A sensação, durante 25 minutos, é a de que o tempo parou. Indiana Jones dá socos, pontapés, corre, pula, emenda uma piada na outra, sobe, desce, encara o vilão, salva o amigo. Tudo em altíssima velocidade, já que a ação acontece em um trem em movimento. Estamos em 1944, os nazistas há muito começaram a perder a guerra, mas ainda cantam de galo. E Indy está tentando salvar algumas relíquias que eles pilham na Europa destroçada.
Ele faz isto tudo porque tem 37 anos. E é impressionante acompanhar Harrison Ford, então com 79, quando “Indiana Jones e a relíquia do destino” foi rodado, com as mesmas feições dos filmes precedentes de uma das franquias de aventura mais populares do cinema. O filme anterior da série tem 15 anos – os melhores são da década de 1980.
E o ator, que completa 81 em 13 de julho, aparece como o conhecemos no longa que encerra a trajetória do personagem. Última produção sobre o pacato professor de arqueologia que, a bordo de seu chapéu e chicote, torna-se o mais destemido dos aventureiros, “Indiana Jones e a relíquia do destino” chega nesta quinta-feira (29/6) aos cinemas celebrando sua própria história, mas fazendo uso intenso da tecnologia.
Inteligência artificial em ação
O prólogo que coloca o espectador dentro da narrativa – e ocupa um quinto das duas horas e meia do longa – foi um dos aspectos mais complicados da produção. A Industrial Light & Magic (ILM), divisão da Lucasfilm, de George Lucas, destinada aos efeitos visuais, fez uso de várias técnicas para conseguir rejuvenescer o ator.
Entre elas, um sistema de inteligência artificial de propriedade da própria Disney (proprietária da Lucasfilm) que uniu imagens antigas de Ford em poses e iluminação semelhantes às que foram realizadas para o filme. Ou seja, para que a mágica dos efeitos acontecesse e ficasse crível no filme, Ford teve que realmente encenar o que vemos na tela. E não há um reparo a fazer, diga-se de passagem.
Este é o único dos filmes que não teve a mão de Steven Spielberg na direção. O cargo aqui ficou por conta de James Mangold (“Logan” e “Ford vs. Ferrari”). Mas os nomes que criaram o personagem, George Lucas e Spielberg, continuam presentes, desta vez como produtores-executivos. Outro nome caro à série, o compositor John Williams assina a trilha – a música-tema permeia toda a narrativa, aparecendo em momentos cruciais do personagem.
O filme teve uma concorrida première no mês passado, no Festival de Cannes, onde Ford, francamente emocionado, recebeu a Palma honorífica.
Ainda que a história tenha início em 1944, o tempo presente (do filme, é claro) ocorre bem depois. Voltando à sequência inicial, Indy está colocando as mãos na Lança do Destino (ou Lança de Longino), a arma usada para perfurar o tórax de Cristo durante a crucificação.
Descobre que o artefato é falso, então vai correr atrás de outra relíquia, a Anticítera, criada por Arquimedes na Grécia antiga, que permitiria a seu dono controlar o tempo e o espaço. O criador dividiu o mecanismo em dois, escondendo a outra metade.
Indy não está sozinho em sua busca. Um nazista, Jürgen Voller (Mads Mikkelsen), quer tomar posse da Anticítera. A sequência termina com ele e seu fiel escudeiro, Basil Shaw (Toby Jones, sempre ótimo em cena), pulando do trem. De posse da metade do mecanismo.
Solitário, rabugento e mal-humorado
Vinte e cinco anos depois, Indy vive sozinho sua recém-chegada aposentadoria em Nova York. Rabugento por sua irrelevância no mundo moderno, em que o homem celebra sua chegada à Lua, é o mau humor em pessoa. Reclama dos vizinhos hippies tocando Beatles, toma café com uma providencial dose de uísque. É só fazer as contas e perceber que o personagem está na casa dos 60 anos – mas Ford, nos 80, segura a onda.
Quanto a Indy, não há mais nada a fazer, até que... sua afilhada, Helena Shaw (Phoebe Waller-Bridge, que o mundo conheceu pela série “Fleabag”), filha de Basil, reaparece. Indy não a via há 18 anos. Nas lembranças dele, ainda é uma garota esperta ligada nas pesquisas do pai. Mas a Helena adulta anuncia que é também arqueóloga e que gostaria de se juntar ao padrinho para localizar a parte faltante da Anticítera.
Só que ela também não está sozinha nesta. Voller, o velho nazi, se reinventou. Com um nome falso, ele é o cérebro por trás do pouso da Apollo 11 na Lua. Enganou o governo dos Estados Unidos para, finalmente, conseguir o mecanismo milenar, controlar o universo e reintroduzir o nazismo.
O elenco traz mais um astro, Antonio Banderas, em uma pequena participação que não tem lá muita importância – mas a presença dele no filme já mostra o poderio de Indiana Jones.
A história segue para uma série de perseguições e lugares exóticos (Tânger, no Marrocos, e Siracusa, na Sicília), como dita a tradição da franquia. Phoebe encara a função de coestrela de Ford sem o menor problema. É atrevida e divertida, e o timing das piadas entre a velha e a nova escola funciona. Há ainda um ótimo coadjuvante, o adolescente Teddy (Ethann Isidore), ajudante de Helena.
Sempre fazendo referências à mitologia do personagem – e recuperando situações que remontam aos seus primórdios – “Indiana Jones e a relíquia do destino” é leve, divertido, aventureiro e bobo em igual medida. Harrison Ford prova, mais uma vez, que o charme da velha escola consegue resistir à passagem do tempo. Mesmo que com a providencial ajuda da tecnologia.
