Nazareno Altavilla pintou a Basílica Bom Jesus de Matosinhos e os profetas de Aleijadinho, em Congonhas

Nazareno Altavilla pintou a Basílica Bom Jesus de Matosinhos e os profetas de Aleijadinho, em Congonhas do Campo

Marcos Vieira/EM/D.A Press

Um dos recortes da 8ª edição do evento Modernos Eternos BH, encontro anual voltado para arquitetura, arte, cultura, design, decoração, história e gastronomia, a exposição “Minas, paisagem revelada” apresenta ao público, a partir desta terça-feira (20/6), um conjunto de pinturas do início do século 20 que remetem à urbanidade e à riqueza natural mineiras.

A mostra ficará em cartaz até 30 de julho no Museu das Minas e do Metal – MM Gerdau, no Circuito Cultural Praça da Liberdade. As obras foram selecionadas a partir dos acervos dos colecionadores Fabiano Lopes de Paula, Ricardo Giannetti e Rodrigo Vivas, que respondem pela curadoria da exposição.

A proposta é rememorar a produção artística mineira do início do século 20, recuperando a trajetória de autores com destacada capacidade interpretativa, embora relegados pela historiografia.

Os quadros estão divididos em dois grupos: “Cidades e monumentos históricos” e “Representação da natureza”. O público verá obras de Delio Delpino, Lucílio de Albuquerque, Edgard Parreiras, Godofredo Guedes, Aníbal Mattos, Nazareno Altavilla, Rodolfo Weigel, Edesio Esteves, Genesco Murta, Renato de Lima, Funchal Garcia, Orózio Belém, Belmiro Frieiro e Edgard Walter, entre outros.

A ideia da exposição partiu de Fabiano Lopes de Paula e contou com a imediata adesão dos outros dois colecionadores. “A gente conversa muito sobre arte mineira, temos muitas obras do século 19 e início do século 20, é um enfoque comum a nós três. Quando o Fabiano fez o contato, topamos imediatamente, porque é interessante recuperar obras que estão em nossas casas”, diz Giannetti.
 
A natureza sob o olhar do pintor Funchal Garcia

Detalhe de quadro do pintor Funchal Garcia

Marcos Vieira/EM/D.A Press
 

Influência do ouro

O colecionador destaca que as paisagens mineiras sempre chamaram a atenção de viajantes, artistas e escritores. Com a descoberta do ouro em Minas Gerais, a natureza sofreu transformações tanto do ponto de vista dos recursos naturais quanto no que diz respeito à urbanização, com a construção das primeiras vilas, que se transformariam nas cidades que hoje compõem o estado.

Giannetti explica que as pinturas reunidas em “Minas, paisagem revelada” se filiam à escola que remonta ao final do século 19. “Dois artistas mineiros, Honório Esteves e Alberto Delpino, foram estudar na Academia Imperial de Belas-Artes, no Rio de Janeiro, e voltaram para Belo Horizonte com outras técnicas, que sucederam ao que se fazia até então. Essa nova pintura que trouxeram formou uma nova escola, com uns artistas se espelhando em outros”, diz.

Autor do livro “Ensaios para uma história da arte de Minas Gerais no século 19”, lançado em dois volumes, Ricardo Giannetti observa que o cenário das artes plásticas na recém-inaugurada capital do estado ainda estava em formação nas primeiras décadas do século passado.

“Em 1917, Belo Horizonte, então com 20 anos, não contava nem com um museu nem com escola de belas-artes”, aponta.

O curador destaca que, a partir daquele mesmo ano, a atuação do pintor, escritor, teatrólogo, historiador e promotor Aníbal Mattos, que acabara de chegar do Rio de Janeiro, foi decisiva para impulsionar o desenvolvimento das artes plásticas na cidade.

Alberto Delpino estava em Barbacena e Honório Esteves em Ouro Preto, então coube a Mattos organizar uma exposição geral de belas-artes, reunindo diversos nomes que atuavam na capital, informa Giannetti.

“Essa reunião de artistas, que se tornou evento anual, começou a gerar interesse crescente de outros autores e do público. Mas não existiam ainda museus e galerias, então eram mostras realizadas em saguões de prédios públicos. A exposição no MM Gerdau rememora um pouco o que foram as coletivas de belas-artes realizadas a partir de 1917 em BH”, pontua.
 
