Quando Gil sobe no palco, todo mundo sabe que ele, como devoto do Deus-Sol, traz um cesto de alegria de quintal. Os fãs do cantor e compositor baiano também sabem que ninguém precisa saber onde é Luanda para dar valor à banda que o acompanha. A história fala por si.
Na noite desta sexta-feira (23/6), no Parque Ecológico da Pampulha, às 20h, Gil subirá ao palco acompanhado por sua família, dividida entre as funções de vocais, percussão e cordas. Preta Gil, filha do cantor, que ao retornar da Europa foi diagnosticada com câncer de intestino e desde então está em tratamento, participará do show.
Entusiasmado, Gil fala sobre o tema ao Estado de Minas. "Preta vai estar no elenco em BH, ao lado dos irmãos, do filho, da neta, do pai e de todos que estiverem dispostos a recebê-la com carinho e solidariedade. Ela só não irá para a Europa porque o tratamento exige que ela esteja por aqui".
O repertório não foi divulgado, mas são certos clássicos como "Palco", "Aquele abraço", "Toda menina baiana", assim como músicas de Gilsons (banda formada por José Gil, Francisco Gil e João Gil) e do repertório de Preta. A apresentação marca a abertura do festival Sensacional, que ocorre ao longo deste sábado (24/6).
Gil e a família têm razão de sobra para comemorar a presença de Preta em cena. Não fosse por insistência dela, a única entre os irmãos que nunca havia viajado em turnês pelo mundo afora, a apresentação não existiria.
Cansada de ouvir as histórias dos irmãos que sempre estavam com o pai nas viagens, disse que também queria seguir com a família. Nascia assim "Nós, a gente", turnê que rendeu 15 apresentações em 10 países europeus e a série "Viajando com os Gil", que será lançada no próximo dia 30, no Prime Video.
Em cena, Bem Gil (vocal, guitarra e baixo), José Gil (vocal e bateria), João Gil (vocal, guitarra e baixo), Pedro, Lucas e Gabriel Gil (percussão), Bento Gil (percussão e violão), Francisco Gil (vocal e violão), Flor Gil (vocal e teclado), Mariá Pinkusfeld (vocal), Preta Gil (vocal) e Nara Gil (vocal) acompanharão o patriarca.
Em entrevista on-line que marcou o lançamento da série do Prime Video, Gil reconheceu que, apesar de sua experiência em viagens com shows, essa turnê é mais complicada. Citou como exemplo o período na Europa em que o grupo, incluindo pessoal da Prime Video, era formado por 26 pessoas, com idades variadas. Das bisnetinhas gêmeas, de 1 e meio, até o patriarca da família, que na segunda-feira (26/6) completa 81 anos.
Mulher de Gil e sua produtora desde os anos 1980, Flora Gil comentou que as dificuldades no ir e vir, entre um show e outro, foram muitas. "Não estava viajando com Gil como viajava com ele com 40 anos há 40 anos. Mas a turnê foi legal, foi maravilhosa. Valeu a pena? Super valeu! A ideia da Preta foi boa? Foi excelente!", disse, para depois ponderar. "Tem um senhorzinho na academia que, um dia depois de dizer que ele estava com uma cara tão boa, me respondeu: ‘Minha filha, quem vê cara, não vê radiografia. Eu adoro isso. Quem vê isso aqui, não vê a radiografia."
Preta aposta que, ao ver toda a família em cena, o público se dará conta de quão diversa ela é. Os Gil, segundo ela, carregam a essência do patriarca. "Somos uma tribo e cuidamos uns dos outros. O que fica muito evidente na série", afirma.
A cantora, que é filha de Gil com sua ex-mulher Sandra, comenta que quando todos estão no palco, ficam emocionados com a reação dos fãs. "Quando a gente vê o amor que o público tem pelo nosso pai, pelo nosso avô, pelo nosso bisavô, é emocionante. Essa turnê é uma homenagem que a gente pode fazer ao nosso pai em vida e estamos ali todos de espectadores dele, porque é uma aula você viajar com ele, ver a disciplina, a resiliência e a toda capacidade que ele tem de fazer com que aquilo que é muito difícil se transforme em algo que parece muito fácil e para ele é muito fácil.”
“NÓS, A GENTE
• Show de Gilberto Gil e família, na abertura do Festival Sensacional.
• Nesta sexta-feira (23/6), no Parque Ecológico da Pampulha (Av. Otacílio Negrão de Lima, Portaria I, nº 6.061).
• Nesta sexta-feira (23/6), no Parque Ecológico da Pampulha (Av. Otacílio Negrão de Lima, Portaria I, nº 6.061).
• Abertura dos portões às 17h.
• Ingressos entre R$150 e R$300, à venda pela plataforma Shotgun.
Leia a seguir entrevista com Gilberto Gil
A partir das mortes de Gal Costa e Rita Lee, suas amigas, da doença de Preta Gil, o que muda em sua relação com a finitude, tema que o senhor cantou em uma das mais lindas canções de sua discografia, "Não tenho medo da morte”.
Talvez fique mais nítida para mim a ideia da finitude. Talvez mais próxima, à medida em que os companheiros de estrada vão indo embora e o tempo de vida naturalmente se estreitando.
Preta, na coletiva sobre o lançamento da série “Viajando com os Gil”, disse que a turnê na Europa é uma grande homenagem ao senhor. Como o senhor quer ser lembrado no futuro pelas gerações que virão?
Penso que algumas canções na memória do povo já será alguma coisa. Eu continuo tendo muito prazer em tocar e cantar e acho que isso também vai durar a vida toda e também ficará na memória de muita gente o meu entusiasmo pela canção popular e a dedicação que tenho tido a ela.
Caetano disse que essa será a última turnê internacional que ele fará. O senhor pensa em se aposentar das turnês nacionais e internacionais?
Vai depender da saúde e da disposição. Com certeza, estou mais cansado e ficar o máximo do tempo em casa será o mais aconselhável. Vamos ver o que a vida manda.
Como o senhor enxerga a indicação de Margareth Menezes para a restabelecida pasta do Ministério da Cultura?
Ela tem gosto, tem disposição, tem senso de compromissos com a diversidade cultural brasileira e mundial e um temperamento equilibrado que torna sua relação com todo o mundo cultural e com a sociedade a mais amena possível. Vamos acompanhando com atenção o seu trabalho.