“INDIANA JONES E A RELÍQUIA DO DESTINO”
(EUA, 2023, 154min., de James Mangold, com Harrison Ford e Phoebe Waller-Bridge) – Estreia nesta quinta (29/6) nas seguintes salas:
. BH 1, às 14h, 17h10, 20h20 (dub);
. BH 2, às 12h (sáb e dom), 15h10, 18h20, 21h30 (leg);
. BH 7, às 21h (dub);
. BH 8, às 13h10, 16h20, 19h40 (leg);
. Big 1, às 14h50, 17h40, 20h30 (dub);
. Big 3, às 19h30 (dub);
. Big 4, 17h10, 20h (dub);
. Boulevard 5, às 16h30, 19h40 (dub, exceto sex) e 17h50, 20h50 (dub, somente sex);
. Boulevard 6, às 14h30, 17h30, 20h30 (leg);
. Centro Cultural Unimed-BH Minas 2, às 17h, 20h (leg);
. Cidade 7, às 14h30, 17h30, 20h30 (dub, exceto dom); 11h, 14h, 17h, 20h (dub, somente dom);
. Cidade 8, às 13h50, 16h50 (dub), 19h50 (leg);
. Contagem 5, às 14h20, 17h20, 20h20 (dub);
. Contagem 6, às 14h50 (exceto dom), 17h50 (dub), 20h50 (leg);
. Del Rey 3, às 14h30, 17h30 (dub), 20h30 (leg);
. Del Rey 5, às 14h10, 17h10, 20h10 (dub);
. Diamond 1, às 13h10, 16h20, 19h30 (leg);
. Diamond 4, às 12h (sáb e dom), 15h10, 18h20 (exceto qua), 21h30 (leg);
. Diamond 5, às 14h20 (dub), 17h20, 20h30 (leg);
. Estação 3, às 14h, 17h15, 20h30 (dub);
. Estação 4, às 15h, 18h15, 21h30 (dub);
. Itaupower 1, às 20h50 (dub);
. Itaupower 5, às 14h30, 17h30, 20h30 (dub);
. Minas 3, às 14h20, 17h20, 20h20 (dub);
. Minas 6, 20h50 (dub);
. Monte Carmo 6, às 17h50 (dub), 20h50 (leg);
. Monte Carmo 7, às 14h10, 17h10, 20h10 (dub);
. Norte 1, às 14h50, 17h40, 20h30 (dub);
. Norte 4, às 19h30 (dub);
. Pátio 4, às 12h50, 16h (leg), 19h10 (dub);
. Pátio 5, às 12h (sáb e dom), 15h10, 18h20, 21h30 (leg);
. Ponteio 1, às 14h30, 17h30, 20h30 (leg);
. Ponteio 3, 20h50 (leg);
. Via 3, às 14h30, 17h30, 20h30 (dub);
. Via 5, às 19h40 (dub, exceto sáb), 20h50 (dub, somente sáb).
DE VOLTA PARA O PASSADO
Os filmes anteriores da franquia estão disponíveis no Disney+ e Globoplay (só para assinantes do pacote com Telecine), além de aluguel e compra pelas plataformas de vídeo sob demanda
. “Os caçadores da arca perdida” (1981)
Filme que inaugurou a franquia e venceu quatro Oscars (direção de arte, som, montagem e efeitos visuais), acompanha o jovem arqueólogo Indiana Jones. Em 1936, ele é contratado pelo governo dos Estados Unidos para procurar pela Arca da Aliança. Alvo da cobiça dos nazistas, a relíquia conteria os “Dez Mandamentos”, que, segundo a Bíblia, foram transmitidos por Deus a Moisés. De acordo com a lenda, o possuidor do conteúdo da arca seria invencível. Ainda que seja o longa inicial, pela cronologia é a segunda história da série.
. “Indiana Jones e o templo da perdição” (1984)
Vencedor do Oscar de efeitos visuais, o segundo filme é uma prequela do anterior. Foi ambientado em 1935 porque George Lucas não queria que os nazistas fossem novamente os vilões. Na história, Indiana Jones vai parar em uma aldeia remota da Índia. Seus moradores pedem que ele encontre uma pedra sagrada. Na empreitada, ele descobrirá uma perigosa seita, adepta da escravidão infantil e da magia negra, e um templo perdido que nunca deveria ter sido reencontrado.
. “Indiana Jones e a última cruzada” (1989)
Também vencedor de um Oscar técnico, de edição de som, o filme volta a ter nazis como vilões. A história tem dois tempos: 1912, com um jovem Indiana Jones (River Phoenix), e 1938, onde se desenrola a maior parte da narrativa. Depois que seu pai (Sean Connery) desaparece enquanto procura o Santo Graal, Indiana Jones deixa a Europa e vai atrás do pai e da relíquia. O velho professor Henry Jones foi capturado por nazistas.
. “Indiana Jones e o reino da caveira de cristal” (2008)
Considerado o mais fraco filme da série, coloca o protagonista não mais contra nazistas, mas soviéticos. E a pegada é mais de ficção científica. No final dos anos 1950, em plena Guerra Fria, o herói da Segunda Guerra Mundial Indiana Jones é raptado por um grupo de agentes soviéticos. Estes estão atrás de uma caixa que contém os restos mortais de um extraterrestre que havia caído em Roswell, Novo México. Na nova aventura, Indy conta com a colaboração do filho, Mutt Williams (Shia LaBeouf).