984; a Ocupação Povo Sem Medo, de São Bernardo, em 2017, ao lado de Paula Lavigne, Caetano Veloso Alinne Moraes, Guilherme Boulos e Eduardo Suplicy; e o protesto #342 Amazônia, em 2019.
“Nós vivemos em um país onde a memória é muito pouco valorizada. Assim, a ideia do livro é registrar justamente a memória dessa artista, que é uma das maiores atrizes brasileiras”, afirma Soares.
“SONIA EM FOTOBIOGRAFIA”
•Organização: Augusto Lins Soares
•Edições Sesc e Cepe Editora (256 págs.)
•R$ 170
*Exemplares à venda no
site da editora
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