O Centro Cultural Lindeia Regina promove a primeira edição do evento A Coisa tá linda, A Coisa tá Preta, neste sábado (20/5), reunindo bandas independentes de rock e punk da Região Metropolitana de Belo Horizonte. A programação também inclui a mostra de filmes “Mulheres negras e o cinema”.
Produção independente composta exclusivamente por pessoas pretas, o evento tem o objetivo de destacar a voz dos negros no cenário do rock em BH.
O line-up reúne os grupos Seu Silva, Drastiko, Projeto MKUltra, Ogum e Zero A Esquerda. Serão exibidos os curtas-metragens “Noirblue – Deslocamentos de Uma dança” (2018), de Ana Pi; “Princesa do meu lugar” (2020), de Pablo Monteiro; e “Forrando a vastidão” (2021), de Higor Gomes.
Potência autoral
“Tem muita gente preta fazendo rock em BH, mas estamos todos segregados, não temos acesso às grandes casas de show. Nos unimos como forma de demonstrar a nossa potência enquanto bandas autorais e para mostrar que estamos aqui”, afirma Tiago Motta, idealizador do evento e integrante da banda Zero A Esquerda.
“Quando reparamos na cena independente e nos festivais da periferia, temos a presença de muitas bandas com integrantes pretos. Mas quando vamos para região central de BH, não é a mesma realidade”, diz.
Ouvindo Black Pantera, a banda de metal de Uberlândia que se apresentou no Rock in Rio, em 2022, e no Lollapalooza, este ano, Tiago Motta conta que teve “a epifania” que o levou a concretizar o evento.
Inspirado em festivais cariocas com a mesma proposta, ele já maturava a ideia do A Coisa tá Linda, A Coisa tá Preta há dois anos. Ela se viabiliza agora, em parceria com o Centro Cultural Lindeia Regina e articulações com a Prefeitura de Belo Horizonte, além de outros apoios.
Tiago diz que o evento nasce do questionamento sobre o porquê de bandas formadas por negros não ocuparem o mesmo lugar de outros grupos na cena da capital mineira.
“Black Pantera está em ascensão justamente por bater na tecla do antirracismo”, afirma. “Eles questionam a presença do racismo em diversos ambientes, inclusive no rock, se apresentam em grandes festivais por todo o país e são a nossa inspiração. Nos sentimos representados, tanto que escolhemos o nome do evento a partir do trecho de uma música deles”, afirma.
Minas e nordeste
Entre as cinco bandas que agitarão o centro cultural neste sábado está a Seu Silva, que nasceu do encontro de músicos nordestinos com mineiros em Ibirité, mesclando ritmos do folclore nordestino, literatura de cordel, cangaço, maracatu e rock.
Ogum representa a vertente de thrash metal, que tornou a Sepultura famosa. O projeto autoral MKUltra vem do hardcore punk underground de Betim. Zero A Esquerda, por sua vez, é banda de punk rock criada em 2005 por jovens da região do Barreiro. E a Drástiko faz parte da cena de hardcore de BH.
O rock é potente nos bairros da área do Barreiro. O evento “Rock da Regina”, que também ocorre no centro cultural, há anos vem abrindo espaço para grupos independentes da Região Oeste.
Zero A Esquerda é exemplo disso. Estreou no Santuário Rock Bar, no Lindeia, que abrigava o rock independente e alternativo na década de 2000.
A designer gráfica Cheila Xavier, moradora da região e criadora da identidade visual do festival, destaca a importância do evento. “Vamos fortalecer esta iniciativa para que ela consiga abraçar mais pessoas da comunidade, desenvolvendo a perspectiva do movimento negro dentro do rock.”
*Estagiária sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria
A COISA TÁ LINDA, A COISA TÁ PRETA
• Neste sábado (20/5), das 16h às 22h
• Centro Cultural Lindeia Regina,Rua Aristolino Basílio de Oliveira, 445, Regina
• Entrada franca
• Informações: @acoisatalindaacoisatapreta