Em seus espetáculos, Zé Celso deixou todo mundo pelado. Atores, atrizes, público. A nudez é inerente às montagens do Oficina. Disse ele, em entrevista em 2010: "A inspiração da nudez é a mesma do retorno à fonte da vida, ao amor, ao fazer amor, ao tomar banho, ao nosso nascimento. Quem tem medo das partes que nos deram a vida são burros, otários, cegos, dominados, escravos".
Um dos casos mais célebres ocorreu em 1996, durante apresentação do espetáculo "As Bacantes", no Rio de Janeiro. Caetano Veloso, então com 53 anos, ficou nu durante aproximadamente 10 minutos.
Ele estava na plateia, foi tirado de seu lugar por uma atriz e despido pelos atores, que encenavam sexo grupal - nas sessões da peça, isto acontecia sempre com uma pessoa do público. No início um pouco constrangido, Caetano depois relaxou, dançou no palco e foi aplaudido. "Para mim foi normal, fiquei relax", disse ele, após o espetáculo.
Mais recentemente, o encenador despiu Reynaldo Gianecchini. Lançado em 2021, o documentário "Fédro" (disponível na plataforma Star+), mostra o reencontro do ator, que estreou profissionalmente em 1998 com o espetáculo "Cacilda!", com o encenador, seu mentor. Em dado momento da conversa, Zé Celso sugere que ele se dispa - a princípio constrangido, ele acaba aceitando.
A nudez dos atores em cena, que o público do Oficina conhece bem, chegou a trazer dissabores. Em 2005, houve uma temporada de "Os Sertões", baseada na obra de Euclides da Cunha, em Berlim. "Teatro pornô", foi como parte da imprensa alemã chamou o espetáculo dirigido por Zé Celso.
A montagem, que podia durar até seis horas (e com um elenco de quase 100 integrantes), misturou música, dança, carnaval e indígenas para contar a saga de Antônio Conselheiro. Alunos de escolas secundárias de Berlim fizeram parte do espetáculo.
Os tablóides publicaram que havia menores de idade em cenas que simulavam sexo oral e estupro. Na época, a produção da montagem afirmou que não havia menores nas cenas que envolviam sexo e que os alunos participaram depois de receberam autorização dos pais.
"O amor livre, o que chamam de indecência, pouca vergonha, é o maior fator de educação, formação cultural do ser humano", disse Zé Celso, em 2010. Mais recentemente, ele até brincou com isto. "Hoje não quero ficar pelado, já fiquei muito sem roupa na vida", disse, durante uma sessão de fotos que ele, muito bem vestido, realizou em 2015.
Seja como for, a última passagem do Oficina com Zé Celso em Belo Horizonte contradisse a marca do grupo. "Esperando Godot", uma versão tragicômica (e com muitas referências brasileiras) do clássico de Samuel Beckett, estreou em 2022, em São Paulo.
Teve duas temporadas naquela cidade, no Sesc Pompeia e no próprio Oficina. Ao final, os dois protagonistas, Marcelo Drummond e Alexandre Borges, terminavam sem roupa. Aqui, não. Os intérpretes dos vagabundos Estragão e Vladimir terminaram o espetáculo no Sesc Palladium completamente vestidos. (Com agências de notícias)
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