“Mergulho” é o primeiro curta do Novo Coletivo. A estreia será neste domingo (7/5), às 19h, no Cine Santa Tereza. O filme é inspirado na peça homônima de Rita Clemente, que, devido à pandemia, teve o roteiro adaptado para curta-metragem.





A trama aborda a história de dois irmãos com personalidades opostas, assombrados por um conflito mal resolvido do passado.

A antiga casa da família é lar da protagonista e guarda em seu quintal uma enorme e profunda piscina, que afoga em sua imensidão as angústias dos personagens.

Da dramaturgia ao audiovisual, o filme é resultado de criação coletiva e do desejo de o grupo explorar as linguagens do cinema. "Mergulho" estreou no teatro em 2019.

Durante os 29 minutos, acompanhamos Márcia, a aniversariante do dia, que ainda vive na casa de sua infância, lugar que abrigou momentos inesquecíveis compartilhados com o irmão mais novo, Luís. Acomodada e retraída, a mulher sai da rotina para receber os poucos convidados, que todos os anos fazem questão de parabenizá-la pela data especial.





O primeiro a chegar é o irmão. Ele não desconfiava que Márcia havia tampado o buraco de infiltração no chão da sala com o sofá em que estava sentado. O problema é causado pela piscina escondida aos fundos da casa, construída para treinar Luís, que poderia se tornar campeão de natação.

“A água vaza aos poucos e aumenta a infiltração, o que afeta a casa. Isso, para mim, representa a maneira como os problemas que ignoramos se infiltram no nosso inconsciente, na nossa vida e causam danos às vezes, irreparáveis”, explica a diretora Rita Clemente.

Choque de valores

Na disputa silenciosa por sucesso, os irmãos construíram personalidades diferentes. “No rapaz há um valor estridente e artificial, ele lida com a vida de uma maneira a se encaixar à moda. Ele tem a necessidade de sempre querer fazer parte de algo que supostamente parece novo”, descreve Rita.





“Já a mulher lida com valores diferentes. Ela pensa em como se manter aonde está, sem fazer mudanças para não correr riscos”, completa.

A trama se desenvolve na tentativa de compreender em que momento o forte elo dos irmãos foi desmantelado.

Como inspiração filosófica, a diretora cita “Genealogia da moral”, de Nietzsche. Nesse contexto, há bem e mal, dominação e repressão e o questionamento: “Qual o filho favorito?”. Para Rita Clemente, a casa e a piscina são a materialização do problema mal resolvido e ignorado pelos irmãos durante anos.

“Sempre busquei referências na filosofia, mas queria escrever algo que se encaixasse na realidade, com personagens comuns, com os quais as pessoas pudessem se identificar”, diz ela.

O roteiro do espetáculo começou a ser escrito em 2017, quando Bruno Figueroa e André Senna, atores do Novo Coletivo, convidaram Rita Clemente para construírem um roteiro. Eles se conheceram em cursos ministrados pela diretora.





Em 2018, os atores subiram ao palco acompanhados por Flávia Pyrama para estrear o drama no CCBB BH. Com sessões esgotadas, a peça foi bem recebida pelo público, que curiosamente apontava as características cinematográficas das cenas possuíam.

Pandemia alterou planos

O plano era fazer turnê pelos teatros do Brasil, mas em 2020, com a chegada pandemia, os rumos de “Mergulho” foram alterados.
 
“A primeira coisa que fizemos foi entender as demandas que tínhamos. Não seria apenas a adaptação da história, seria também a adaptação do tempo. Precisávamos transformar uma peça de uma hora em uma gravação de30 minutos”, descreve Bruno.

Assim, foram adicionadas novas camadas, como fotografia, sonografia e, posteriormente, a montagem e a edição do filme. Lucas Lanza foi responsável por ajudar Rita Clemente na adaptação do roteiro.





O filme deve circular por festivais no Brasil e exterior. Após a estreia neste domingo, “Mergulho” segue em cartaz na plataforma Teatro para Alguém, no período que vai de 10 de maio a 30 de junho.

“MERGULHO”

Curta-metragem do Novo Coletivo. Direção de Rita Clemente. Estreia neste domingo (7/5), às 19h, no Cine Santa Tereza (Rua Estrela do Sul, 89, Santa Tereza). Ingressos gratuitos, disponíveis para retirada no site Sympla e na bilheteria do teatro 30 minutos antes da sessão.  
 
* Estagiária sob a supervisão da subeditora Tetê Monteiro

compartilhe