Considerado um dos mais importantes cineastas da história da sétima arte, Jean-Luc Godard, que morreu em setembro do ano passado, ganha homenagem do Palácio das Artes com a mostra “Adeus a Godard”, que entra em cartaz nesta quarta-feira (3/5), no Cine Humberto Mauro. Ao todo, sete longas-metragens do diretor serão exibidos até o próximo dia 16, contemplando diferentes fases de sua carreira.
A programação é gratuita e ainda vai contar com o minicurso “Godard, revolucionário da linguagem cinematográfica”, ministrado pelo francês Michel Marie, autor do livro “A Nouvelle Vague e Godard” e professor emérito da Universidade Sorbonne. As inscrições devem ser realizadas por meio do site do Palácio das Artes. A oficina será realizada na próxima sexta-feira e no sábado, das 14h30 às 17h em ambos os dias.
A mostra inclui alguns dos primeiros filmes de Godard, realizados nos anos 1960 – “Acossado” (1960), “O desprezo” (1963), “O demônio das onze horas” (1965), “Alphaville” (1965) e “A chinesa” (1967). Gerente do Cine Humberto Mauro, Vitor Miranda explica que a Cinemateca da Embaixada da França está com essas cópias restauradas em circulação pelo Brasil, e a Fundação Clóvis Salgado aproveitou para prestar esse tributo ao cineasta em Belo Horizonte.
“Godard morreu no ano passado por meio de suicídio assistido, o que acho que foi muito emblemático, algo muito comentado, porque diz muito sobre quem ele era: uma pessoa com total controle sobre a arte que produzia, que quis ter controle também sobre a própria vida e morte. Já era um desejo nosso fazer essa pequena homenagem, então aproveitamos essa circulação da Cinemateca da Embaixada Francesa”, diz.
Ele aponta que, em relação a obras assinadas por Godard, a programação se completa com outros dois filmes, mais recentes, selecionados pela curadoria do Cine Humberto Mauro – “Adeus à linguagem”, de 2014, e “Imagem e palavra”, de 2018. A proposta, conforme diz, é repensar algumas questões evocadas pelo cineasta ao longo de sua trajetória, por isso a inclusão de obras do início e do fim da carreira do diretor.
“Mais do que uma despedida, o que se pretende com essa mostra é um reencontro com as obras de Godard, com as cópias restauradas, sessões comentadas e o minicurso ministrado por Michel Marie. É uma oportunidade única de se assistir a esses filmes com o olhar da contemporaneidade. É uma homenagem curta – porque ele tem muitos filmes –, mas é bonita de se ver, porque traz o início e o fim da carreira”, pontua.
Fuller e Lang
Além dos filmes de Godard, a programação do Cine Humberto Mauro ao longo dos próximos dias é permeada por outras obras – algumas delas em diálogo direto com a filmografia do cineasta homenageado. É o caso dos filmes “Paixões que alucinam”, de Samuel Fuller, e “Os corruptos”, de Fritz Lang, que serão exibidos na faixa História Permanente do Cinema.“A escolha de Fuller e de Lang para integrar a mostra se deve ao fato de que os diretores eram muito admirados por Godard e foram fundamentais para seu pensamento sobre o cinema. Além disso, ambos aparecem nos filmes do francês em configurações metalinguísticas interessantes”, afirma Miranda.
O longa “Os pássaros”, de Alfred Hitchcock, na faixa Cinema e Psicanálise; duas sessões do 3º Prêmio Décio Noviello, com obras audiovisuais dos selecionados; a estreia do curta “Nossa mãe era atriz”, de André Novais Oliveira e Renato Novaes, na faixa Cinema Mineiro em Cartaz; o longa “Sexta-feira muito louca”, de Mark Waters, na faixa Sessão da Tarde; e o curta “Um vestido para ver a mamãe”, de Karen Suzane, na faixa Lançamento, também serão exibidos durante esse período.
Filmes em diálogo
São sessões especiais dentro da mostra, que não têm relação direta com Godard, mas que permitem diálogos com o cerne da programação, segundo o gerente do Cine Humberto Mauro. “Como temos sessões de terça a domingo, a gente faz essa composição, com pontes de programação. Godard fazia isso com o cinema dele, e a gente faz com a mostra”, diz.Ele observa que o cineasta franco-suíço sempre foi um grande experimentador da linguagem cinematográfica, que costumava subverter as produções hollywoodianas. Miranda destaca outros traços e elementos característicos da obra de Godard, que poderão ser aprofundados com a mostra e com o minicurso ministrado por Michel Marie.
“Além dessa questão de revisitar gêneros e tratar o cinema como uma ferramenta metalinguística, ele tinha uma coisa herdada do neorrealismo italiano, que é isso de ter uma câmera na mão e uma ideia na cabeça. Os cineastas do neorrealismo pegaram suas câmeras e foram filmar a realidade do pós-Guerra. Godard também fez, com seu cinema, esse comentário político baseado no contexto”, ressalta.
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O gerente do Cine Humberto Mauro chama a atenção para o caráter experimental que está presente nos filmes que Godard realizou nos anos 1960 e que surge potencializado nas duas obras mais recentes incluídas na mostra. “Essa grande experimentação de linguagem ainda não havia sido vista até aquele momento em que Godard lançou seus primeiros filmes. E esse traço está muito presente em ‘Adeus à linguagem’, por exemplo, que vamos exibir em 3D, como foi concebido”, pontua.
