Você já viu esse filme: um homem e uma mulher são melhores amigos e, após muitas decepções com um ou vários parceiros, acabam descobrindo que estavam procurando o amor no lugar errado, sendo que ele estava ali do lado o tempo todo. Em “Amor platônico”, em cartaz no serviço de streaming Apple TV+, isso não vai acontecer.



“Eu acho que provavelmente isso arruinaria a série”, conta Seth Rogen, 41, à reportagem. Isso porque apesar da estrutura de comédia romântica, o tema principal aqui é outro: a amizade entre homem e mulher. Na trama, o ator interpreta Will, um mestre cervejeiro de vida desregrada que, após uma separação, volta a manter contato com Sylvia (Rose Byrne), sua melhor amiga da juventude.

Para quem acha que a amizade entre pessoas do sexo oposto sem segundas intenções é impossível, a dupla de protagonistas diz discordar. “As pessoas se projetam muito nesse tipo de relação e põem muito de sua própria bagagem ao falar do assunto”, avalia Rogen. “Quem critica está revelando muito mais da própria visão sobre a vida, os papéis que acha que cada gênero tem que desempenhar e as relações como um todo. Quem achar que uma amizade entre homem e mulher não é possível está simplesmente errado.”

Byrne afirma que essa é uma questão que está mudando diante dos nossos olhos. “Acho que é, em parte, algo geracional”, comenta. “A nossa geração provavelmente está melhor que a anterior e, entre os mais jovens, eles ligam menos ainda para os estereótipos de gênero e acham totalmente normal ser amigos sem ter relações físicas. A série é muito mais sobre as personalidades deles e como eles podem chegar a um bom termo na relação que não tem necessariamente os altos e baixos de um namoro.”





DOBRADINHA Os atores já haviam vivido um casal na comédia “Vizinhos” (2014), que ganhou uma sequência em 2016. Ambos os filmes foram dirigidos por Nicholas Stoller, que criou a série ao lado da mulher, Francesca Delbanco – a dupla é a mesma responsável por “Friends from College”, que teve duas temporadas na Netflix entre 2017 e 2019.

“Foi divertido, e acho que parte do apelo que me fez querer fazer a série”, conta Rogen. “Assim que começamos a gravar, percebemos que já conhecíamos o ritmo e entendíamos o tempo de comédia um do outro, mesmo sendo uma dinâmica completamente diferente. Isso foi o mais divertido, porque era parecido de muitas formas, mas estávamos fazendo personagens muito diferentes.”

Na série, Will e Sylvia não poderiam ser mais diferentes. Ela tem uma relação estável com Charlie (Luke Macfarlane) e deixou a carreira de lado para se dedicar à família. “Ela tem sido a principal cuidadora da casa e está saindo da fase de ter que acompanhar tudo dos filhos pequenos e da intensidade que isso tem, e então é confrontada com o que vem a seguir”, explica. “Minha sensação é de que ela está passando por uma crise de meia-idade, e tenho muitas amigas e amigos que se viram nesse lugar.”



Já Will vive como se nunca tivesse saído da adolescência. “Acho que temos em comum o desejo desesperado de parecer jovem e bacana, mas sou um pouco melhor em disfarçar isso”, brinca Rogen. “Ele se divorciou recentemente e está tentando recuperar o tempo perdido, o que justifica várias das péssimas escolhas que ele faz.”

RECONEXÃO Mesmo assim, a dupla se reconecta e, como costuma acontecer nas boas amizades, é como se o tempo não tivesse passado. “Acho que eles simplesmente gostam um do outro e se entretêm mutuamente”, resume Rogen sobre a relação. “A série tem muitas cenas que mostram como eles se divertem juntos e, mesmo que nem sempre seja a diversão mais produtiva ou saudável, você vê que eles genuinamente estão aproveitando.”

Para quem está de fora, no entanto, nem sempre é fácil de entender a dinâmica de uma amizade como essa. É o que ocorre com Charlie, que acaba enciumado em alguns momentos. “Ele se sente ameaçado porque percebe que ela se diverte mais com o Will”, explica Byrne. “Não é uma série infidelidade, mas quando Charlie começa a ficar paranoico com isso e passa a sentir inveja é muito divertido. Amo essa ideia porque sinto que nunca vi essa dinâmica em particular sendo abordada antes.”



Sylvia explica ao marido que acha mais fácil não ter que parecer dar conta de tudo na frente de Will, já que o amigo é ainda mais caótico do que ela. “Nesse ponto da crise que ela está vivendo, ela se sente muito vulnerável para se mostrar assim ao marido”, avalia a atriz. “Ela não está pronta, se sente envergonhada de não dar conta de tudo. Acho isso muito fácil de se identificar.”

A série não chega a esse ponto, mas na vida real – muitas vezes – é preciso fazer uma escolha entre amor e amizade, porque alguns parceiros simplesmente não dão conta de lidar com a situação. “Por que você teria que escolher?”, questiona Rogen. “Você até pode ser amigo de alguém e depois se apaixonar, mas espero que esse não seja um dilema que as pessoas precisem enfrentar.” (Vitor Moreno/Folhapress)

”AMOR PLATÔNICO”
Série com Seth Rogen, Rose Byrne, Luke Macfarlane e Carla Gallo. Disponível na plataforma Apple TV

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