Burrinho em cena do filme Eo

Filme polonês "Eo", indicado ao Oscar este ano, conta a história de um burro e dialoga com "A grande testemunha", filme de Robert Bresson, também em cartaz no Indie

Indie/divulgação

Cinema de verdade, com maiúsculas, de ontem e de hoje. Um dos mais queridos eventos do gênero em Belo Horizonte – e responsável pela formação de muitos cinéfilos –, o Indie chega nesta quinta-feira (25/5) à 21ª edição. Como sempre, com grandes histórias, a maior parte delas inéditas, e de graça.

Pela primeira vez, o evento, cuja edição mais recente é de dezembro de 2021, será realizado nos cinemas do Centro Cultural Unimed-BH Minas. Até a próxima quarta (31/5), as duas salas vão exibir 21 longas de 13 países.

“Geralmente, o Indie passava os filmes uma vez, duas no máximo. O que é um desperdício. Como estamos em salas menores (cada uma com pouco mais de 40 lugares), vamos exibir os títulos três vezes”, comenta a curadora Daniela Azzi.

O festival também mudou de data – geralmente, era realizado no segundo semestre, sempre mais competitivo, por causa da Mostra de São Paulo e do Festival do Rio. “O Indie é como uma versão pequena deles. Antes, a gente tinha de competir com eles pelos mesmos filmes”, acrescenta Daniela.

Selecionados para a Berlinale

Nesta edição, o festival foi dividido em três programas. A Mostra Mundial reúne 10 títulos, todos estreantes no Brasil. Alguns são recentíssimos, vieram da seleção do Festival de Berlim, realizado em fevereiro.

“Music”, da cineasta alemã Angela Schanelec, inspirado no mito de Édipo, venceu o Urso de Prata de roteiro. O belga Bas Devos dirigiu “Here”, que levou dois prêmios na Berlinale, e mostra o encontro de dois imigrantes na Bruxelas atual.

Outros destaques de Berlim são dois filmes do mesmo diretor rodados no mesmo cenário. O português João Canijo lançou “Mal viver” (que levou o prêmio do júri na Berlinale) e “Viver mal”. “É muito interessante, pois é o hotel de uma família de mulheres. 'Mal viver' acompanha o drama da família e 'Viver mal' o dos hóspedes”, afirma Daniela Azzi.

O Indie vai exibi-los em sequência, mas em sessões separadas, como idealizou o diretor. O espectador poderá fazer a imersão nos dois títulos de uma só vez, ou pode assisti-los em dias separados.

Outro longa que também promete experiência cinéfila é o argentino “Trenque Lauquen”, de Laura Citarella, com quatro horas de duração. Mas a cineasta, inteligentemente, o dividiu em duas partes (também exibidas em sequência).

“É sobre uma pesquisadora, Laura, que descobre em uma cidade cartas de amor numa biblioteca. Ela é meio como Sherlock Holmes”, diz Daniela.

Outros títulos inéditos vão de produções de cineastas veteranos – como o francês André Techiné, de 80 anos, com “Almas gêmeas” – a estreantes, caso da mongol Qiao Sixue, com “The cord of life”, e do chinês Kong Dashan, com a comédia sci-fi “Journey to the west”.

Burros de Skolimowski e Bresson

Já a mostra Première promove pré-estreias de cinco longas prestes a chegar ao circuito. Entre eles está o polonês “Eo”, do cineasta Jerzy Skolimowski, indicado ao Oscar de melhor filme internacional, que entra em cartaz nas salas comerciais em 1º de junho. O longa é protagonizado por um burro, que apresenta sua visão bastante particular da Europa contemporânea.

O Indie fez a ligação de “Eo” com outro título, este um dos seis selecionados para a Sessão Clássica. Daniela explica: “O filme do Jerzy Skolimowski é meio que homenagem ao clássico 'A grande testemunha' (1966), do Robert Bresson (também centrado em um burro, o Balthazar). Ele, inclusive, disse que foi esse o último filme em que chorou. Mas os dois não têm nada a ver, além da ideia e da emoção que o animal traz”, finaliza Daniela Azzi.

INDIE FESTIVAL

• De hoje (25/5) a quarta-feira (31/5), nas salas de cinema do Centro Cultural Unimed-BH Minas (Rua da Bahia, 2.244, Lourdes).  Entrada franca. Programação completa: indiefestival.com.br

DESTAQUES

MOSTRA MUNDIAL

duas mulheres se abraçam no filme mal viver

'Mal viver": dramas femininos na família que administra hotel português

Indie/divulgação


“MAL VIVER” (Portugal, 2023)
O cineasta João Canijo realizou não um, mas dois filmes que têm o mesmo cenário: um pequeno e decadente hotel litorâneo ao Norte de Portugal, administrado por uma família de mulheres. Os homens se foram ou morreram. O relacionamento entre elas azedou. A história se complica com a chegada de uma neta, e os ressentimentos acumulados por anos vêm à tona. O filme levou o prêmio do júri do Festival de Berlim deste ano.
• Hoje (25/5), às 18h; sábado (27/5), às 16h; terça (30/5), às 18h10

