'O trabalho reflete minhas vivências e as conversas ao meu redor. Enxergo as casas como museus pessoais, onde muitas histórias estão guardadas. A partir disso, proponho novas memórias'
Jabulani Dhlamini, artista plástico sul-africano
A periferia de Johanesburgo se encontra com a periferia de Belo Horizonte na exposição “Casa/iKhaya Lami”, do artista Jabulani Dhlamini, em cartaz na Mitre Galeria até 1º de julho. É a primeira mostra do autor sul-africano no Brasil.
O visitante vai se deparar com um conjunto de imagens por meio das quais Dhlamini examina criticamente as origens históricas, com implicações duradouras, de municípios na África do Sul e favelas no Brasil como construções coloniais, com foco em seu surgimento durante o colonialismo europeu.
A exposição é fruto da parceria da Mitre Galeria com a Goodman Gallery, que tem sede na cidade sul-africana, e contou com a intermediação do artista plástico mineiro Paulo Nazareth. Foi ele quem convidou Dhlamini para vir a Belo Horizonte, por meio do programa de residência com os criadores que encontra durante seus trabalhos pelo mundo.
Nazareth está presente na exposição com o vídeo “Old hope”, produzido na África do Sul com participação de Dhlamini. O local onde o mineiro mora – o Conjunto Palmital, em Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte – serviu de palco para o desenvolvimento do trabalho criado para a mostra.
Do Palmital a Soweto
Diretor da Mitre Galeria, Rodrigo Mitre explica que o sul-africano passou um mês convivendo com a comunidade do Palmital, interagindo e fazendo os registros fotográficos apresentados lado a lado com outros realizados em Soweto, cidade contígua a Johanesburgo que foi estabelecida em 1963, durante o apartheid, destinada aos negros.
“A Mitre bancou essa estadia do Jabulani. Ele diz que o Palmital e a periferia da cidade dele se parecem muito. As fotografias começam com o envolvimento com a comunidade, num processo de conversa e escuta. ‘Casa/iKhaya Lami’ propõe o paralelo entre trabalhos feitos em Soweto, durante a pandemia, e no Palmital”, diz Mitre.
Segundo ele, o título da exposição entrelaça dois termos distintos e interconectados: “casa” (lar, em português e espanhol) e “ikhaya lami” (“minha casa”, em zulu). A intenção é destacar o anseio humano universal por um lugar de pertencimento, segurança e enraizamento.
“A mostra investiga como a política espacial, que carrega consigo o legado histórico do colonialismo, do apartheid e das desigualdades sistêmicas, influencia o desenvolvimento, a estrutura e as percepções dessas paisagens urbanas”, diz Mitre.
Museus pessoais
Há essa dimensão global e histórica, mas também um viés de intimidade que atravessa “Casa/iKhaya Lami”, segundo Dhlamini. “O trabalho reflete minhas vivências e as conversas ao meu redor. Enxergo as casas como museus pessoais, onde muitas histórias estão guardadas. A partir disso, proponho novas memórias”, explica.
A política espacial dos “townships” sul-africanos é área de interesse para Dhlamini, pois continuam sendo moldados por questões de poder, desigualdade e resistência. Uma área de particular interesse são os espaços íntimos desses ambientes, que desempenham papel significativo na formação das relações sociais e da resistência política.
Nestas áreas dentro de casa ou da comunidade, as pessoas interagem e compartilham a vida diária em espaços marcados por pobreza, superlotação e falta de infraestrutura. Por meio da criação de arquivos fotográficos, Dhlamini pretende amplificar as vozes daqueles que viveram e continuam a viver nestes espaços.
JABULANI DHLAMINI
• Exposição “Casa/iKhaya Lami”
• Em cartaz até 1º de julho, na Mitre Galeria (Rua Tenente Brito Melo, 1.217, Barro Preto)
• Em cartaz até 1º de julho, na Mitre Galeria (Rua Tenente Brito Melo, 1.217, Barro Preto)
• Aberta de terça a sexta-feira, das10h às 19h, e aos sábados, das 10h às 16h.
• Entrada franca
• Entrada franca
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