Foi com sua voz que Halle Bailey conquistou o papel de Ariel no live-action de "A Pequena Sereia", que estreia nesta quinta-feira. É fácil traçar um paralelo com a personagem. Na história, contada primeiro na animação de 1989, a sereia precisa recuperar a voz, roubada por uma bruxa, para alcançar um desejo.
Rob Marshall, o diretor do novo filme, teve certeza que Bailey daria uma boa princesa da Disney quando a viu soltar a voz ao lado de sua irmã mais velha, Chloe, no Grammy de 2018. Ligou para a atriz e perguntou se era Ariel quem estava do outro lado da linha.
Não demorou para Bailey se ver submersa numa polêmica. Em 2019, quando a Disney anunciou que a princesa Ariel seria interpretada por uma atriz negra, Bailey sofreu ataques racistas nas redes sociais. As hashtags #NotMyAriel --não é minha Ariel-- e #ArielIsWhite --Ariel é branca-- viralizaram no Twitter.
Bailey se acostumou. "Como uma pessoa negra, você já espera que essas coisas aconteçam. Deixa de ser um choque", afirmou em entrevista à revista The Face. "As pessoas não entendem que, quando se é negro, existe toda uma comunidade. É importante nos vermos nas telas."
Em resposta aos ataques, ela e a produção do filme tentaram manter sua negritude em evidência na personagem. Manteve, por exemplo, os dreads de seu cabelo, o que a atriz diz ser "espiritual para uma mulher negra."
Voz que encantou Beyoncé
A sereia é a primeira personagem de destaque de Bailey nas telonas. Antes, ela vinha ocupando os palcos e cantando. No Grammy em que foi descoberta, ela e a irmã concorriam nas categorias de artista revelação e álbum contemporâneo urbano pelo disco "The Kids Are Alright".
Mas foi com o álbum "Ungodly Hour", de 2020, que a dupla alcançou o estrelato de verdade. Mais maduro, o projeto as definiu não só como importantes nomes do R&B contemporâneo, mas as apresentou aos fãs de música pop a partir do hit "Do It".
Parte do sucesso do duo deve ser creditado à Beyoncé. Ela virou uma espécie de madrinha das irmãs depois que um cover de "Pretty Hurts", do disco "Beyoncé", foi gravado por Halle e Chloe, que à época tinham 11 e 13 anos, respectivamente.
Beyoncé logo contratou as garotas para sua gravadora, a Parkwood Entertainment, e em 2016 pediu que as pupilas abrissem shows da turnê "The Formation World Tour". A cantora também foi uma mentora para Bailey à época dos ataques.
Não é à toa que Beyoncé se encantou pela voz de Bailey. Qualquer um teria a mesma sensação, diz à Folha o premiado músico Lin-Manuel Miranda, que compôs as novas canções do live-action de "A Pequena Sereia".
"Halle é uma das melhores artistas do mundo, assim como sua irmã. Elas formam uma das duplas de R&B vivas de maior sucesso, então o fato de ela ser uma atriz maravilhosa é só a cereja do bolo. Faz todo o sentido que Úrsula, , roube sua voz."
Alan Menken, compositor que venceu o Oscar por uma das músicas da versão original de "A Pequena Sereia", faz coro e acrescenta que a atriz vai impressionar a todos. Ela tem mesmo sido elogiada pela crítica especializada.
Início da carreira
Bailey cresceu em Atlanta, nos Estados Unidos, com os pais, Chloe e mais dois irmãos. Atentos às cantorias dentro de casa, os pais se mudaram para Los Angeles, na Califórnia, onde oportunidades na música poderiam surgir com mais facilidade.
Ela tentou ser atriz quando era mais jovem e fez uma ponta na comédia "As Férias da Minha Vida", de 2006. Apareceu no ano seguinte num episódio da série "Tyler Perry's House of Payne" e, em 2018, foi escalada para o seriado "Grown-ish" por quatro temporadas.
Agora quer terminar seu primeiro disco solo, cujo esboço já foi ouvido por Beyoncé, e lançar também mais um álbum com a irmã. Ela volta a aparecer nos cinemas no final do ano em "A Cor Púrpura", remake do longa dirigido por Steven Spielberg nos anos 1980. É prova de que Bailey agora faz parte do mundo em que tanto queria estar, tendo um final feliz como sua sereia.