A cantora Julia BrancoDaniel Barbosa

O novo disco de Júlia Branco tem 10 faixas, com produção de Ana Frango Elétrico; há uma releitura de Caetano Veloso e uma canção inédita de Arnaldo Antunes e Márcia Xavier

Sillas H./Divulgação

Com seu primeiro álbum solo, "Soltar os cavalos" (2018), Júlia Branco causou rebuliço: figurou nas listas de melhores do ano de jornais de circulação nacional, ganhou prêmio do BDMG Cultural e chamou a atenção de nomes como Arnaldo Antunes e do incensado produtor André Midani. Passados cinco anos, uma gravidez e a chegada da filha Cora, atualmente com 1 ano e 7 meses, a artista e a mãe se amalgamam para trazer à luz um novo trabalho.

O cartão de visitas é o single "Fim e começo", que acaba de chegar às plataformas. Parceria com Siso, a música prenuncia o novo disco, cujo nome Julia prefere não revelar ainda, mas que está previsto para agosto, já com todas as 10 faixas - nove canções e uma introdução - finalizadas. Essa introdução, aliás, traz uma "participação especial" de Cora.

Julia diz que o tempo é o assunto principal do novo trabalho, mas que a maternidade ocupa uma camada importante dentro das reflexões propostas. "Tudo caminhou muito junto para mim. Aprovei o projeto de gravação desse segundo álbum solo no dia em que descobri que estava grávida", diz.



Ela explica que a gravidez e a pandemia influenciaram diretamente no processo de produção, que teve início no começo de 2021. O álbum foi gravado no Estúdio 304, de Chico Neves, que produziu "Soltar os cavalos", mas, desta vez, a cantora e compositora acabou delegando a função para a carioca Ana Frango Elétrico.

Contexto de pandemia

"Trabalhar com Chico é maravilhoso, mas teve essa questão do tempo, entendemos que não daria para ele fazer. Para o primeiro disco, a gente ficou muito tempo em estúdio. Agora, nesse contexto de gravidez e de pandemia, ficou complexo conciliar as agendas", destaca Júlia.

Ele não produziu, mas de certa forma marcou presença no trabalho, em aspectos que vão desde a escolha dos microfones para a gravação até pitacos nas composições, conforme diz Júlia. Ela conta que já acompanhava com admiração o trabalho de Ana Frango Elétrico, que aceitou prontamente o convite para capitanear a feitura do álbum.
O lançamento de "Fim e começo" marca a abertura de um novo capítulo, o encerramento de uma etapa e a renovação de ciclos, segundo Julia. O novo álbum também fala sobre encontrar um lugar. "O segundo disco traz sempre um desafio, um estigma. 'Soltar os cavalos' me abriu muitos caminhos, mas não quis, agora, fazer uma continuação dele. Queria que fosse um disco em que eu pudesse experimentar outras coisas", diz.


Sonoridade dançante 

Esse desejo passa, por exemplo, pela banda, formada principalmente por músicos do Rio de Janeiro, que Ana Frango Elétrico aglutinou. Passa, também, pela sonoridade: "Fim e começo" é uma música dançante e, segundo a cantora, dá, em boa medida, o direcionamento do trabalho.

"Eu quis explorar mais a presença da banda, então, sim, é um disco mais vibrante, mais para fora. 'Soltar os cavalos' era muito em cima da minha voz; ela continua tendo um protagonismo, mas dividindo a cena com a instrumentação. A gente tem chamado de pop elegante, o que acho que é um elemento do trabalho da Ana", ressalta.

Julia guardava como referência os discos de Marvin Gaye, mas o trabalho acabou tomando outros rumos. "Queria fazer um álbum que soasse nostálgico, que tivesse um calor de gravação analógica, embora ele não tenha sido feito dessa forma." A artista chama a atenção, também, para a questão geracional, o que se vincula com a ideia de tempo que o novo trabalho explora.

"Minha geração, os millennials, é a geração do entre, porque não está no ambiente ultratecnológico da geração Z e também já não tem o caráter nostálgico da geração anterior. A gente ter começado a divulgação com 'Fim e começo' tem a ver com o assunto, porque trata de um tempo que não se pode localizar com precisão. A maternidade também traz esse lugar incerto, em que você não sabe muito bem onde está", diz.

Das 10 faixas do álbum, uma é releitura de uma música de Caetano Veloso - que Júlia também prefere não revelar qual -, outra é uma inédita de Arnaldo Antunes em parceria com Márcia Xavier, e as demais são composições próprias, em parceria com nomes como Bruno Cosetino e Guilherme Lira.

O novo trabalho de Júlia não traz participações especiais, o que ela diz ter sido proposital, pois tem a ver com o fato de querer encontrar seu lugar e se afirmar nele, depois da trajetória bem-sucedida de "Soltar os cavalos". "É um disco muito feminino, o que também é uma marca do meu trabalho. Minha criação é misturada com a intimidade do que estou vivendo. Tem essa camada pessoal que sempre atravessa o que faço."