Moreno Veloso e Bem Gil, de pé, lado a lado, posam para foto

Apresentação dos músicos nesta sexta (5/5) na capital mineira será no Sesc Palladium

André Hawk/Divulgação

Bem Gil se lembra com bastante clareza. Era o ano 2000, ele tinha 15 anos, estava no quarto, jogando videogame, quando Moreno Veloso, filho mais velho de Caetano, e com 28 anos à época, chegou com um disco autoral e a intenção de mostrá-lo para Gilberto Gil, pai de Bem.

“A gente brincou um pouco, mas, depois, ele foi para a sala para propriamente ouvir o disco com meu pai”, conta Bem. O garoto não participou da audição do que seria “Máquina de escrever música”, álbum de estreia de Moreno com os cariocas Domenico Lancelotti e Alexandre Kassin. 

“Só depois que o disco já estava pronto e chegou lá em casa que eu catei ele para ouvir”, diz Bem. “Eu costumo brincar que ele foi o ‘Chega de saudade’ para mim, que é aquela coisa que você ouve e, de repente, te dá um estalo no sentido de falar: ‘opa, se dá para fazer música desse jeito, eu quero fazer também’”, afirma.

A partir de “Máquina de escrever música”, Bem passou a ver Moreno de outra forma. O amigo, que constantemente estava na casa dele (Moreno é primo de Preta Gil, Maria e Pedro, irmãos mais velhos de Bem por parte de pai), virou uma referência musical para ele, que começou a acompanhar as apresentações de Moreno e todos os discos que ele lançava.

Depois de aprender a tocar violão com o músico Cézar Mendes, Bem enveredou definitivamente para a área da música. Formou a banda Tono, com os colegas  Rafael Rocha e Bruno Di Lullo, e Ana Cláudia Lomelino, sua atual esposa. Também integrou o grupo de apoio do pai. E, paralelamente, seguiu carreira como produtor musical e arranjador.
 

Convite

Em 2019, quando já era um músico consolidado, Bem Gil recebeu a proposta de fazer um show com algum outro artista que quisesse convidar.

“Pensei no Moreno na hora”, lembra Bem. “A gente já estava próximo em termos de trabalho. Em 2013, produzimos juntos um disco do meu pai. E, em 2017, eu o chamei para participar do ‘Refavela 40’, um projeto no qual a gente levou para o palco o repertório do disco ‘Refavela’, que estava fazendo 40 anos. Moreno fazia parte da banda nesse projeto”, relembra.

O resultado dessa parceria surgida em 2019  chega nesta sexta-feira (5/5) a Belo Horizonte, na forma do show “Bem Gil & Moreno Veloso”, que será apresentado no Grande Teatro do Sesc Palladium.

No palco, Bem se reveza entre violão, voz e guitarra, enquanto Moreno canta, toca instrumentos de percussão e, em determinados momentos, violão. 

É um verdadeiro ambiente para experimentação, conforme define o rebento de Gilberto Gil. São nos shows, afinal, que eles experimentam canções inéditas que pretendem gravar e lançar futuramente. 

Por essa razão, o repertório está sempre em mudança. Para a apresentação desta noite, por exemplo, Bem não soube dizer, na entrevista ao Estado de Minas, quais canções vão entrar. A única certeza que tem é que vai tocar pela primeira vez diante do público "Sempre bela", parceria com Moreno e ainda inédita.

Com a confiança de quem já faz shows neste formato há quatro anos, ele diz que é na passagem de som, horas antes da apresentação, que costuma decidir as músicas com o amigo. E mais: muito do que fazem no palco é fruto de improviso e experimentação.

“Como eu estou morando em Salvador e ele, no Rio de Janeiro, a gente só tem se encontrado na passagem de som. Mas, por sermos só nós dois, é muito mais fácil organizar isso na hora”, diz. 

“Além disso, como tenho essa experiência de acompanhar muita gente em shows, ter muitos repertórios ao mesmo tempo, consigo ter essa facilidade para acompanhar. Ele toca, eu vou atrás e dá certo. Parece até que foi ensaiado, mas é algo ali da hora”, afirma.

Por ter se dedicado à composição por mais tempo do que Bem, Moreno é quem tem o maior número de canções no repertório. Nos shows da dupla, sempre entram, além das inéditas apresentadas em primeira mão, canções dos discos “Máquina de escrever música”e "Coisa boa" (2014), primeiro álbum de Moreno após deixar o trio formado com Lancelotti e Kassin. 

Assim, não será surpresa de "Eu sou melhor que você", "I'm wishing", "Só vendo que beleza" e "Verso simples" fizerem parte do show desta sexta. Foi o disco “Coisa boa” que estreitou os laços profissionais entre Bem e Moreno. Durante a gravação do álbum, Moreno convidou Bruno Di Lullo e Rafael Rocha, respectivamente baterista e baixista da Tono, para gravar as linhas de bateria e baixo no novo projeto.

Vendo Moreno se aproximar dos músicos de sua banda, Bem se sentiu no direito de também se aproximar dos músicos que formavam o trio com Moreno no disco “Máquina de escrever música”, Lancelotti e Kassin. “Aí formou uma turma só, com muita afinidade entre si”, conta Bem.

Deusa do amor

Por se tratar de show autoral, “Deusa do amor”, uma das principais faixas do disco de estreia de Moreno, não entra no setlist. “Eu brinco que é o primeiro show do Moreno que ele não toca essa canção”, diz Bem, lembrando que a música presente no disco de estreia de Moreno é de Adailton Poesia e Valter Farias (1942-2020).

“No entanto, não dá para desconsiderar que a versão do Moreno não seja de autor, assim como as coisas que o João Gilberto fazia e vários outros intérpretes fazem nesse sentido de quase assinarem junto a composição por conta daquela interpretação. ‘Deusa do amor’ virou o símbolo de uma maneira de fazer música que também é característica do Moreno”, diz Bem.

BEM GIL & MORENO VELOSO

Nesta sexta-feira (5/5), às 21h, no Grande Teatro do Sesc Palladium (Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro). Ingressos à venda por R$ 60 (plateia 1 / inteira), R$ 50 (plateia 2 / inteira) e R$ 40 (plateia 3 / inteira) na bilheteria do teatro ou no site do Sympla. Meia-entrada na forma da lei. Informações: (31) 3270-8100.