Michel Houellebecq autografa livro

Em Paris, Michel Houellebecq autografa a versão em HQ do romance "O mapa e o território"

Joel Saget/AFP

 
O escritor francês Michel Houellebecq é conhecido em seu país pelas declarações polêmicas, mas também pelas incursões em outros campos artísticos, como demonstra a versão em quadrinhos de seu premiado livro “O mapa e o território”, recém-publicada na França.
 
O lançamento rendeu a aparição em público do romancista, na semana passada, em uma galeria de arte privada parisiense, após meses de escândalo devido à sua participação em um filme tachado como pornográfico, realizado por um diretor holandês.
 
“Se eu soubesse, não teria vindo”, disse Houellebecq diante da câmera da AFPTV, em tom de brincadeira. Com um dispositivo de segurança discreto, ele autografou livros e conversou com os fãs de forma descontraída.
 
Autor de “Partículas elementares” e “Lanzarote”, Houellebecq é figura habitual em controvérsias políticas quase desde o início de sua carreira literária, há mais de duas décadas.
 
Quadrinhos criados por Louis Paillard expostos em galeria

Galeria expõe quadrinhos criados por Louis Paillard para ilustrar livro de Houellebecq

Joel Saget/AFP
 

Da música eletrônica às telas

Ao mesmo tempo, protagonizou colaborações pouco comuns para um escritor, como shows de música eletrônica, histórias em quadrinhos, exposições e filmes.
 
A colaboração com Louis Paillard, ilustrador do livro “O mapa e o território”, começou há 12 anos. “Enviei um e-mail e ele simplesmente me respondeu”, contou Paillard, arquiteto de formação, ao explicar como o projeto começou.
 
“O mapa e o território”, quinto romance de Houellebecq, publicado em 2010 e vencedor do Prêmio Goncourt, narra a vida de Jed Martin, artista que ganha fama como fotógrafo e pintor.

Como a grande maioria das obras do escritor, o livro serve como uma reflexão sobre a França contemporânea, suas tensões sociais e religiosas.
 
“Eu gosto dele”, comentou Michel Houellebecq em alusão a Paillard. “Por que confiamos nas pessoas? Pois não sei.”
 
O autor francês diz que seu excesso de confiança no polêmico cineasta holandês Stefan Ruitenbeek o levou a se deixar filmar na intimidade para “Kirac 27”.
 
Houellebecq quer proibir a distribuição do longa gravado em Amsterdã, ou pelo menos eliminar as sequências mais controversas. Por enquanto, porém, “não há acordo” com Ruitenbeek.
 
Inclusive, o francês acaba de publicar um diário da peripécia, chamado “Quelques mois dans ma vie” (“Alguns meses na minha vida”, em tradução livre).
 

Na mira do terror islâmico

O escritor já esteve no centro de polêmicas mais graves, como a publicação de “Submissão” (2015), romance distópico sobre um presidente francês islâmico que coincidiu com o ataque contra a revista Charlie Hebdo, ocorrido em 7 de janeiro daquele ano.
 
O atentado jihadista levou o escritor a ficar sob proteção policial durante meses. Suas aparições públicas têm sido escassas desde então.
 
Na nova HQ, Houellebecq e Paillard mantiveram sua estreita colaboração. “É como uma adaptação cinematográfica”, observou o escritor.
 
Houellebecq já retratou vários personagens que se parecem física ou emocionalmente em seus livros, desde sua estreia com “Extension du domaine de la lutte” (1994).
 
No segundo livro, “Partículas elementares”, esse retrato se desdobra por meio da história de dois irmãos. “Certamente, é muito mais difícil compor dois personagens de cada vez”, reflete em voz alta.
 
Apesar de tantas controvérsias, Houellebecq não parece disposto a desistir das incursões além do território literário. Tanto é que anunciou sua participação em outro filme de Guillaume Nicloux, com quem, aliás, já trabalhou.