Um texto teatral dos anos 1930 se tornou uma deliciosa (e atualíssima) comédia feminista. Com estreia nos cinemas nesta quinta-feira (6/7), “O crime é meu” é o 22º filme de François Ozon em 25 anos. Mais prolífico cineasta francês da atualidade, a exemplo de um de seus filmes mais populares – “8 mulheres” (2002) –, ele reúne um homem assassinado e várias figuras femininas suspeitas.
O ponto de partida do longa é a peça “Mon crime” (também o título original do filme), espetáculo em dois atos lançado por Georges Berr e Louis Verneuil em 1934. Na adaptação, Ozon manteve o período.
Na Paris dos anos 1930, duas jovens amigas – a atriz Madeleine Verdier (Nadia Tereszkiewicz) e a advogada Pauline Mauleón (Rebecca Marder) – suam para pagar o aluguel vencido do pardieiro que dividem.
Madeleine, a loira, é linda, mas não consegue bons papéis – não há nenhuma razão para que ela realmente seja uma boa atriz. Pauline, a morena, é sempre sua coadjuvante. Inteligente e sem papas na língua, formou-se em direito mas não consegue clientes.
Em casa, Pauline é avisada do despejo pelo senhorio. Madeleine chega pouco depois, irritada e frustrada. Havia ido ao encontro de um rico (e velho) produtor teatral. Ele lhe ofereceu um papel mínimo, mas também uma quantia vultuosa para que ela se torne sua amante regular.
Além da carreira que não sai do lugar, Madeleine tem de lidar com o jovem noivo André Bonnard (Édouard Sulpice), de família rica e nenhuma vontade (ou talento) para trabalhar. Sem o menor pudor, ele lhe oferece uma solução (ótima para ele, deprimente para ela). Vai se casar com uma rica e feia herdeira e Madeleine será sua amante.
Sob suspeita
Nesse meio tempo, o inesperado acontece. O velho produtor foi assassinado em casa, pouco depois da saída de Madeleine. Rapidamente, ela é apontada como a principal suspeita pelo investigador Gustave Rabusset (Fabrice Luchini). Resolver esse caso de grandes proporções será ótimo para a carreira dele.
Madeleine não tem muitas opções e Pauline lhe dá o caminho a seguir. Ela confessa o assassinato e, no julgamento, a partir das palavras escritas pela amiga advogada, surge a grande atriz. A vida está finalmente sorrindo para a dupla. Só que uma pessoa do passado aparece, atrapalhando os planos.
Odette Chaumette (Isabelle Huppert, que a partir do momento em que entra em cena toma o filme para si) foi estrela do cinema mudo. Mas ninguém se interessou por sua carreira com a chegada do som, e a incontinência verbal da própria Odette não a ajudou nem um pouco. No ostracismo e com a idade avançando, ela vê no crime a sua chance de dar a volta por cima.
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O cenário está montado para várias discussões pertinentes tanto ontem quanto hoje: a voracidade da imprensa; homens abusivos; autoridades corruptas; guardiões da moral e dos bons costumes. Etarismo e sexismo também, é claro. Os diálogos são desfiados com elegância – ninguém é realmente inocente, e ninguém tampouco se importa com isso.
A partir de uma questão deliciosamente amoral – o assassinato notório do qual todos querem tirar proveito –, o “O crime é meu” diverte com elenco formado por diferentes gerações de atores franceses. Que, pelo andar da carruagem, devem ter se divertido à beça durante as filmagens.
“O CRIME É MEU”
(França, 2023, 115min., de François Ozon, com Nadia Tereszkiewicz, Rebecca Marder e Isabelle Huppert). Estreia nesta quinta-feira (6/7), com sessões no Ponteio 4, às 16h35, 18h50 e 21h10, e UNA Cine Belas Artes 2, às 14h, 16h10, 18h20 e 20h30.
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