Via de regra, festivais de música têm buscado, ao máximo, a diversidade. O que mais a dizer de um evento que começa com Hermeto Pascoal e termina com Marina Sena? Pois um dos quatro palcos do Sensacional, neste sábado (24/6), no Parque Ecológico da Pampulha, terá início com o mais inventivo dos músicos brasileiros (87 completados anteontem) e vai terminar com a sensação atual do pop de Minas Gerais.
Quinze mil pessoas são esperadas no evento criado em 2010 embaixo do Viaduto Santa Tereza, com uma banda da Letônia. Ao longo de 10 edições, o Sensacional vem mudando sempre. O formato deste ano, no entanto, será semelhante ao de 2022. Mistura nomes consagrados com atrações em ascensão e alguns hypes.
Nos dois principais palcos, Sensa e Híbrido, estão veteranos, como o grupo de samba Fundo de Quintal, aqui trazendo Leci Brandão como convidada. A cantora Céu apresenta um baile de reggae, e Criolo abre os trabalhos, fazendo uma participação na apresentação de Yago Oproprio, paulistano que lançou recentemente seu primeiro EP. Já Gloria Groove fecha um dos palcos levando, a reboque, Valesca Popozuda.
O palco Chacoalha, destinado aos novos, terá desde a cantora MC Tha até Getúlio Abelha, piauiense criado no Ceará que vive hoje em São Paulo e faz um forró eletrônico com muito deboche e performance. Já o palco eletrônico ficará a cargo da Masterplano.
• Leia também: Preta Gil é ovacionada no palco do Sensacional
Encontros no palco
Uma das coisas mais legais de festivais são os encontros no palco. E o MangueFonia, que será apresentado hoje pela primeira vez em Belo Horizonte, faz precisamente isto, com alguns dos protagonistas da cena mangue, que levou Recife para o centro da produção pop nos anos 1990 e virou referência para muitos que vieram depois.
"É uma espécie de timeline sonora, em que cada convidado mostra uma música da época e outra atual, para mostrar que as coisas ainda acontecem. Serão vários shows em um só", comenta Jorge Du Peixe, vocalista da Nação Zumbi.
Com a Nação como anfitriã, a MangueFonia vai reunir vocalistas de outras bandas essenciais do período em um único show. Fred Zero Quatro, do Mundo Livre; Fábio Trumer, da banda Eddie, e Canibal, do Devotos, vão se revezar com Du Peixe nos microfones. Na metade final, o repertório será dedicado aos sucessos da Nação: "Da lama ao caos", "A praieira", "Meu maracatu pesa uma tonelada" e "Um sonho" deverão estar no repertório.
Já são 30 anos - 31, na verdade - desde o lançamento de "Caranguejos com cérebro", manifesto escrito por Fred Zero Quatro, do Mundo Livre S/A, que forjou os alicerces do Mangue Beat.
Um trecho, na parte final do texto, destaca: "Os mangueboys e manguegirls são indivíduos interessados em hip hop, colapso da modernidade, caos, ataques de predadores marítimos (principalmente tubarões), moda, Jackson do Pandeiro, Josué de Castro, rádio, sexo não-virtual, sabotagem, música de rua, conflitos étnicos, midiotia, Malcom Maclaren, Os Simpsons..."
Guardadas as devidas diferenças geográficas e temporais, boa parte do que interessava aos jovens pernambucanos de 30 anos atrás também interessa aos jovens de hoje - de BH, Recife, São Paulo, Manaus ou Porto Alegre. O mais importante disso tudo é que boa parte das bandas que nasceram naquela época continuam na ativa - e com relevância - hoje.
Do octeto original que formou a Nação, hoje restam somente três integrantes: Du Peixe, o baixista Dengue e o percussionista Toca Ogan. No show, eles tocarão ao lado do guitarrista Nailton, da Devotos (em substituição a Lúcio Maia, que deixou a banda no ano passado) e do baterista Tom Guerra, que está com o grupo desde a saída de Pupillo, em 2018.