Hospedes tomam sol no filme Viver mal

Filme 'Viver mal' segue hóspedes de um hotel em Portugal

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“VIVER MAL” (Portugal, 2023)

Exibido na Berlinale, o segundo filme de João Canijo deixa as mulheres que administram o hotel para escanteio e se concentra nos hóspedes. Mais solar do que seu par, traz referências a peças de dramaturgo sueco August Strindberg nas histórias do três grupos de pessoas que transitam pelo drama.
•  Hoje (25/5), às 20h30; sábado (27/5), às 18h30; terça (30/5), às 20h40
 
Mulher dirige carro no filme Trenque lauquen

Cientista desaparece no filme 'Trenque Lauquen'

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“TRENQUE LAUQUEN” (Argentina 2022)

O longa de Laura Citarella tem quatro horas, e a cineasta o dividiu em duas partes. A história começa com o desaparecimento da cientista Laura na pequena cidade argentina que dá título ao filme. Rafael e Ezequiel, apaixonados por Laura, começam a busca por ela – têm como pistas velhas cartas de amor e uma espécie floral. No entanto, essa história envolve mais enigmas do que eles podem imaginar – inclusive, envolvendo outras mulheres do local.
Sexta (26/5), às 16h (parte 1) e 18h30 (parte 2); segunda (29/5), às 17h30 (parte 1) e 20h (parte 2)
 
Casal conversa sentado no chão numa floresta

Casal de imigrantes protagoniza o filme 'Here'

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“HERE” (Bélgica, 2023)


Outro título proveniente do Festival de Berlim (dois prêmios para o diretor Bas Devos, incluindo o Fipresci, da crítica especializada). Dois imigrantes se encontram em Bruxelas (foto). Stefan é um trabalhador da construção civil prestes a retornar à Romênia natal de férias, mas sem saber se retornará para a Bélgica. Ele vai ao restaurante chinês local para a última refeição. Lá conhece ShuXiu, cientista que dá aulas de microbiologia na faculdade pela manhã e ajuda a tia no estabelecimento à noite.
• Sexta (26/5), às 18h10; domingo (28/5), às 16h; quarta (31/5), às 18h40

MOSTRA PREMIÈRE


“EO” (Polônia, 2022)
O longa do diretor Jerzy Skolimowski foi indicado ao Oscar de melhor filme internacional neste ano e, em 2022, venceu o prêmio do júri do Festival de Cannes. Eo é um burro. Nessa fábula contemporânea, o animal, dotado de espírito curioso, embarca em uma jornada incrível que passa pela Itália e pela Polônia.
• Hoje (25/5), às 21h; sábado (27/5), às 14h10; terça (30/5), às 15h
 
Homem conversa com outro homem nu, de costas, sentado na cama no filme Passages

Casal vive crise em 'Passages'

Indie/divulgação
 
 
“PASSAGES” (França, 2023)
O novo filme do diretor americano Ira Sachs, mais um título com roteiro do brasileiro Mauricio Zacharias, foi rodado em Paris. Depois de concluir seu último projeto, o cineasta Tomas (Franz Rogowski) inicia um caso de amor com a jovem professora Agathe (Adèle Exarchopoulous). A novidade de estar com uma mulher é experiência que ele deseja explorar, apesar de seu casamento com Martin (Ben Whishaw). Porém, quando Martin começa seu próprio caso, Tomas concentra suas atenções no marido (foto).
•  Hoje (25/5), às 19h; domingo (28/5), às 21h; quarta (31/5), às 15h
 
Atores Jean-Paul Belmondo e Jean Seberg conversam no filme 'Acossado'

Jean-Paul Belmondo e Jean Seberg no filme 'Acossado', que vai passar na Sessão Clássica

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SESSÃO CLÁSSICA

A seleção traz seis títulos, todos em cópias restauradas. Morto em setembro do ano passado aos 91 anos, Jean-Luc Godard será homenageado com o seminal “Acossado” (1960). Haverá quatro títulos também em preto e branco: “Stromboli” (1950), de Roberto Rossellini, “Hiroshima, meu amor” (1959), de Alain Resnais, “Estranhos no paraíso” (1984), de Jim Jarmusch, e “A grande testemunha” (1966), de Robert Bresson. Este último conta a história de Balthazar, um burro muito maltratado. Jerzy Skolimowski fez homenagem a esse clássico de Bresson com “Eo”, destaque da Mostra Première. Completando o time, a seleção exibe “O sangue” (1989), primeiro longa do cineasta português Pedro Costa.  Confira dias e horários em indiefestival.com.br