Eles costumam ter ritmo acelerado, quantidade enorme de diálogos, narrativa envolvente e personagens que encarnam os estereótipos das comédias românticas do cinema. Além disso, são extremamente populares nos booktoks, segmento de literatura do Tik Tok, e suas autoras, na maioria mulheres, atraem filas de fãs em palestras e sessões de autógrafos de feiras e bienais de livros.
Colleen Hoover, Emily Henry, Lynn Painter, Ali Hazelwood são sucessos nas listas das redes sociais de jovens leitores com comédias românticas propositadamente espelhadas em roteiros que poderiam muito bem estar nas telas de cinema ou nas plataformas de streaming, mas trazem um aditivo que pode ser um alento: como são livros com, em média, entre 300 e 400 páginas, ajudam a desenvolver a concentração e o gosto pelas letras. Uma vantagem no planeta da leitura rápida e superficial proporcionada pelas redes sociais.
Na maior parte dos livros, as personagens são estudantes universitárias ou jovens que lutam para desenvolver uma carreira no mercado de trabalho. Relacionamentos amorosos e profissionais, dramas, mistérios e reviravoltas são temperos comuns das narrativas, assim como desilusões, frustrações e, eventualmente, violência e abusos.
Em 90% dos romances dessa categoria, é possível adivinhar o plot nas primeiras páginas, especialmente quando se trata de formar par romântico, tema de grande parte dos títulos.
Obsessão por filmes
Autora do bestseller “Melhor do que nos filmes”, Lynn Painter conta, em entrevista por e-mail, que é fã de comédias românticas no cinema e queria que o livro, recém-lançado pela Intrínseca, parecesse com um filme.
"Queria uma comédia romântica sobre comédias românticas que desse a sensação de assistir a uma comédia romântica", diz a autora da narrativa que tem o casal Liz e Wes como protagonistas. "Usei a obsessão de Liz pelos filmes para ambientar as cenas, para afiar seu ponto de vista de forma que a lente fosse mais uma espectadora do que de uma leitora."
Emily Henry, autora de “Loucos por livros”, romance referendado por Colleen Hoover, uma das maiores estrelas desse nicho literário e espécie de rainha das listas de mais vendidos, conta que costuma fazer rascunhos muito rapidamente, o que resulta em um primeiro esboço feito em um ou dois meses. É um tempo recorde para elaborar um romance, mas suficiente se for pensado em forma de roteiro de comédia romântica.
A fonte pode ser, como diz a autora, qualquer coisa. "Muitas vezes, vem de um filme ou um livro que realmente gosto, mas no qual percebo uma maneira totalmente diferente de como poderia ter sido. Quando tenho curiosidade sobre algo — uma premissa, um tropeço, um personagem — sei que é um bom ponto de partida", explica.
Em “Loucos por livros”, publicado no Brasil pela Versus Editora, ela conta a história de Nora Stephens, uma editora bem-sucedida nos negócios e cuja vida amorosa carece de sucesso. Charlie é o personagem masculino da narrativa e sua aparição nas primeiras páginas aponta para uma história bastante previsível. A intenção é entreter e levar um pouco de otimismo para o cotidiano dos jovens leitores.
"Quero que meus livros lhes tragam alegria e afirmação como pessoas. É muito fácil ser pessimista neste mundo, mas espero que minhas histórias ajudem as pessoas a encontrar esperança na escuridão", afirma a autora, que fez cursos de escrita criativa e começou a escrever romances em 2016.
Colleen Hoover é uma das mais conhecidas nesse universo da literatura para jovens adultos versada em comédia romântica. “É assim que acaba”, publicado em 2016, vendeu mais de 20 milhões de livros graças a uma viralização repentina no TikTok em 2021, em comunidades de booktok.
Entretenimento e autoajuda
Relacionamento abusivo e superação pessoal são temas presentes no romance que Colleen, uma ex-assistente social moradora de um trailer que escrevia nas horas vagas, gosta de desenvolver nos livros. Esses dramas pautam a vida dos personagens de “É assim que acaba” e de outros romances da autora. "Não escrevo para educar ou informar, escrevo apenas para entreter e esse continua a ser o meu único objetivo", costuma avisar a autora em entrevistas.
No Brasil, Colleen é publicada pela editora Record, no selo Galera. São mais de 19 títulos, sendo que o próximo, “É assim que começa”, foi lançado em maio deste ano e, segundo a editora norte-americana, vendeu 800 mil exemplares no dia do lançamento. Moradora do Texas, a autora de 43 anos fez das redes sociais uma plataforma de divulgação que acabou por atingir um nicho de leitores jovens e ativos, que gostam de maratonar os romances e se envolver em comentários.
A própria Colleen é conhecida pela receptividade às discussões sobre seus livros, das quais, eventualmente, também participa. Uma das características de sua escrita é a enorme variedade de personagens e temas, uma marca também de outras autoras.
