Um dos principais berços musicais do Brasil, a Bahia gerou artistas importantes do axé, pagode, rock, MPB e reggae. No hip-hop, o estado demorou a ganhar visibilidade, mas conseguiu se estabelecer como um dos grandes polos após a descentralização do gênero, muito ligado a São Paulo, Rio de Janeiro e Distrito Federal até o meio da década passada.
Entre os nomes mais populares do gênero nas plataformas de streaming está o rapper Teto, natural de Jacobina, no interior da Bahia. O artista, de 21 anos, promete para o segundo semestre seu álbum de estreia, que mescla trap, subgênero do rap, com estilos baianos.
O primeiro disco de Teto vai sair pela gravadora cearense 30PRAUM, responsável pela gestão das carreiras dos cantores Matuê e WIU. As canções mais populares do jovem MC baiano são “M4”, “Fim de semana no Rio” e “Vampiro”, todas com mais de 100 milhões de reproduções no YouTube e no Spotify.
“Axé, música baiana e afrobeat estão em minhas raízes. Esses estilos sempre foram uma inspiração. Seja com o suingue, a guitarra que a gente consegue mesclar, a forma de criar métrica, voz e letra ou com a escolha do beat. Sempre escolho batidas com o máximo possível de instrumentos percussivos. Isso sempre fez parte de mim. No meu álbum, quero traduzir essa musicalidade”, explica Teto.
Estreia solo
Lançado em 30 de março, o single “Minha vida é um filme” foi o primeiro trabalho solo de Teto desde “Fim de semana no Rio”, lançada um ano antes. O rapper vinha de uma longa sequência de colaborações com Matuê e Wiu, além de artistas de outras gravadoras.
Apesar de ter sido produzida com base no afrobeat e contar com clipe gravado em paisagens exuberantes da Bahia, Teto garante que a canção mostra nova proposta de sua carreira, mas não estará entre as 13 faixas do álbum de estreia.
“Tive um choque de realidade ao fazer esse som, foi como se estivesse começando tudo do zero de novo. Senti as mesmas incertezas e inseguranças de quando lancei 'M4'. Foi lindo ver a resposta positiva do meu público e o carinho que a galera desenvolveu pela faixa. As pessoas vêm me falar que mudei a vida delas com esse som, que elas se sentiram como eu gostaria que elas sentissem. Isso não tem nada que pague”, diz.
O rapper acredita que o afrobeat tem imenso potencial no Brasil. E aponta os nigerianos Burna Boy e Ajebo Hustlers como as maiores inspirações de sua nova fase.
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Criado em Jacobina, cidade de menos de 100 mil habitantes, Teto é o verdadeiro jovem interiorano. Após morar cerca de dois anos em São Paulo devido à carreira, o rapper diz que logo se mudará de volta para a Bahia.
Para o novo álbum, promete a melhor colaboração que já fez com Matuê e Wiu. Revela que planejou apenas mais duas participações, sendo uma carioca e outra baiana, pois acredita que o disco deve ter foco em músicas solo que definam sua identidade.
“Estou sofrendo, porque quero contar uma história real no meu álbum, não quero inventar uma história. Todos os dias estou quebrando a cabeça para entender como traduzir o que quero que meus fãs entendam. Essa é minha maior missão agora, não é nem fazer música. Músicas a gente faz em um estalo, fico 20 minutos no estúdio e já saio com um som. Agora, conseguir amarrar isso na cabeça do público e fazer com que ele entenda as perguntas, os porquês e as respostas, essa é a grande dificuldade”, afirma.
Fidelidade ao trap, com tempero afrobeat
O afrobeat será um dos temas, mas não o foco da produção. O artista pontua que não pode deixar de lado o trap. “Não estou com pressa (para terminar o álbum). Estou todos os dias anotando, apagando e escrevendo (letras). Quando acho que estou no caminho certo, falo: ‘Isso não está fazendo sentido nenhum’ e volto para o começo. São acertos e erros. Este álbum é meu primeiro filho, e não quero que seja um filho rebelde, quero que ele cresça saudável”, comenta, aos risos.
Teto faz questão de destacar a união dos rappers do Nordeste. “O público, a cena e os artistas nordestinos são muito unidos. Sempre que faço show em Salvador ou Fortaleza, o camarim fica lotado, enche mesmo. E abrimos as portas porque é nossa terra, povo do nosso povo, sangue do nosso sangue. Vibra junto, sente junto e entende o que a gente passa, porque todo mundo do Nordeste passa por perrengues para ser aceito”, comenta. “Nosso povo é amado, carente e precisa de cultura, que estamos aí para levar”.
Ao comentar o rap da Bahia, ele cita Baco Exu do Blues, de Salvador, Jovem Dex, de Feira de Santana, e o coletivo soteropolitano ICEDMOB, com Aimar, Dael, Cold e Izzat.
“Vejo inúmeros pivetes de Salvador no ‘corre’ e com muito potencial para estourar. O que falta para esses moleques é um pouquinho de oportunidade e visão. É para isso que estou fazendo meu corre. Estou trabalhando para que um dia eu possa, de algum jeito, dar oportunidades para a rapaziada da minha área, porque eu sei o quanto é difícil para nós. É muito escassa a oportunidade de ter uma gravadora ao nosso alcance, de botar nosso trabalho na pista da forma honesta como a gente sonha e recebendo o que merecemos”, conclui Teto.