Minas Gerais comemora o centenário de nascimento de um artista plástico singular: Konstantin Christoff, que nasceu na Bulgária e se mudou para o Brasil aos 9 anos. Morava em Montes Claros, onde morreu aos 87 anos, em 2011, depois de expor em museus e galerias no Brasil e nos Estados Unidos.  O criativo Konstantin sempre chamou a atenção por seu traço original.





Até 30 de junho, o Museu Regional do Norte de Minas, vinculado à Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), exibe a mostra “Tudo, Konsta”, com telas, objetos pessoais, textos, charges, fotografias e esculturas do artista plástico.

Konstantin se destacou com as séries de pintura “Autorretratos”, “Via-sacra” e “Viagem à América”. Com elas, chamou a atenção ao expor no Palácio das Artes, em Belo Horizonte, no Museu de Arte Moderna (MAM), no Rio de Janeiro, e na Art Gallery, em Nova York.

“Konstantin questiona praticamente todos os valores éticos e culturais do nosso conturbado tempo, em termos lúdico-sarcásticos”, comentou o historiador e ensaísta Isaías Golgher (1905-2000) em artigo publicado no Estado de Minas, em 3 de setembro de 1986, reproduzido na exposição montes-clarense.




 

Detalhe do quadro "Autorretrato com minha mulher e um menino de rua em dia de feriado", que faz parte da série que chamou a atenção dos críticos

(foto: Reprodução)
 

As criações do pintor foram tema de estudos em universidades e escolas de arte. A curatoria de “Tudo, Konsta” conta com Elvira Curty, professora do curso de artes da Unimontes. A especialista “mergulhou” no legado do artista no seu mestrado em ciência da arte na Universidade Federal Fluminense (UFF) e no doutorado em artes visuais na Escola de Belas-Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Elvira Curty chama a atenção para uma face do trabalho de Konstantin Christoff pouco conhecida: a escultura. Inclusive, trouxe a público peças que o artista deixou praticamente “escondidas” em seu ateliê. Outras preciosidades são fotos feitas por ele em preto e branco, focalizando paisagens e outros cenários.

“A gente percebe a multiplicidade de um cara que não teve infância e não teve adolescência, mas não ficou amargo. Ele não perdeu a poesia”, diz Elvira. Ela destaca também a arte panfletária de Konstantin. “Seu cartum é uma denúncia, mas não denúncia para machucar, não é agressiva. É uma denúncia para falar assim: vamos olhar diferente para todo mundo.”




 
 

A obra de  Konstantin Christoff “é um chamamento no sentido de nos ressignificar”, prossegue a curadora. “É impossível você não se ressignificar diante de uma série como 'Autorretratos', 'Viagem à América' ou 'Via-sacra'.”

A pesquisadora destaca que o autor se notabilizou pelo grotesco, mas num contexto mais leve, o que pode ser observado em suas telas, desenhos e cartuns.

“Konstantin se apaixonou por facetas tortuosas, mas de forma amorosa. Trabalha com o grotesco, mas não é pejorativo”, diz. “Ele tem um traço próprio. O Konstantin deixou um trabalho que vai tocar as novas gerações. É um trabalho que provoca reflexões.”
 

Detalhe do quadro 'Nu em flor', que exibe o olhar sensualmente poético que Konstantin dedicou ao corpo feminino

(foto: Reprodução)
 

O crítico de arte e jornalista Walter Sebastião destaca a originalidade da obra deste mineiro que nasceu na Bulgária. Observando que sua pintura veio do desenho, Walter chama a atenção para a forma como ele abordou o nu feminino.





“Não comparo o Konstantin com ninguém, porque, pura e simplesmente, ele é um artista singular, um artista especial. O que conheci dele – e pude ver – é a dedicação ao nu feminino, mas não no contexto em que esse nu é maltratado. O Konstantin sempre desenhou mulheres maravilhosas, com sabor sensual, o que é uma delícia”, afirma Walter, que foi repórter do Estado de Minas.

“Ele exercitou as várias nuances da sensualidade sem nunca ser vulgar. É como se um permanente ato de sedução estivesse presente em sua obra”, observa.

Walter Sebastião afirma que este “artista múltiplo” pintou com um certo bom humor.  “Às vezes, a história da arte é muito séria”, assinala. “Ele não embarcou em nenhum modismo. Fez arte singular. O Konstantin é Konstantin. E ponto”, afirma o crítico de arte.
 

 

Detalhe de obra exposta na mostra "Tudo, Konsta", em cartaz até dia 30 de junho, em Montes Claros

(foto: Luiz Ribeiro/EM/D.A Press)

Da Bulgária para o sertão

Konstantin Christoff nasceu na Bulgária em 12 de maio de 1923. Em 1933, mudou-se para o Brasil, estabelecendo-se em Montes Claros com o pai, Christoff Raeff, que morava na cidade norte-mineira desde 1929, a mãe, Rosa, e o irmão Rayu.





Adolescente, ele já se interessava pelo desenho de humor e histórias em quadrinhos. Na década de 1940, Konstantin se mudou para Belo Horizonte. Estudou medicina na Universidade de Minas Gerais, atual Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
 
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Médico diplomado, voltou para Montes Claros, trabalhou como cirurgião-geral e cirurgião plástico. Abandonou a medicina para se dedicar ao desenho e à pintura – era desenhista obsessivo –, criando retratos, paisagens e naturezas mortas.

Konstantin colaborou com as revistas “Careta”, no Rio de Janeiro, “Edição Extra”, em São Paulo, e “Playboy”. Em Belo Horizonte, apresentou a mostra individual “Nus – Estudos para a viúva do grande homem”, que destacou seu encanto pelo corpo feminino.




 

Cartazes de exposições de Konstantin expostos no Museu Regional do Norte de Minas

(foto: Luiz Ribeiro/EM/D.A Press)
 
 
No início da década de 1980, o pintor iniciou a série de autorretratos que chamou a atenção dos críticos de arte. Organizou uma exposição itinerante, que percorreu vários estados. Além de “Via-sacra” e “Viagem à América”, ele criou a série de quadros “Os oito pecados capitais”.

Em 21 de março de 2011, Konstantin Christoff morreu de acidente vascular cerebral (AVC), em Montes Claros, onde desenvolveu toda a sua obra.

Serviço


Exposição "Tudo Konsta", no Museu Regional do Norte de Minas: Rua Coronel Celestino, 75, Centro, Montes Claros. Entrada: gratuita. Horário: de segunda-feira a sexta-feira, das 8 às 18 horas.

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