O minicurso “Godard, revolucionário da linguagem cinematográfica” se insere na programação como um catalisador da experiência imersiva na obra do cineasta. “Vai ser bem legal, com a presença desse grande pesquisador, que escreveu muito sobre a obra de Godard e vai analisar exatamente esses filmes que estão na mostra, a produção dos anos 1960. É uma oportunidade incrível para o público ter acesso a esse conteúdo de forma gratuita”, diz Miranda.
Michel Marie, que lecionou na Sorbonne de 1972 a 2011, é considerado um dos mais proeminentes autores no campo da reflexão em história e teoria do cinema, e publicou vários livros sobre Godard. Lançado no Brasil pela Papirus Editora, “A Nouvelle Vague e Godard” talvez seja o mais conhecido deles.
Nouvelle vague
Dividida em duas partes, a obra inicialmente oferece ao leitor uma rigorosa apresentação histórica de um dos movimentos mais célebres do cinema mundial, a Nouvelle Vague, tomada como uma escola artística em sentido pleno. A princípio um slogan jornalístico, ela se tornou um conceito crítico e um modo de produção e difusão dos filmes.Na segunda parte do livro, o autor elege “Acossado”, o primeiro longa de Godard, como manifesto estético do movimento. A produção é analisada em todos os seus aspectos, desde sua gênese e as peripécias das filmagens até sua montagem e a recepção crítica, em março de 1960. Ao final, Michel Marie discute todas as inovações técnicas que transformaram o filme em marco decisivo do cinema moderno.
O minicurso que ele ministra vai se debruçar sobre os primeiros seis filmes realizados pelo cineasta, de “Acossado” a “A chinesa”, para analisar em detalhes as diversas linguagens e estéticas que modificaram a maneira de se pensar e fazer cinema. A oficina, que terá certificado de participação, é uma parceria do Cine Humberto Mauro com a Embaixada da França no Brasil, Cinemateca da Embaixada da França, Institut Français e Aliança Francesa.
JLG POR JLG
Confira as sessões dos títulos de Godard agendadas no ciclo dedicado ao diretor
» Quarta-feira (3/5)
• 15h – “Alphaville” (Jean-Luc Godard, França-Itália, 1965; 1h40). Classificação: 14 anos.
• 17h – “O desprezo” (Jean-Luc Godard, França-Itália, 1963; 1h44). Classificação: 16 anos.
• 19h – “O demônio das onze horas” (foto) (Jean-Luc Godard, França-Itália, 1965; 1h50). Classificação: 16 anos.
» Quinta-feira (4/5)
• 15h – “Acossado” (foto) (Jean-Luc Godard, França, 1960; 1h30). Classificação: 14 anos
» Sexta-feira (5/5)
• 14h30 – Minicurso “Godard, revolucionário da linguagem cinematográfica”, ministrado por Michel Marie
• 17h30 – “Imagem e palavra” (Jean-Luc Godard, França-Suíça, 2018; 1h25). Classificação:14 anos.
» Sábado (6/5)
• 14h30 – Minicurso “Godard, revolucionário da linguagem cinematográfica”, ministrado por Michel Marie
• 17h30 – “O desprezo” (Jean-Luc Godard, França-Itália, 1963; 1h44. Classificação:) 16 anos.
• 20h – “Alphaville” (Jean-Luc Godard, França-Itália, 1965; 1h40). Classificação: 14 anos.
» Domingo (7/5)
• 20h – “A chinesa” (Jean-Luc Godard, França, 1967; 1h36). Classificação: 16 anos.
» Terça-feira (9/5)
• 16h – “Adeus à linguagem” (foto) (Jean-Luc Godard, França, 2014; 1h10). Classificação: 16 anos. Exibição em DCP 3D
» Quarta-feira (10/5)
• 15h – “Imagem e palavra” (Jean-Luc Godard, França-Suíça, 2018; 1h25). Classificação: 14 anos.
• 17h – “Acossado” (Jean-Luc Godard, França, 1960; 1h30). Classificação: 14 anos.
» Quinta-feira (11/5)
• 20h – “O demônio das onze horas” (Jean-Luc Godard, França-Itália, 1965; 1h50). Classificação: 16 anos.
» Sexta-feira (12/5)
• 17h – “A chinesa” (Jean-Luc Godard, França, 1967; 1h36). Classificação: 16 anos.
• 19h – “Adeus à linguagem” (Jean-Luc Godard, França, 2014; 1h10). Classificação: 16 anos. Exibição em DCP 3D
» Sábado (13/5)
• 17h – “O demônio das onze horas” (Jean-Luc Godard, França-Itália, 1965; 1h50). Classificação: 16 anos.
• 19h30 – “Acossado” (Jean-Luc Godard, França, 1960; 1h30). Classificação: 14 anos
» Domingo (14/5)
• 18h – “Alphaville” (Jean-Luc Godard, França-Itália, 1965; 1h40). Classificação: 14 anos.
• 20h – “O desprezo” (Jean-Luc Godard, França-Itália, 1963; 1h44). Classificação: 16 anos.
» Terça-feira (16/5)
• 15h – “A chinesa” (Jean-Luc Godard, França, 1967; 1h36). Classificação: 16 anos.
“ADEUS A GODARD”
Mostra de filmes do cineasta, a partir desta quarta-feira (3/5) até 16/5, no Cine Humberto Mauro, no Palácio das Artes (Av. Afonso Pena, 1.537, Centro, 31. 3236-7400). Entrada franca.
“GODARD, REVOLUCIONÁRIO DA LINGUAGEM CINEMATOGRÁFICA”
Minicurso com Michel Marie, na sexta-feira (5/5) e no sábado (6/5), das 14h30 às 17h, no Cine Humberto Mauro. Inscrições gratuitas por meio de formulário disponível no site do Palácio das Artes.
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