'Hoje somos Dado e Bonfá fazendo 'As V estações', comemorando simplesmente este repertório. Nunca voltamos com a Legião, que acabou quando o Renato morreu'
Dado Villa-Lobos, guitarrista
Desde 2015, quando formaram uma banda para celebrar os 30 anos do lançamento do álbum de estreia da Legião Urbana, o guitarrista Dado Villa-Lobos e o baterista Marcelo Bonfá fizeram duas turnês em torno do repertório dos três primeiros discos do grupo. “Acho que esta banda já fez mais shows do que a Legião em toda a sua história”, comenta Dado, de 57 anos.
Os músicos que acompanham desde então a dupla remanescente da Legião – que acabou oficialmente em outubro de 1996, logo após a morte de Renato Russo – são André Frateschi (voz), Lucas Vasconcellos (guitarra) e Mauro Berman (baixo e direção musical). O tecladista Pedro Augusto é a novidade na terceira turnê do grupo.
Neste sábado (20/5), o sexteto sobe ao palco do Arena Hall para a quarta apresentação da turnê “As V estações”. Se seguirem o exemplo das anteriores – a primeira, em torno do álbum “Legião Urbana” (1985), teve mais de 100 datas entre 2015 e 2016; e a segunda, com o repertório de “Dois” (1986) e “Que país é este” (1987), entre 2018 e 2019, chegou próximo de uma centena de shows –, eles ficarão na estrada por mais de um ano.
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Só que agora o papo é outro, mais especificamente os álbuns “As quatro estações” (1989) e “V” (1991). “Chega de 'Que país é este'”, comenta Dado. “Essa música, esse fantasma não abandona a gente desde 1978. É uma música que traduz o Brasil do abismo. Já deu, não cabe na espiritualidade deste projeto (que reúne repertório) de um lado mais experimental e adulto. Estamos mantendo os arranjos originais, mas também alguns improvisos. Cada show é uma nova emoção.”
Nascido de alguns traumas, “As quatro estações” é o álbum mais vendido da Legião. Internamente, a banda sofria um revés com a demissão do baixista Renato Rocha. E ainda não havia se curado do trauma de junho de 1988, quando uma onda de violência no show no Estádio Mané Garrincha, em Brasília, resultou em prisões, muita gente ferida e no momento de ódio e desprezo à banda.
A Legião Urbana nunca mais tocou em sua cidade natal, Brasília. Levou um ano (e muitas brigas internas) para conseguir finalizar o disco. “Hoje, temos distanciamento para entender o que vivemos na época”, acrescenta Dado. “Olhando em retrospectiva, a Legião teve trajetória espremida em uma década e pouco”, diz Bonfá, de 58 anos.
“A gente era muito novo, muita coisa estava acontecendo no Brasil dos anos 1980 e a gente junto daquilo. O Renato (na época da gravação de 'As quatro estações') estava meio instável, inseguro. Ele pegava livros de Buda nos hotéis e eu, que falo de espiritualidade desde pequeno, acabei o levando para o campo espiritual. 'As quatro estações' vendeu muito, o 'V' é um disco bem diferente, tem coisas mais 'viajandonas', experimentais. Acho que tem tudo a ver com os dias de hoje”, acrescenta o baterista. Foi ele quem batizou a nova turnê de “As V estações”.
O repertório dos shows mistura os dois álbuns: estarão no palco canções com “Há tempos”, “Pais e filhos”, “Quando o sol bater na janela do teu quarto”, “Meninos e meninas”, do disco de 1989, e “Vento no litoral” e “O mundo anda tão complicado” de seu subsequente.
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Lados B que foram pouquíssimo tocados também integram o set list, como “Eu era um lobisomem juvenil” e “Sete cidades”. Sucessos de outros discos da Legião ainda estarão no show. Dado, por exemplo, está cantando “Índios” (1986).
“O Renato era um cantor espetacular, ninguém chega perto dele. Mas o que vale é a interpretação e escolhi as músicas que queria, pois acho que elas estão dentro da gente”, diz Dado. “Tem algumas músicas que nunca chegamos a cantar com o Renato”, acrescenta o guitarrista, afirmando que foram maravilhosos os três shows realizados até agora (Sorocaba, São Paulo e Brasília). “O público tem sido fabuloso e a dinâmica entre 'As quatro estações' e 'V' é mais elaborada.”
Em dado momento da apresentação, Bonfá deixa as baquetas a cargo de André Frateschi e assume os vocais. Uma das canções que defende é “Se fiquei esperando meu amor passar”. “O André gosta de dizer que começou a tocar bateria por minha causa”, conta ele. A banda que acompanha a dupla começou a ser formada depois que os dois viram o vocalista fazendo o show em que interpretava David Bowie.
O retorno ao repertório da Legião começou a ser desenhado em 2010, 14 anos após o fim do grupo. “Foi com uma banda do Uruguai que decidiu homenagear o grupo”, conta Bonfá. No ano seguinte, durante o Rock in Rio 4, os dois músicos participaram do tributo ao grupo com a Orquestra Sinfônica Brasileira. Em 2012, foi organizada nova homenagem, agora com o selo “MTV ao vivo”, com Wagner Moura como vocalista.
Até agora, as turnês vêm refazendo, em ordem cronológica, os álbuns da banda. Pela discografia oficial, ainda há três de estúdio: “O descobrimento do Brasil” (1993), “A tempestade” (1996) e “Uma outra estação” (1997, lançado seis meses após a morte de Renato Russo).
Bonfá não passa o carro na frente dos bois. “Prefiro seguir a velha máxima do aqui e do agora”, diz ele, ao ser questionado se pretende, com Dado, rever toda a obra da banda. “Vivemos tudo no presente, para que esperar o depois?”.
Disputa nos tribunais
Voltando a 2015, quando Dado e Bonfá anunciaram a primeira turnê, ela se chamava “Legião Urbana 30 anos”. Era menção ao primeiro disco da banda, que também levava o nome dela.Na época, Giuliano Manfredini, filho de Renato, foi à Justiça demandando um terço dos lucros do projeto – ele é detentor da marca Legião Urbana. O imbróglio continua na Justiça – o round mais recente, de outubro de 2022, foi vencido pelos dois músicos. Mas eles não utilizam o nome da banda da qual fizeram parte.
“Nunca tivemos a intenção de usá-lo. O que chamamos de 'Legião Urbana 30 anos' era a turnê para celebrar as nossas vidas. Hoje somos Dado e Bonfá fazendo 'As V estações', comemorando simplesmente este repertório. Nunca voltamos com a Legião, que acabou quando o Renato morreu. Falei isso numa entrevista coletiva logo depois. Hoje fazemos uma grande homenagem a ele e a toda a nossa história”, finaliza Dado.
AS V ESTAÇÕES
Show com Dado Villa-Lobos, Marcelo Bonfá e banda. Neste sábado (20/5), às 22h, no Arena Hall (Avenida Nossa Senhora do Carmo, 230, Savassi) Pista: R$ 300 e R$ 150 (meia e meia social, via doação de 1kg de alimento). Arquibancada: R$ 200 (inteira 3º lote) e R$ 90 (2º lote, meia e meia social, via doação de 1kg de alimento). Ingressos à venda na bilheteria e no site sympla.com.br. Informações: (31) 97222-2424.
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