E se encontrássemos um diário de Shakespeare perdido há mais de quatro séculos? O que será que o Bardo de Avon teria relatado em suas confissões? Essa é a premissa de “O diário perdido de Shakespeare”, livro de Pedro Maciel, lançado recentemente pela editora Iluminuras.
O diário fictício contempla o período de um ano, no qual o autor perpassa sentimentos que vão desde aflições do dramaturgo britânico em relação à passagem do tempo e à morte, até a relação de Shakespeare com o pai.
“Hamlet é meu alter ego”, escreve Maciel, atribuindo a frase à Shakespeare. “Ontem eu esqueci o nome do meu pai. Pai, por que me abandonaste? Os antepassados estão condenados a serem esquecidos. Ele morreu para que eu forjasse a minha tragédia?”, prossegue.
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Todas as inquietações abordadas por Maciel no livro traçam paralelos com peças de Shakespeare e com autores e obras que serviram de referência para o dramaturgo britânico, como Homero, Heráclito, Platão, o livro do “Gênesis”, entre outros.
“Há séculos tenho a sensação de ser Píndaro no tempo de Hesíodo”, confessa o autor fictício, referindo-se aos poetas gregos da época pré-socrática.
Embora tenha escrito e lançado só agora “O diário perdido de Shakespeare”, a ideia de Maciel de fazer um livro tendo o dramaturgo como personagem principal, assumindo, inclusive, a condição de narrador é antiga.
Fã confesso do britânico, Maciel se apoia nas palavras de Machado de Assis para falar sobre Shakespeare. “Ele dizia que Shakespeare não se comenta, admira-se. E, de fato, é algo impressionante mesmo. Shakespeare é um poeta e dramaturgo que influenciou muita gente”, afirma.
Shakespeare protagonista
A ideia, no entanto, de colocar o dramaturgo como protagonista surgiu quando Maciel assistiu a montagem de “Romeu e Julieta” feita pelo Grupo Galpão, na Praça da Liberdade, na década de 1990. Ao ver a peça, ele imaginou que poderia escrever um livro no qual Shakespeare falasse de si mesmo, mas sob a perspectiva de uma terceira pessoa.
“As pessoas falam muito de si mesmas, mas colocando-se como se fossem as melhores do mundo. É um ponto de vista que elas têm de si próprias. Eu queria fazer o Shakespeare falar de si mesmo, mas trazendo avaliações e pontos de vista de terceiros”, comenta Maciel.
Assim, “O diário perdido de Shakespeare” traça um perfil do dramaturgo com base na interpretação que Maciel faz das obras clássicas do britânico. “Rei Lear, Hamlet, Otelo, entre outros, me ensinaram que o sonho nunca vale mais que a existência”, escreve. “Há noites em que tenho vontade de matar o sono, como Macbeth”, emenda.
Por fim, revela: “Escrevi ‘Rei Lear’, ‘Macbeth’, ‘Hamlet’, ‘Otelo’ e ‘A comédia dos erros’ inspirado na minha cruel família. Esta é a mais pura verdade”.
“O DIÁRIO PERDIDO DE SHAKESPEARE”
Pedro Maciel
Iluminuras (144 págs.)
R$ 42,50