Paisagem pintada por Anibal Mattos

Detalhe de paisagem pintada por Anibal Mattos

Marcos Vieira/EM/D.A Press
 

Guignard: marco histórico

A década de 1940 representou o marco da mudança nos rumos das artes plásticas em Belo Horizonte e Minas Gerais, a partir da chegada de Alberto da Veiga Guignard. “Em 1944, o então prefeito Juscelino Kubistchek trouxe Guignard do Rio de Janeiro com a específica orientação de criar uma escola de artes”, diz.

No mesmo ano, houve uma exposição de arte moderna na cidade, com obras de alguns dos principais representantes do movimento, como Portinari, Di Cavalcanti e Tarsila do Amaral. “Os artistas que já militavam aqui ficaram de fora. A partir daí, há um claro esforço de apagá-los, porque o modernismo precisava se impor”, observa o colecionador.
 

De acordo com Ricardo Giannetti, a partir dos anos 1940, Guignard passou a ser considerado o artista que melhor interpretou as paisagens mineiras. Ele observa que muitas obras do pintor destacam aspectos específicos de Minas, mas representam, também, uma visão universal que poderia ser transportada para outras cidades, outras paisagens, outros modos de ver e sentir.

“Nosso desejo não é desconsiderar o papel de Guignard na construção de uma visão arquetípica das paisagens mineiras, mas demonstrar como inúmeros artistas foram motivados pelo mesmo tema e produziram interpretações diversas”, salienta.

Dessa maneira, aponta, mesmo não estando presente em “Minas, paisagem revelada”, Guignard é referência para a exposição que será aberta amanhã.

“Na verdade, ele é um ponto de referência histórico. Com a chegada de Guignard a Minas Gerais, outra orientação vai se dar no campo das artes plásticas. Isso não impediu Aníbal Mattos, por exemplo, de continuar atuando, com presença marcante não só nas artes plásticas, mas também na arquitetura e na seara literária, porque ele pertenceu à Academia Mineira de Letras.”
 

''Não existiam ainda museus e galerias, então eram mostras realizadas em saguões de prédios públicos. A exposição no MM Gerdau rememora um pouco o que foram as coletivas de belas-artes realizadas a partir de 1917 em BH'

Ricardo Giannetti, curador e colecionador

 

Giannetti conta que Fabiano Lopes de Paula já havia iniciado a seleção das obras, sua chegada e a de Rodrigo Vivas serviu para acabar de delinear o conjunto que compõe a mostra no MM Gerdau.

“Já havia um comprometimento nosso com a paisagem mineira, tanto a arquitetônica, com os monumentos de cidades históricas, quanto a natural. Os pintores que selecionamos, alguns nem chegaram a se conhecer, mas eles compõem esse painel”, diz.

As obras, todas figurativas, se concentram mais na representação de Ouro Preto, Sabará, Diamantina e São João del-Rei, informa Giannetti. “São as cidades históricas que mais atraíam o olhar de pintores mineiros e também daqueles de fora, que vinham de outros estados, passavam por aqui e se interessavam pela paisagem e pela arquitetura desses lugares”, destaca.

“MINAS, PAISAGEM REVELADA”

A exposição será aberta nesta terça-feira (20/6) e ficará em cartaz até 30 de julho, no Museu das Minas e do Metal – MM Gerdau (Praça da Liberdade, Funcionários). Funciona de terça-feira a domingo, das 10h às 17h (com entrada até as 16h30), e às quintas-feiras, das 10h às 22h (com entrada até as 21h30). Acesso gratuito

OS PINTORES

Aníbal Mattos, Aristides Agretti, Belmiro Frieiro, C. B. Goes, Delio Delpino, Edesio Esteves, Edgard Parreiras, Edgard Walter, Frederico Bracher Jr., Funchal Garcia, Genesco Murta, Godofredo Guedes, José Marques Campão, José Silveira D'Ávilla, José Wasth Rodrigues, Lucílio de Albuquerque, Luiz Signorelli, Mick Carnicelli, Nazareno Altavilla, Orózio Belém, Paulo Cláudio Rossi Osir, Renato de Lima e Rodolfo Weigel