Quando "Guardiões da galáxia" foi lançado, em 2014, o filme era um azarão. O Marvel Studios, então no décimo longa-metragem, apostava em personagens desconhecidos, que incluíam um guaxinim falante e uma árvore antropomorfizada. Sem estrelas no cartaz ou um diretor famoso, a produção era um risco à sequência de sucessos do estúdio.
Nove anos depois, a franquia chega ao terceiro capítulo, e os nomes Rocket Raccoon e Groot são populares. A esperança é que a continuação seja a melhor bilheteria de 2023 para o estúdio, que vive o maior momento de turbulência em 15 anos. Mas "Guardiões da galáxia Vol. 3", que estreia nesta quinta-feira (4/5), é um filme de despedidas – e o elenco sabia disso desde as filmagens.
"Foi uma produção mais emocional", diz Pom Klementieff, atriz que vive a heroína Mantis desde o segundo episódio da série. "Há uma cena mais para o fim em que nós (o elenco) estamos reunidos em um círculo e percebemos que era o último momento em que estávamos juntos. A emoção naquela hora é real, não é atuação."
O tom do filme acompanha o sentimento. Depois de duas aventuras dominadas pelo humor, o terceiro volume é mais sério. Os protagonistas se veem diversas vezes em situação de perigo, e um deles se encontra à beira da morte. Mesmo a trilha sonora, marca da franquia, começa com a versão mais deprimida de "Creep", do Radiohead.
Despedidas
Ao menos três nomes do elenco dão adeus aos personagens no filme: Zoë Saldaña, que interpreta a mercenária Gamora; Dave Bautista, que vive o musculoso Drax; e Karen Gillan, que faz a vilã tornada heroína Nebulosa.Diretor e roteirista de toda a franquia, James Gunn também está de saída. Ele vai chefiar a DC Films, rival da Marvel nos cinemas. O trabalho começa em 2025 com um novo filme do Superman, que ele dirige.
A promoção de Gunn na distinta concorrência é mérito do sucesso de "Guardiões da galáxia" na década. Mas a boa reputação com a equipe pavimentou o caminho. O clima de camaradagem dos filmes contaminou os sets de filmagem, e o elenco se uniu em torno dele.
Chukwudi Iwuji, que vive o vilão Alto Evolucionário no novo filme, diz em entrevista que a boa atmosfera do set faz parte das escolhas criativas do diretor.
"Gunn gosta de se cercar de pessoas que considere boas. A escolha não é feita com base só no talento ou valor de mercado, você tem que ser alguém que se relacione bem com os outros. As filmagens levam essa energia."
A amizade do diretor com seus atores afeta como os personagens são roteirizados. No caso de Mantis, Klementieff diz que o papel ganhou mais cenas de ação depois que ela pediu ao cineasta.
Segundo a atriz, o diretor mudou o desenvolvimento da heroína do segundo para o terceiro filme, conforme as necessidades da artista. Isso permitiu a ela ser mais que um alívio cômico na nova continuação.
Ela considera a mudança importante, dado o perfil emotivo do papel – em caráter literal, afinal, a heroína manipula emoções.
"Eu amo fazer a Mantis porque eu posso ser muito esquisita com a personagem, mas sempre há muito coração. Ela se importa muito com os amigos, que, no fundo, são tratados como sua família."
Quadrinhos
O trabalho de Gunn com o elenco também é importante para estabelecer novos personagens, que conseguem ser tão estranhos quanto os originais. É o caso de Adam Warlock, figura vivida por Will Poulter nesse terceiro episódio.O herói é apresentado como o mais poderoso representante de uma espécie de pele dourada, que foi vilã do segundo filme da franquia. A concepção vem dos quadrinhos, onde o personagem é um equivalente de Jesus Cristo da Marvel.
No filme de Gunn, porém, Warlock é tratado tanto como um adversário quanto um elemento de humor. A mistura permitiu ao ator dissolver o perfil divino do personagem, tornando-o mais acessível.
"Independentemente do quão malucas ficam as coisas em 'Guardiões da galáxia', tudo é estabelecido em um conceito de humanidade", afirma Poulter. "Com meu personagem, apesar de ele ser um tipo excêntrico, Gunn garante que esteja de acordo com o tom do filme."
Encontrar um balanço entre deus e homem em uma aventura espacial foi um dos desafios de James Gunn com o novo filme. Chukwudi Iwuji diz que foi orientado a viver o Alto Evolucionário de forma verdadeira, apesar das suas intenções megalomaníacas. Na história, o vilão busca desenvolver a sociedade perfeita.
"James (Gunn) insistia em que não fôssemos irônicos com os papéis, mesmo em momentos malucos. Assim, as falas mais inconcebíveis eram a base dos melhores momentos."
"GUARDIÕES DA GALÁXIA 3"
(EUA, 2023, 149 min.) Direção: James Gunn. Com Chris Pratt, Karen Gillan e Will Poulter. Em cartaz a partir desta quinta-feira (4/5) em salas dos complexos Cinemark, Cineart, Cinépolis e Cinesercla.
Sign in with Google
Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do Estado de Minas.
Leia 0 comentários
*Para comentar, faça seu login ou assine