Quando se graduaram em teatro e montaram a Cia. Sob o Sol, entre o final de 2019 e início de 2020, as atrizes Cecília Parreira e Beatriz Pinho se viram em uma situação delicada: tinham o diploma nas mãos e uma peça autoral pronta, mas não conseguiam montá-la, pois não contavam com o apoio de teatros ou centros culturais. Para piorar a situação, o coronavírus chegou ao Brasil, fechando palcos e suspendendo atividades presenciais.





Em 2022, quando os eventos culturais foram retomados, as atrizes finalmente puderam estrear “Enterro da Terra”. Em sua curta temporada no Teatro Sesiminas, a montagem teve boa recepção do público. Os ingressos se esgotaram e foi aberta sessão extra.

A experiência positiva fez com que Cecília e Beatriz mantivessem o propósito de permanecer em cartaz. Mas onde? “Abrimos o diálogo com o Sesc”, conta Cecília.


No entanto, a atriz não levou à instituição a proposta de apresentar apenas “Enterro da Terra”. Um insight a fez sugerir a criação de mostra de grupos e coletivos que, assim como a Cia. Sob o Sol, dão os primeiros passos na carreira.


Para conseguir a aprovação do Sesc, Cecília chamou a atriz, diretora e dramaturga Rita Clemente – nome respeitado do teatro mineiro – para ser a convidada especial do que se tornou a 1ª Mostra ao Teatro 2023 com Estúdio Clementtina.





 

Cecília Parreira e Beatriz Pinho apresentam a peça 'Enterro da Terra' nos dias 1º e 2 de julho

(foto: Maiara Gomes/divulgação)
 

Agenda 'pé no chão'

Viabilizado por recursos próprios dos participantes, o evento será aberto nesta sexta-feira (23/6) e segue com apresentações até 6 de agosto, aos sábados e domingos, no Teatro de Bolso do Sesc Palladium.


“A gente pensou em fazer programação maior do que o próprio espetáculo ‘Enterro da Terra’”, diz Cecília. “Falo isso de um lugar muito pé no chão, sabendo que nós três somos jovens atrizes (além de Cecília e Beatriz, há Isabella Assis) que não têm ainda história e carreira estabelecidas no teatro mineiro como a Rita tem. Assim, pensamos que seria legal fazer parte de algo maior do que o espetáculo em si”, explica.


Para a mostra, Cecília chamou o ator Helder Carneiro, além dos colegas do Margem Coletivo de Investigação Teatral e do grupo Roger Xavier Produções de Arte e Cultura. Todos participaram de cursos ou oficinas no Estúdio Clementtina, criado por Rita Clemente.





Rita, inclusive, assina a direção de todos os espetáculos. A programação conta com seis peças. A abertura será com a estreia de “Natureza morta”, de Mário Viana, estrelado pela convidada especial.


Inspirado na tela “A assassina”, de Edvard Munch (1863-1944), o solo fala de amor e do fim do desejo. “Ele estabelece uma relação muito interessante entre realidade e ficção”, afirma Rita Clemente.


“Mario propõe uma situação inusitada, em que uma mulher é flagrada após o assassinato do marido. Ela o mata para fazer a viagem que planejava há anos”, resume.

 

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Réquiem para o planeta Terra

No próximo final de semana (1º e 2/7), será apresentada “Enterro da Terra”. Cecília Parreira e Beatriz Pinho interpretam duas mulheres que sobreviveram ao fim do mundo e tomam para si a tarefa de “enterrar” o planeta Terra. A partir dessa realidade distópica, as duas trazem à tona memórias e dilemas da humanidade.



“A mostra tem o caráter de entender a diversidade como uma diversidade temática”, observa Rita Clemente. “Ou seja, ela não é fechada em uma única temática, e isso é muito bom. Os artistas escolheram o tema de acordo com sua própria percepção da liberdade, daquilo que veem ou querem falar sobre, e não algo que está na moda”.


A diversidade dos temas abordados chama a atenção na programação. “Natureza morta” e “Enterro da Terra” tratam de assuntos completamente diferentes, assim como “Quem matou Maria Helena”, solo de Claudio Simões, estrelado por Roger Xavier e Taynara Tomaz.


A peça, que será apresentada em 8 e 9 de julho, é uma comédia policial centrada no interrogatório do principal suspeito de um assassinato. Em cômica reviravolta, o protagonista passa de principal suspeito a detetive ao descobrir novidades do caso.





Também integram a programação “Amanda”, solo de Jô Bilac, estrelado por Rita Clemente; “Sal”, do Margem Coletivo de Investigação Teatral; e “Astronauta”, com texto de Rita Clemente e atuação de Helder Carneiro.

 

Cada qual com abordagem própria, transitando entre drama e humor com o intuito de discutir questões caras ao ser humano, como memória, vida e a relação com o outro.

Meta: formar público

A estratégia de adotar diversos temas foi pensada pela Cia. Sob o Sol a partir da discussão a respeito de formação de público, algo que faz as jovens integrantes da companhia “quebrarem a cabeça”.


“A gente discute muito a formação de público, como chegar no público hoje”, diz Cecília. “Que público é esse do teatro em Belo Horizonte? Ainda é uma incógnita para a gente”, afirma.





A ideia é prosseguir com a mostra nos próximos anos, com o objetivo de integrar à programação novos grupos independentes de teatro, além de todos os tipos de público.


“Estamos dando o nosso melhor para provar que este evento pode dar certo. Dando certo, torço para que ele perdure”, conclui Cecília Parreira.

“AO TEATRO 2023 COM ESTÚDIO CLEMENTTINA”

Peças de grupos teatrais independentes de Belo Horizonte. No Teatro de Bolso do Sesc Palladium (Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro). Desta sexta (23/6) a 6 de agosto, às 20h. Ingressos a R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia) na bilheteria do teatro ou pelo Sympla. Informações pelo site: linktr.ee/MostraAoTeatro.

PROGRAMAÇÃO

• “NATUREZA MORTA”
Com Rita Clemente. Texto: Mário Viana
Desta sexta (23/6) a domingo (25/6), às 20h

• “ENTERRO DA TERRA”
Com Beatriz Pinho e Cecília Vital. Direção: Rita Clemente
Em 1º e 2 de julho, às 20h

• “QUEM MATOU MARIA HELENA”
Com Roger Xavier e Taynara Tomaz. Direção: Rita Clemente. Texto: Cláudio Simões
Em 8 e 9 de julho, às 20h

• “AMANDA”
Com Rita Clemente. Texto: Jô Bilac
Em 15 de julho, às 20h

• “SAL”
Com Gabriela Fernandes e Sâmyla Aquino. Direção e texto: Rita Clemente
Em 22 e 23 de julho, às 20h

• “ASTRONAUTA”
Com Helder Carneiro. Direção e texto: Rita Clemente
Em 5 e 6 de agosto, às 20h

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