“Minha menstruação tá atrasada”. A frase já causou aflição e ansiedade em muitas adolescentes que não estavam preparadas para passar pelas circunstâncias de uma gravidez. Não é diferente com Alicia, uma garota que se vê prestes a ser mãe, sem nem mesmo ter finalizado o ensino médio.
É no Brasil real que o filme “Derrapada” mergulha, mas sem didatismos. A obra entrou em cartaz no circuito nacional na semana passada e tem Nanda Costa, Luis Miranda, Matheus Costa e Heslaine Vieira no elenco, entre outros. O filme usa de agilidade narrativa e interferências gráficas para contar a história do relacionamento entre dois adolescentes que vivem uma gravidez precoce. Samuca e Alicia se envolvem durante uma ocupação na escola pública carioca onde estudam.
A gravidez na adolescência é mote central da trama, que conquista o público não somente pelo roteiro realista, mas também pela qualidade do elenco, com destaque especial para a dupla de jovens protagonistas. O filme acerta ao falar de um tema relevante na sociedade brasileira com honestidade. Para se ter uma ideia do tamanho do problema, por dia são 1.043 adolescentes que se tornam mães no Brasil. Por hora, nascem 44 bebês de mães adolescentes – os dados são do Sistema Único de Saúde (SUS).
Alicia é uma menina negra, filha de pai advogado, que se envolve com ativismo na escola. Samuca é um jovem que passa horas tentando acertar a manobra perfeita na pista de skate. Ambos estão descobrindo a sexualidade, começam a namorar e passam horas transando. Numa dessas, acontece a tal derrapada, e fazem sexo sem camisinha.
PAI AUSENTE É como se a história se repetisse. Samuca nasceu quando sua mãe, interpretada por Nanda Costa, tinha a mesma idade de Alicia. A gravidez na adolescência impediu que Melina continuasse os estudos. Com o pai ausente de Samuca, ela consegue criar o filho fazendo bolos. Seu maior medo é que o filho passe pelo mesmo perrengue.
Sem saber ao certo como lidar com a responsabilidade de tomar conta de um novo ser humano, o casal de adolescentes vai aprendendo a lidar com o caminhão de novidades e a diminuição instantânea de horas de sono, além dos constantes palpites dos avós. Precisam assumir responsabilidades de adultos de um dia para o outro.
Falar sobre o período da adolescência é tema de interesse da atriz Nanda Costa. Em “Sonhos roubados”, filme de 2010 dirigido por Sandra Werneck, Nanda interpretou uma personagem que passava por gravidez na adolescência. “Até hoje sou abordada por jovens que assistem a esse filme nas escolas públicas”. Trabalhar ao lado do diretor Pedro Amorim foi outro atrativo, segundo a atriz.
Mas aprender a importância do tema não veio com a ficção. Ela também passou pelo mesmo contexto, pois nasceu quando a mãe tinha 17 anos. “Tenho propriedade para falar do assunto”, diz. Para Nanda, é fundamental promover uma reflexão sobre essa situação que impacta não somente os adolescentes como também suas famílias. “Quantos jovens passam por isso sem planejamento ou educação sexual”, reflete.
PROJETOS Aliás, ter sido filha de mãe adolescente e pai ausente é um traço importante na história da atriz. “Isso me causou um impacto que me trouxe onde eu cheguei”, resume. “Se eu não tivesse sido filha de pai ausente, talvez não teria conquistado as coisas que conquistei, estudei, me tornado atriz. Isso me deu muito medo de engravidar cedo, sabia como poderia atrapalhar meus estudos e meus sonhos”, completa.
Casada com a percussionista Lan Lan e mãe de gêmeas com quase 2 anos, Nanda Costa também está na TV atualmente, na série documental “Do amor e de luta”, exibida no GNT. No segundo semestre, a atriz estará na nova temporada da minissérie “Justiça”, no Globoplay. Também está nos planos da atriz a adaptação para o cinema do livro “O ano que morri em Nova York”, escrito pela jornalista Milly Lacombe.
POLO MINEIRO O filme “Derrapada” tem coprodução da Camisa Listrada BH, produtora mineira. Parte das filmagens foram feitas em Cataguases, no Polo Audiovisual da Zona da Mata. O filme é uma adaptação de “Slam”, livro do autor britânico Nick Hornby.
“DERRAPADA”
Direção de Pedro Amorim.
Elenco: Nanda Costa, Luis Miranda, Matheus Costa e Heslaine Vieira. Em cartaz no Una Cine Belas Artes (Rua Gonçalves Dias, 1.581 – Lourdes) e no Centro Cultural Unimed-BH Minas (Rua da Bahia, 2.244 – Lourdes)