O dono dos quase 400 exemplares é José Marcos Ramos, leitor assíduo do "Estado de Minas". Ao deparar com a reportagem especial sobre os 80 anos do livro publicada no caderno “Pensar”, ele decidiu mostrar as preciosidades que coleciona desde 1968.
Pouco tempo depois, ele adquiriu sua primeira edição brasileira. Aqueles dois exemplares fazem parte da coleção até hoje, embalados cuidadosamente em sacos plásticos, ao lado de publicações árabes, japonesas, chinesas, húngaras, espanholas... Uma delas traz hieróglifos, a escrita do Egito Antigo.
A intenção de formar a coleção surgiu três anos depois, quando o jovem José viajou para a Argentina e escolheu uma edição em espanhol como recordação.
“Não gosto muito desses enfeites como lembrancinha. Então, resolvi trazer uma cópia do livro”, ele conta. E passou a fazer isso em suas viagens, todas as vezes que podia.
Mensagem de amor e amizade
Para José Marcos, é bonita a forma como “O pequeno príncipe” fala sobre amor e amizade para crianças e adultos. variedade do acervo reunido por ele surpreende. A coleção é reflexo do interesse especial de seu interesse por dialetos. Há até o exemplar vindo da colônia alemã brasileira, com sua escrita diferente. São tantas adaptações que José não sabe dizer quantas línguas e dialetos estão reunidos em suas estantes.
“Um grande poder (do livro) é não deixar os dialetos morrerem. Acontece no mundo inteiro de fazerem edições traduzidas para preservar uma língua”, explica. Esta é a maior qualidade de “O pequeno príncipe”, na opinião dele.
Ao ser perguntado sobre o exemplar que teve a maior dificuldade de adquirir, José revela que não houve muitos empecilhos para consegui-los. Reunir tantas edições foi uma tarefa que ele não realizou sozinho. Por meio da internet, conheceu outros colecionadores, que trocam exemplares entre si. Parentes e conhecidos também contribuíram.
Ainda assim, há aquela edição que José Marcos procura por 10 anos. Trata-se da reprodução de uma cópia feita à mão. Uma estudante de Praga, capital da República Tcheca, conseguiu emprestado de uma amiga o exemplar de “O pequeno príncipe”. Como teria de devolvê-lo, copiou-o. Apesar dos contatos de José naquela região, esta versão ainda não se juntou a seus 400 livros.
Com tantas línguas, é natural que algum momento da história seja traduzido de maneiras diferentes. A famosa frase “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas” é exemplo notório disso.
“Le petit prince”, na versão francesa original, traz o “cativas” como “apprivoisé”, no sentido de domesticar um animal selvagem – analogia para fazer amizades. Em espanhol, o termo “domesticado” segue o mesmo raciocínio.
A jornada de “domesticar” e cuidar de tantos livros para as futuras gerações não é cumprida apenas pelo brasileiro. José nos conta que um de seus colegas, Jean-Marc Probst, tem mais de 6 mil edições de “O pequeno príncipe”. Há até um instituto voltado para a preservação dos exemplares. Os dois costumam trocar as preciosidades.
Conexão com escolas e professores
Além de colecionar, José Marcos contribui para a educação de crianças. Seu acervo é disponibilizado para escolas e professores, que podem entrar em contato com ele por e-mail (jramos871@gmail.com).
A ideia surgiu quando a sobrinha professora lhe solicitou que apresentasse a coleção aos alunos dela, que, aliás, é responsável por etiquetar os exemplares reunidos pelo tio.
José Marcos Ramos escreve livros infantis. Mas já traduziu ou criou sua própria versão para o encontro entre o principezinho e o piloto do avião que caiu no Saara?
Pois a edição brasileira de “O pequeno príncipe e o coronavírus”, adaptação da história aos momentos de pandemia, exibe na capa o nome de José Marcos Ramos como tradutor oficial.
* Estagiário sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria
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