Pintura de Iramara mostra senhora negra sentada numa cadeira, como trono, usando coroa na cabeça. A cadeira está num quintal e galinhas passeiam em volta dela

Pinturas de Iramara retratam vivências, identidade e ancestralidade dos afro-brasileiros

Reprodução

Em sua primeira exposição solo, Iramara, de 29 anos, apresenta 18 telas com diversos questionamentos sobre a sociedade. Inspirada em vivências pessoais e coletivas, as obras abordam temas como padrão de beleza, identidade da população negra no Brasil e representatividade.

 
“Djamila discute a formação das identidades no país a partir da colonização e da escravização, e de como elas foram forjadas. A partir daí, peguei fotos minhas para criar vários autorretratos”, conta Itamara.

Cabelo alisado

A partir de documentos pessoais, como CNH, RG e carteira de trabalho, ela cria autorrepresentações que parecem retratar pessoas distintas. “Em algumas telas, estou com o cabelo alisado, já em outras apareço com o cabelo natural. O cabelo natural simboliza o momento em que tomo maior consciência da minha identidade, de que sou uma pessoa preta em um país escravista”, afirma.

Para tratar da ancestralidade, a artista se volta para a experiência familiar. Em uma das telas, a pintura de sua avó é sobreposta pela capulana, tecido muito utilizado pelas mulheres de Moçambique.

Em outra obra, Iramara coloca a imagem de Narciso ao lado da figura da mulher negra. A proposta é discutir os lugares de subalternidade em que a identidade afro-brasileira é colocada.

“Os questionamentos que trago dizem respeito à busca pela igualdade tanto de gênero quanto de raça”, diz.

Na mostra, Iramara também discute o apagamento de corpos negros, por meio da imagem de uma mulher negra ao lado de outras figuras femininas da história da arte. A artista também reflete sobre a representatividade com a pintura de abayomis.

“Abayomi é uma boneca preta feita de retalhos. Com ela, volto novamente para uma história minha. Na infância, nunca tive uma boneca preta. Na verdade, tive muitas Barbies, mas uma boneca que fosse parecida comigo eu nunca tive”, relembra.
 

Sofrimento

A artista propõe que as pessoas não olhem para suas pinturas passivamente. “Minhas vivências pessoais também são coletivas. Não sou só eu que sofro com os padrões de beleza ou com a falta de representação”, diz, enfatizando que esse sofrimento é comum às mulheres negras. Formada pela Escola de Belas Artes da UFMG, Iramara é professora, além de artista plástica.

IRAMARA

Pintura. Exposição “Antecess, õri”. Galeria do Minas 2 (Avenida dos Bandeirantes, 2.323, Serra). Aberta de segunda a sexta, das 6h às 22h; aos sábados, das 6h às 20h; e aos domingos e feriados, das 6h às 19h. Até 11 de junho.

* Estagiária sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria