escritor Alexandre Staut

Alexandre Staut, organizador da coletânea de contos, diz que autores ficaram livres para escolher os temas, que vão de consulta médica à questões relativas a sexo

Giuliana Nogueira/Divulgação

 

Em meados da década passada, a revista eletrônica “São Paulo Review”, criada pelo escritor e editor Alexandre Staut em 2013, publicou uma série de contos em que autores convidados escreviam sobre seus pares – ou melhor dizendo, em diálogo com eles. Essa série, que nasceu de uma sugestão do escritor niteroiense Sérgio Tavares e foi batizada como “Gerúndio a dois”, inspirou o livro homônimo, que segue a mesma premissa.

 

A Folhas de Relva Edições, fundada por Staut em 2018, chancela a obra, que reúne 28 escritores – incluindo o próprio editor, que responde pela organização do livro – em diálogo com outros autores consagrados, vivos ou mortos. Nos títulos dos contos, verbos no gerúndio estabelecem a ação entre o convidado e seu homenageado.

 

Assim, o leitor verá, ao longo de 177 páginas, “Vagner Amaro aconselhando Machado de Assis”, “Andrea Nunes sonhando com Augusto dos Anjos”, “Mailson Furtado seguindo um cortejo com Manuel Bandeira”, “Carlos Marcelo escutando Eduardo Frieiro”, “Ana Elisa Ribeiro rindo de certos pesadelos com Clarice Lispector”, “Marcelo Maluf tocando bateria com Fernando Sabino” ou “Santiago Nazarian consultando Drauzio Varella”.

 

AFETO NAS LETRAS “No ano passado, lembrei dessa série da 'São Paulo Review', num momento em que estava vendo muitas matérias sobre desavenças no meio literário, muitas tretas entre escritores, e pensei em explorar o outro lado: o humor, o carinho, o encontro entre escritores. Resolvi pegar a ideia da série 'Gerúndio a dois', convidando autores brasileiros de todas as regiões do país para falarem de seus amores literários”, diz Staut, que, no livro, aparece “acendendo uma fogueira com Davi Kopenawa”.

 

Ele conta que chamou também escritores indígenas, mas estavam todos muito ocupados e declinaram do convite – isso, aliás, é o que justifica a escolha de seu homenageado. Alguns convites foram feitos já com um direcionamento. “Chamei o Vagner Amaro, por exemplo, para fazer algo no gerúndio com Machado de Assis, porque ele é editor da Malê, cujo foco é a publicação de autores negros”, explica.

 

Houve, segundo o organizador da obra, uma preocupação em equilibrar homens e mulheres e escritores muito conhecidos com outros que ainda não desfrutam de grande visibilidade – tanto do lado de quem escreve quanto do lado dos homenageados. “A Keka Reis fez um conto sobre uma autora atual de livros infantis, a Índigo; a Anita Deak dialoga com um autor do Pará, o Vicente Franz Cecim; Maria Valéria Rezende elegeu Drummond; Alexandre Vidal Porto conversa com Guimarães Rosa”, exemplifica.

 

CONVERSAS VIRTUAIS Staut ressalta que o processo de feitura do livro foi tão prazeroso que está sendo estendido: os autores deram início, nesta semana, a uma série de lives, transmitidas pelos respectivos perfis no Instagram, conversando entre si sobre seus percursos literários e processos de criação. Ele diz que, durante o planejamento de “Gerúndio a dois”, foi criado um e-mail coletivo para as conversas e que, a partir dessa experiência, Andréa del Fuego, que no livro aborda Ivana Arruda Leite, sugeriu essa série como mais um canal de divulgação.

 

O organizador destaca que alguns dos escritores presentes no livro já haviam participado da iniciativa da “São Paulo Review”, como Raimundo Neto e Sérgio Tavares. De resto, o critério para a escolha e convite aos participantes foi o seu gosto pessoal. “São autores que vieram à minha cabeça, gente que eu leio, que acho interessante. Com vários deles eu sequer tinha uma relação prévia de proximidade, mas já acompanhava a produção”, diz.

Ele pontua que coube a cada escritor escolher com quem seria o interlocutor, e que, por coincidência ou por sorte, não houve conflitos.

 

TEXTOS Foram poucas as orientações sobre o direcionamento dos textos, conforme aponta. “Uma das sugestões que passei para os autores foi para que puxassem pelo humor, porque acho que, no conto, esse é um ingrediente importante. Eu não queria uma coisa sisuda, de louvor aos interlocutores. Também sugeri uma escrita acessível, pensando muito na moçada do ensino médio. A ideia foi bem pautada por isso, apresentar Machado de Assis, Lima Barreto ou Augusto dos Anjos para o público escolar de uma forma diferente, atraente”, diz.

 

Com relação às temáticas, Staut ressalta que são as mais variadas, indo de uma consulta médica a questões relativas a sexo. “O conto da Maria Valéria Rezende, 'esclarecendo Carlos Drummond de Andrade', é bem engraçado. No texto da Thais Lancman, ela se coloca trocando um pneu com Lygia Fagundes Telles”, pontua.

 

 

DIÁLOGOS COMPARTILHADOS

Quem são os autores contemporâneos que escrevem para seus pares, vivos e ou mortos 

 

» Vagner Amaro/Machado de Assis

» Ary Quintella/Castro Alves

» Maria Valéria Rezende/Carlos Drummond de Andrade

» Andrea Nunes/Augusto dos Anjos

» Sergio Leo /Lima Barreto

» Rogério Duarte/Raul Pompeia e José Lins do Rego

» Marcia Camargos/Pagu

» Mauricio Vieira/Cecília Meireles

» Mailson Furtado/Manuel Bandeira

» Ronaldo Cagiano/Rosario Fusco

» Carlos Marcelo/Eduardo Frieiro

» Ana Elisa Ribeiro/Clarice Lispector

» Paula Fábrio/Hilda Hilst

» Marcelo Maluf/Fernando Sabino

» Raimundo Neto/Torquato Neto

» Alexandre Vidal Porto/Guimarães Rosa

» Walther Moreira Santos/Lúcio Cardoso

» Sérgio Tavares/Murilo Rubião

» Isadora Sinay/Ana C.

» Thais Lancman/Lygia Fagundes Telles

» Alex Andrade/Caio Fernando Abreu

» Eltânia André/Campos de Carvalho

» Andréa del Fuego/Ivana Arruda Leite

» Keka Reis/Índigo

» Anita Deak/Vicente Franz Cecim

» Santiago Nazarian/Drauzio Varella

» Mariana Ianelli/Anna Maria Martins

» Alexandre Staut/Davi Kopenawa

 

“GERÚNDIO A DOIS: ESCRITORES BRASILEIROS CONTEMPORÂNEOS CONVERSANDO COM SEUS PARES”

 

  • Organização de Alexandre Staut
  • Folhas de Relva Edições
  • 177 páginas
  • Preço: R$ 57,90