Em maio a Netflix anunciou Arnold Schwarzenegger como “chief action officer” (CAO) da plataforma - em bom português, chefe de ação. Se o cargo é efetivo ou apenas uma jogada de marketing só o futuro vai dizer. Fato é que, aos 75 anos, o ex-fisioculturista, ator, empresário e ex-governador da Califórnia está com tudo.
Schwarzenegger chega na próxima semana a São Paulo para participar do Tudum, festival da Netflix que volta ao formato presencial no Pavilhão da Bienal. Ele aterrissa no Brasil na esteira de duas produções recém-lançadas. A ficcional “Fubar”, sua primeira incursão em série, e a documental “Arnold”.
“Fubar” é uma comédia de ação, muito na linha de “Irmãos gêmeos” (1988) e “Um tira no jardim de infância” (1990), filmes que mostravam que o fortão da franquia “O exterminador do futuro” tinha uma verve cômica. A expressão que dá título à série significa algo (ou alguém) que está confuso, danificado ou arruinado.
Pois o agente da CIA Luke Brunner (Schwarzenegger) não está exatamente em um bom momento. No fim de uma bem-sucedida carreira na agência americana, ele só pensa em uma coisa: aposentar-se para poder, finalmente, ficar bem com a mulher, Tally (Fabiana Udenio).
O casamento acabou há tempos, justamente por causa de seu trabalho na CIA – algo de que ninguém da família, a mulher ou os filhos, tem conhecimento. De olho no novo namorado de Tally, um contador tranquilão, Luke quer reconquistá-la e ter a aposentadoria que merece.
Mas é chamado para uma última missão, contra o filho de um bandidão latino que ele matou. Vai muito a contragosto, sempre acompanhado de seu parceiro que não entra em ação, mas que toma conta de tudo no escritório, Barry (Milan Carter), que os filhos e a neta de Luke chamam de tio.
Luke não é convocado à toa. Descobre que a filha preferida, Emma (Monica Barbaro), que ele acreditava ser uma garota tranquila com um noivo tedioso, é também uma agente da CIA. A série vai seguir essa dupla improvável, que é mais parecida do que quer admitir, no encalço do criminoso.
É totalmente distante da realidade, mas consegue fazer rir pela interação entre os personagens, Luke e Barry, e outra dupla de agentes atrapalhados, Roo (Fortune Feimster) e Aldon (Travis Van Winkler).
Já “Arnold” traz três episódios temáticos: “Atleta”, “Ator” e “Americano”. O primeiro relata sua educação brutal na Áustria do pós-guerra, a obsessão adolescente por levantar pesos e sua ascensão ao domínio do fisiculturismo.
Em dado momento, ele revela quase um agradecimento pela violência do pai e o descaso da mãe – foi isto que o levou a seguir em frente e querer deixar o país natal, desde que se entende por gente.
O episódio seguinte mostra o caminho para chegar ao estrelato em Hollywood. Não faltaram percalços. Colegas de elenco – Danny DeVito, Linda Hamilton e Jamie Lee Curtis – dão depoimentos, assim como o cineasta James Cameron, que diz que Schwarzenegger nunca quis ser um ator, mas um astro.
Por fim, o derradeiro episódio, mais espinhoso, dá conta de seu casamento com Maria Shriver, sobrinha do ex-presidente John Kennedy (que terminou quando foi descoberto o caso dele com a governanta do casal, relação que gerou o quinto filho de Schwarzenegger), e dos turbulentos oito anos como governador da Califórnia.
Ele faz algum mea culpa para a câmera. “Meu erro causou dor”, diz, falando sobre o filho fora do casamento; “Eu vivi em negação”, sobre o péssimo marido que foi; “Sem desculpas, estava errado”, sobre as apalpadelas, nada inocentes, que deu em várias mulheres e que vieram à tona na imprensa em 2003, às vésperas de sua primeira eleição.
O que fica claro com o documentário é que o “exterminador” só chegou onde chegou por um trabalho fora do comum. Mas o espectador também tem que entender que o documentário foi moldado para mostrar Schwarzenegger para a geração Netflix – e para passar um pano em todas as polêmicas que cercam sua vida.