SETE PERGUNTAS PARA
Lynn Painter, escritora
1. “Melhor que nos filmes” é uma história de amizade e amadurecimento. Como você abordou esses temas no livro e qual mensagem você esperava transmitir aos leitores?
Na verdade, eu não tinha a intenção de abordar esses temas, mas eles simplesmente se encaixam naturalmente ao escrever sobre alunos do último ano do ensino médio. Espero que os leitores possam se identificar com os personagens e perceber que todos estão passando por algo complicado em suas vidas, ninguém tem todas as respostas, mas, no final, há sempre a esperança de que o amor prevalecerá.
2. A protagonista do livro, Liz, passa por várias experiências transformadoras ao longo da história. Quais foram as principais inspirações por trás da construção desse personagem e como você acha que os leitores podem se relacionar com ela?
Pensei que seria divertido criar um personagem que acha que sabe tudo sobre amor e romance, mas não percebe que o amor acontece de forma própria quando está pronto. Ela tenta mudar a si mesma, mas acaba encontrando o que procura somente quando abraça sua verdadeira essência.
3. O ambiente escolar desempenha um papel importante na trama. Como você decidiu retratar a dinâmica dos relacionamentos entre os adolescentes e como isso se reflete em suas vidas e escolhas?
Não consigo imaginar escrever um livro sobre adolescentes e não incluir o ambiente escolar; ele está presente, gostemos ou não, certo? Tentei criar amizades que parecessem autênticas às personalidades dos personagens e também procurei evitar estereótipos do ensino médio, como, por exemplo, líderes de torcida são más, atletas são valentões, alunos inteligentes são chatos, etc. Pode ser ingênuo da minha parte, mas acredito que todo personagem tem potencial para ser redimível.
4. O livro combina elementos de comédia romântica com momentos emocionantes e reflexivos. Como você equilibrou esses diferentes aspectos e qual foi seu objetivo ao criar essa mistura de gêneros?
Eu sabia que a história de Liz com sua mãe e o luto persistente que ela vivencia seria emotiva, mas, como é uma comédia romântica, me esforcei para que essas situações não se tornassem pesadas. Eu queria equilibrar cada momento melancólico com algo engraçado, para que o leitor não precisasse mergulhar profundamente em seus sentimentos.
5. Qual é a importância da literatura para jovens adultos nos dias de hoje? Como você vê o papel desse gênero na formação dos jovens leitores?
Acredito que a literatura para jovens adultos é importante da mesma forma que a ficção em geral é importante: ela transporta os leitores e amplia sua visão de mundo. Na minha opinião, o objetivo da literatura para jovens adultos não é moldar os jovens leitores, assim como o objetivo da ficção adulta não é moldar os leitores mais velhos. O objetivo, penso eu, é permitir que o leitor seja entretido e participe da experiência única de um personagem. Se isso, no final, acrescentar uma consciência que os ajude a se moldar, isso é apenas um bônus.
6. O estilo de escrita na literatura para jovens adultos é frequentemente acelerado e cativante. Como você trabalha para criar uma narrativa envolvente e uma voz autêntica para seus jovens personagens?
Isso é o que eu mais gosto na literatura para jovens adultos, porque adoro uma história acelerada e centrada nos personagens. Normalmente, planejo meus livros de uma maneira visual, organizando-os cena por cena, como se fossem roteiros, e sinto que isso me ajuda a manter o ritmo.
7. A tecnologia e as redes sociais desempenham um papel significativo na vida dos jovens hoje. Como você aborda esses elementos em suas histórias e qual é o equilíbrio entre refletir a realidade dos jovens e evitar a obsolescência em relação às mudanças tecnológicas?
Sinto que seria negligente não incluir essas coisas, pois elas fazem parte de nossas vidas diárias, mas as plataformas estão em constante mudança. Tento usar uma linguagem vaga em relação à tecnologia, para incluí-la no texto, mas sem especificar o meio. Por exemplo, posso dizer que um personagem está "rolando a tela" ou "verificando suas redes sociais". Talvez "assistindo a vídeos sem sentido". Não quero que pareça que os detalhes estão ausentes, mas, na publicação, o que um autor escreve hoje pode levar de 1,5 a 2 anos para ser lançado. Some a isso a esperança de que o livro tenha uma certa longevidade, e estamos falando de tentar adivinhar quais plataformas serão populares daqui a três anos. Acho que nem mesmo Musk ou Zuckerberg conseguiriam acertar isso.“MELHOR DO QUE NOS FILMES”
• Lynn Painter
• Intrínseca (352 págs.)
• R$ 59,90 (livro) e R$ 39,90 (e-book)
“LOUCOS POR LIVROS”
• Emily Henry
• Verus (434 págs.)
• R$ 54,90
“É ASSIM QUE ACABA”
• Colleen Hoover
• Galera (368 págs.)
• R$ 54,90