"Banda é casamento. Temos que ser atenciosos, segurar a relação, manter as relações, compartilhar ideias. Só não tem beijos e afagos como um casal. As relações começam e terminam, as coisas são assim. Mas estamos aqui borbulhando", diz Du Peixe, hoje o único que vive em São Paulo.
Os demais voltaram para o Recife. E foi ali que, na semana passada, o grupo deu "os primeiros sopros de ideia" para o próximo disco. O mais recente álbum autoral é "Nação Zumbi" (2014). Em 2017, a banda lançou "Radiola NZ", de versões.
"A gente vem da época do álbum que, para mim, é um formato necessário. Mas, tendo em vista a correria do universo digital, com gente lançando singles e só depois o disco inteiro, estamos pensando em fazer um EP com oito, nove músicas. É divertido entrar em estúdio, mas o formato de 12 músicas (o convencional para um disco) tem que parar", avalia Du Peixe.
• Leia também: Marina Sena evita o 'mais do mesmo' em seu novo álbum, 'Vício inerente', lançado este ano
PROGRAMAÇÃO
Confira quem se apresenta no festival
PALCO SENSA
13h30 - Yago Oproprio convida Criolo
15h40 - Baile Reggae da Céu
17h40 - Manguefonia (Nação Zumbi e Convidados)
19h40 - Gloria Groove convida Valesca Popozuda
PALCO MASTERPLANO
14h - Famynta
16h - Shigara
17h - Carlos do Complexo
18h - Nelson D
19h - Supololo/Joanna Mescladi
20h - Romana/Okofá
21h - Carol Mattos
PALCO HÍBRIDO
14h40 - Hermeto Pascoal & Grupo
16h40 - Fundo de Quintal convida Leci Brandão
18h40 - Flora Matos
20h40 - Marina Sena
12h - Deska Sound
16h10 - Augusta Barna
17h20 - Getúlio Abelha
18h40 - MC Tha
19h50 - La Coya
21h - MC Luanna convida Clara Lima
SENSACIONAL
• Neste sábado (24/6), das 12h às 22h, no Parque Ecológico da Pampulha, Avenida Otacílio Negrão de Lima, Portaria I, nº 6.061 (Marco Zero)
• Ingressos: R$ 260 (inteira) e R$ 130 (meia entrada e ingresso social)
• À venda no shotgun.live/pt-br
• Ingressos: R$ 260 (inteira) e R$ 130 (meia entrada e ingresso social)
• À venda no shotgun.live/pt-br
Secretaria de Saúde prevê ações educativas no Parque
Ao longo desta semana, duas problemáticas em torno da realização do Sensacional vieram à tona. A primeira foi o pedido do Ministério Público de Minas Gerais para o cancelamento do evento, alegando danos à comunidade local (há várias casas de repouso na Pampulha) e ao meio-ambiente.
Na terça-feira (20/6), o juiz Thiago Grazziane, da 1ª Vara da Fazenda Pública de Belo Horizonte, negou a ação do MPMG. O festival será realizado até as 22h, sem nenhum impedimento.
A outra questão é referente à febre maculosa e aos casos que estão sendo notificados no país, já que o festival será realizado em um parque. Por meio de sua assessoria de imprensa, a Fundação de Parques Municipais e Zoobotânica informou que não houve, até o momento, registro oficial da presença de carrapatos contaminados pela bactéria da febre maculosa nas áreas verdes administradas pela PBH.
Tampouco houve registros da doença na capital mineira. Mesmo assim, a Secretaria Municipal de Saúde vai reforçar as ações educativas na região da Pampulha e no Parque Ecológico durante o festival, com a distribuição de material informativo sobre as medidas preventivas.
Há 10 anos o Parque Ecológico foi cercado para evitar a entrada de capivaras (que podem carregar o carrapato-estrela, hospedeiro primário da bactéria causadora da febre maculosa). A partir de 2017 foi iniciado um trabalho para controlar a população das capivaras na Pampulha - elas foram esterelizadas e microchipadas. Em 2022, segundo a nota enviada pela assessoria, havia 12 capivaras na região.