No primeiro tapete vermelho do 76º Festival de Cannes, ontem (16/5), o habitual público que se aglomera para ver de perto as celebridades estava diferente. Várias eram as pessoas que, além de canetas e celulares, seguravam também cartazes com os dizeres “Viva Johnny”.
A escolha de “Jeanne du Barry” para abrir Cannes foi coberta de polêmicas desde o seu anúncio, devido às denúncias de violência doméstica que recaíram sobre Depp. Ele saiu vitorioso do tribunal americano, mas não ileso do tribunal das redes sociais.
O público e a indústria se dividiram entre os apoiadores dele, dela e de nenhum dos dois. O ator parou várias vezes ao longo do tapete vermelho para tirar selfies e dar autógrafos. Foi recebido, na escadaria que leva ao teatro, pelo diretor do festival, Thierry Frémaux, que disse estar interessado em Johnny Depp enquanto ator, não em sua vida pessoal.
Dentro do teatro, acompanhado da diretora Maïwenn, Depp foi recebido por uma longa salva de palmas. “Jeanne du Barry”, provavelmente mais por acaso que por intenção, usa a onda de curiosidade para engrandecer ainda mais sua trama, de tons épicos escancarados já nos créditos iniciais, acompanhados de trilha sonora pesada.
Renegada na guilhotina
Não é para menos. Afinal, está ali uma das figuras mais curiosas e romantizadas da corte francesa, a condessa Du Barry. De criança pobre a cortesã de luxo e, depois, de amante preferida do rei Luís XV a vítima da guilhotina revolucionária, Marie-Jeanne Bécu teve uma trajetória que se enquadra no velho conto do renegado que, contra tudo e contra todos, sobe na vida.
Material perfeito para Hollywood.
Só que “Jeanne du Barry” não é Hollywood. É francês, como o festival no qual estreia, e traz Depp pela primeira vez numa produção do país, falando numa língua estranha a ele. O sotaque às vezes aparece, mas nada que incomode – pelo menos os não nativos.
Não apenas Depp é alvo de polêmica: Maïwenn, a própria diretora e protagonista de “Jeanne du Barry”, foi denunciada por agressão por um conhecido jornalista francês, Edwy Plenel.
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Outra polêmica: sexo com adolescentes
Para o Festival de Cannes, no qual 21 longas concorrem à Palma de Ouro, são esperados outros dias de polêmica, como a que cerca a filmagem de um dos concorrentes, “Le retour”. Sua diretora, a francesa Catherine Corsini, é criticada por ter se excedido durante as gravações, que põem em cena uma história de sexo entre adolescentes. O longa será exibido nesta quarta-feira (17/5), quando começam as sessões dos selecionados para a competitiva.
Para além das polêmicas, o festival assume este ano o papel de ponte entre toda uma grande geração de cineastas e intérpretes, alguns já octogenários, e seus sucessores.
“Eu me pergunto como consegui durar tanto tempo", disse Michael Douglas, de 78, ao receber a Palma de Ouro honorária, ovacionado pelo público. A homenagem ocorreu na abertura do evento, que teve mestre de cerimônias a atriz francesa Catherine Deneuve.
Até seu encerramento, em 27 de maio, Cannes receberá estrelas como Harrison Ford, de 80, que apresentará o quinto e possivelmente último filme como Indiana Jones (“Indiana Jones e a relíquia do destino”).
O diretor Martin Scorsese, de 80, exibirá em Cannes seu filme mais recente, “Killers of the flower moon”, sobre uma série de assassinatos de indígenas nos Estados Unidos nos anos 1920, com Leonardo DiCaprio e Robert De Niro.
A lenda do cinema britânico Ken Loach, de 86, tentará conquistar sua terceira Palma de Ouro com “The old oak”,de forte teor social. O italiano Marco Bellocchio, de 83, exibe “Rapito”, filme que mostra o sequestro de um menino judeu para que receba educação como cristão em meados do século 19 na Itália.
Cannes também abre espaço para a geração seguinte, como o diretor americano Wes Anderson, que recorreu a um elenco de astros para “Asteroid City”: Tom Hanks, Scarlett Johansson, Willem Dafoe, Margot Robbie.
Recorde de mulheres
Dos 21 cineastas que disputam a Palma de Ouro, sete são mulheres – um recorde para o maior festival de cinema do mundo. O júri é presidido pelo sueco Ruben Ostlund, premiado em 2022 por “Triângulo da tristeza”.
Ostlund afirmou que apoia a greve dos roteiristas de Hollywood. “Acho ótimo que as pessoas se sintam parte de algo coletivo e façam greve”, disse. A greve, que comprometeu várias filmagens, começou em 3 de maio após o fracasso das negociações coletivas com os principais estúdios de Hollywood.
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