A participação brasileira em Cannes começa efetivamente na sexta-feira (19/5), quando serão exibidos dois documentários, ambos fora de competição. O primeiro é “Nelson Pereira dos Santos – Vida de cinema”, de Aida Marques e Ivelise Ferreira, destaque da mostra Cannes Classic. Ivelise é viúva do cineasta, para muitos o “pai” do Cinema Novo, que debutou na Croisette em 1964, com “Vidas secas”.





No mesmo dia, Kleber Mendonça Filho retorna ao festival com seu primeiro filme desde “Bacurau” (2019, prêmio do júri em Cannes). “Retratos fantasmas”, que será exibido na chamada Sessões especiais, é um documentário sobre o Centro Histórico do Recife e seus grandes cinemas – grandes no passado, pois a maior parte deles desapareceu.

Karim Aïnouz na mostra competitiva

O domingo (21/5) é o dia de gala, com a première de “Firebrand”, produção britânica dirigida por Karim Aïnouz e um dos 21 concorrentes à Palma de Ouro. Ao Estado de Minas, quando a seleção de Cannes foi anunciada, o diretor cearense afirmou quão importante é a disputa.


“Não só para o filme, mas para a trajetória da minha vida, do meu trabalho. Comecei no festival lá atrás (seu primeiro longa, 'Madame Satã', de 2002, competiu na mostra Um Certo Olhar). Cannes é plataforma muito importante para um filme, e também para mostrar o cinema do Brasil.”





 

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Aïnouz, que saiu de Cannes em 2019 com o prêmio da mostra Um Certo Olhar para “A vida invisível”, foi convidado para dirigir o projeto centrado na sexta e última mulher do monarca inglês Henrique VIII (papel de Jude Law). Catarina Parr (Alicia Vikander) foi a única delas que sobreviveu ao déspota, que mandou decapitar duas esposas.


O outro longa que integra a seleção oficial é “A flor do buriti”, da brasileira Renée Nader Messora e do português João Salaviza, sobre a resistência do povo indígena krahô. Está na seção Um Certo Olhar e será exibido na terça-feira (23/5).

 

"A flor do buriti", filme de João Salaviza e Renée Nader Messora, será exibido na mostra Um Certo Olhar e aborda a luta dos indígenas krahô por sua terra, no Tocantins

(foto: Embaúba Filmes/reprodução)

'Levante' na Semana da Crítica

No mesmo dia, o Brasil será destaque em uma mostra importante que não faz parte da seleção oficial, a Semana da Crítica. Longa de estreia da diretora Lillah Halla, “Levante” é protagonizado por Ayomi Domenica, de 24 anos, filha da empresária Eliane Dias e do rapper Mano Brown.





Ela é Sofia, jovem de 17 anos, ótima jogadora de vôlei, em vias de conseguir uma bolsa para estudar fora do Brasil. No meio do processo descobre que está grávida – gravidez resultante de uma relação de violência.


“A confirmação vai ser um choque completo. O filme vai mostrar como isso afeta a vida e o corpo dela, a relação com o pai, os amigos e o time. A nova situação pode mudar tudo em relação a seu sonho, a sua perspectiva de futuro”, comenta Domenica. O elenco traz três atores conhecidos do público mineiro: Grace Passô, Gláucia Vandeveld e Rômulo Braga.

 

A atriz Ayomi Domenica, filha de Mano Brown, faz o papel de jovem atleta grávida no filme 'Levante', que será exibido na próxima terça-feira (23/5) em Cannes

(foto: Wilsa Esser/divulgação)
 

Filha de Mano Brown vai a Cannes

Domenica embarca na quinta (18/5) para Cannes, onde vai assistir ao filme pela primeira vez junto do público. “Estou muito feliz, tenho absoluta convicção de que dei o meu melhor. Trabalhei com uma equipe de excelência. Espero que o festival dê mais luz ao meu trabalho como atriz”, acrescenta ela, contando que tudo mudou desde sua estreia, uma década atrás, em “Na quebrada”, filme de Fernando Grostein Andrade.


“Houve uma evolução muito interessante em relação à dramaturgia. Até pouco tempo atrás, personagens negras tinham pouca profundidade. Hoje existem produções mostrando que personagens negras podem viver qualquer tipo de contexto, milhões de dramas humanas fora dos estereótipos. Elas podem ocupar papéis de protagonismo em situações diversas, não só aquelas de vulnerabilidade social”, afirma a atriz.

 

O Brasil também se faz presente em Cannes com dois curtas: “Solos”, de Pedro Vargas, e “Camaleoa”, de Eduardo Tosta.

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