Realizado pela primeira vez em 2022, o Festival Experimental de Artes Fílmicas (Fenda) está de volta a BH, com programação que reúne 62 curtas internacionais, conferências, instalações artísticas, cursos e exibições ao ar livre.
Divididas em cinco mostras, as atividades ocorrerão desta quarta-feira (31/5) a domingo (4/6), no Cine Santa Tereza, Centro Cultural Vila Marçola e Museu da Moda (Mumo). A proposta é contemplar o intercâmbio entre as diferentes culturas da América Latina, destacando produções experimentais e o papel das vanguardas latino-americanas na cena internacional do audiovisual.
Fenda revive o cinema analógico e busca levar experimentações para novos públicos, quebrando o paradigma eurocentrista que domina o setor.
“Tínhamos um incômodo em relação ao lugar que a América Latina ocupa no cinema experimental. Normalmente, a história do audiovisual e as narrativas são contadas a partir das visões da Europa e dos Estados Unidos, como se tudo que tivesse surgido aqui fosse derivado do que se produz lá. Queremos inverter essa lógica e contar a nossa história”, afirma Victor Guimarães, diretor do evento.
“Creio que as vivências comuns que resultaram do colonialismo trouxeram referências da ancestralidade do continente e das lutas políticas das quais essas terras são feitas. Isso faz com que os filmes (do festival) tragam o ímpeto de descolonizar imagens e sons que rodeiam nosso cinema”, afirma Guimarães.
'Tínhamos um incômodo em relação ao lugar que a América Latina ocupa no cinema experimental. Normalmente, a história do audiovisual e as narrativas são contadas a partir das visões da Europa e dos Estados Unidos, como se tudo que tivesse surgido aqui fosse derivado do que se produz lá. Queremos inverter essa lógica'
Victor Guimarães, diretor do Fenda
Na contramão do eurocentrismo
A ideia é centralizar a narrativa na América Latina. “Vamos mostrar que temos produção vibrante aqui. Única, ela inventa novas formas e não deve nada a ninguém”, avisa o diretor do Fenda.
Segundo ele, o festival chega para “desconstruir certo repertório de imagens contemporâneas e uma certa maneira de escutar o mundo, que é atravessada pelo eurocentrismo”.
A mostra “Visões”, por exemplo, aborda o trabalho do Coletivo Los Ingrávidos, do México, em quatro sessões. O público verá experimentações realizadas ao longo de uma década, inspiradas por lutas de movimentos sociais e pelo transe xamânico indígena.
Davani Varillas, integrante do coletivo, discutirá os métodos de criação do grupo em conferência no Mumo marcada para sábado (3/6), às 11h.
“Nunca vi nada como eles. São referências vivas dos povos indígenas, que conversam com a música da região e com as ruínas das civilizações do México. São obras muito estimulantes, com texturas nas imagens e um trabalho sonoro impressionantes”, afirma Guimarães.
A mostra “Pioneiras” é dedicada às mulheres latino-americanas protagonistas do cinema experimental entre os anos 1950 e 1980. No domingo (4/6), às 18h, haverá sessão com filmes analógicos de 16mm com obras da mineira Eloísa Araújo Ribeiro, realizadas em Paris nos anos 1980.
A mostra “Competitiva internacional” exibirá curtas experimentais de todo o mundo e a “Competitiva BH” tem como curadores jovens talentos do audiovisual belo-horizontino: Filipe Bretas, Helena Elias e Lucas Oliveira.
A mostra “Horizontes”, em colaboração com o Movimento de Lutas nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), traz trabalhos de Marcellvs L., Aiano Bemfica e Pedro Maia de Brito desenvolvidos em BH.
Videoarte belo-horizontina
Fenda também resgata produções realizadas a partir de filmes fotográficos que marcaram a história da videoarte em BH, praticamente extintas pela dominação do digital a partir do século 21.
O festival busca expandir o conceito de audiovisual. “Haverá exibições ao ar livre com música, por exemplo, além de instalações que fogem do que é cotidianamente proposto ao cinema”, diz o diretor do festival. O curso “Artes fílmicas experimentais na perspectiva das mulheres” será ministrado gratuitamente por Patrícia Mourão de Andrade.
“Cinema experimental não precisa ser chato ou algo destinado apenas para intelectuais. Ele bagunça as nossas percepções do que é uma imagem, do que é um som. E isso pode ser muito divertido. Temos comédias na seleção, filmes de amor e discussões leves sobre a vida, vale a pena conferir”, conclui Victor Guimarães.
PROGRAMAÇÃO
• Abertura
Com DJ Supololo (Masterplano). Nesta quarta (31/5), às 19h30, no Centro Cultural Vila Marçola (Rua Mangabeira da Serra, 320, Marçola). Entrada franca.
• Sessões de cinema
No Cine Santa Tereza (Rua Estrela do Sul, 89, Santa Tereza), de quinta-feira (1º/6) a domingo (4/6). Ingressos antecipados pelo site Sympla ou na bilheteria.
• Conferência
“Materialismo xamânico”, com Davani Varillas, do Coletivo Los Ingrávidos. Sábado (3/6) às 11h, no Mumo (Rua da Bahia, 1.149, Centro).
>> Programação completa em www.fendafestival.com e no Instagram (@fendafestival)
* Estagiária sob supevisão da editora-assistente Ângela Faria
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