Liam Neeson já vingou a morte ou salvou algum parente nas telas inúmeras vezes, mais notoriamente na franquia “Busca implacável”. Keanu Reeves, também, deu o pontapé inicial em “John Wick” ao ir atrás dos assassinos de seu cachorrinho. Não é novidade, portanto, que filmes de Hollywood gostam de pôr astros para correr atrás de gente que faz mal às famílias de seus personagens.
O que não é tão comum, porém, é a presença de mulheres protagonizando esse subgênero do cinema de ação. Por isso, “A mãe”, disponível na Netflix – líder do top 10 da plataforma no último fim de semana –, causa estranhamento. Todos os ingredientes desse tipo de história estão lá, mas colados ao rosto de Jennifer Lopez.
Fúria matriarcal
O longa abandona a fórmula do pai ou marido ferido para acompanhar a fúria matriarcal da mulher que, após anos sem contato com a filha, precisa deixar seu esconderijo justamente para protegê-la.
Sem nome, a personagem é simplesmente a “mãe” do título. Procurada por um grupo de criminosos, ela foi forçada a entregar a menina logo após o parto, devido a seu passado nebuloso e violento. Os anos longe, no entanto, não podaram seu instinto materno, termo visto hoje por alas do feminismo como controverso, mas que a diretora Niki Caro diz estar no cerne da trama.
“Essa é uma história sobre a mãe enquanto força primitiva. Nós estamos tão acostumados a ver, nos filmes, mães sendo afetuosas e acolhedoras, não exatamente interessantes, que este filme olha para um outro lado da maternidade. Fala da natureza animal, do instinto de proteção”, afirma a cineasta.
Diretora do live-action de “Mulan”, versão com atores para o clássico animado da Disney que aumentou a voltagem feminista já intrínseca à história chinesa, Niki Caro comemora a tomada do gênero de ação pelas mulheres – atrizes ou mesmo diretoras –, e considera importante a desconstrução da ideia de que as mulheres são frágeis, recatadas.
Niki Caro e os atores que servem de apoio a J.Lo – Joseph Fiennes e Omari Hardwick, no elenco ainda há Gael García Bernal – veem o filme como homenagem às figuras maternas de suas vidas.
“As mulheres nunca recebem o crédito que merecem. Quando há alguma fisicalidade envolvida num papel, ele vai para o homem. Esse filme mostra o quanto a indústria está mudando”, diz Hardwick, que interpreta o homem a quem a matriarca protagonista confia a filha após o nascimento.
Caro destaca, no entanto, que nenhuma mãe é perfeita. Por mais que jogue com a ideia de instinto materno, nenhuma mulher nasce sabendo como lidar com os filhos.
Adolescência, eterno desafio
A jornada da protagonista deixa isso claro, já que entre um chute e outro ela precisa lidar com o problema talvez muito maior que os criminosos na sua cola: a filha adolescente, uma estranha com quem quer desesperadamente se conectar.
“É incrível ver essa personagem, durona durante a primeira parte do filme, de repente ficar vulnerável diante de uma adolescente de 13 anos”, diz a diretora.
“Eu e a Jennifer temos filhos na mesma faixa etária, adolescentes, e é isso. Às vezes você acha que está arrasando e outras vezes você é um fracasso total”, confessa Niki Caro.
"A MÃE"
EUA, 2023. Direção de NikiCaro, com Jennifer Lopez, Gael García Bernal e Joseph Fiennes. Filme disponível na plataforma Netflix.
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