Larissa Borges está agachada e sorri

Larissa Borges vai lançar seu livro com rodas de conversa em centros culturais da capital mineira

Acervo pessoal

'Frequento manifestações artísticas e culturais aqui em Belo Horizonte, no Rio de Janeiro e até mesmo em outros países. E fico sempre com uma dúvida na cabeça: se nós mulheres fazemos tanto, por que não nos enxergam?'

Larissa Amorim Borges, escritora



“Periferias do gênero”, livro da psicóloga e ativista Larissa Amorim Borges, traça um paralelo entre a realidade de mulheres negras no hip hop e no funk e a luta pelo reconhecimento do protagonismo delas nos movimentos de rua na América Latina.
 
A autora reúne histórias e experiências de mulheres do Brasil, Costa Rica, Panamá, Colômbia, Venezuela, Argentina e Paraguai. O lançamento é acompanhado de palestras em centros culturais na periferia de Belo Horizonte.

Psicóloga e palestrante, Larissa Amorim lança “Periferias do gênero” na coleção que também traz “Metodologia de pesquisa afrocentrada e periférica”, ensaio sobre a invisibilização feminina entre rappers e funkeiros.
 
“Hip hop e funk são processos da juventude negra na diáspora, dentro e fora do continente africano. A presença da mulher nesses espaços é fundamental. Não há cultura negra sem a mulher. Ainda que elas estejam invisibilizadas, são presentes e fazem diferença na história”, afirma a autora.
 
Frequentadora de bailes de funk e rap desde 2000, Larissa fez parte de coletivos artísticos e se encantou pela música, a dança break e a arte do grafite – elementos que constituem a cultura hip hop.
 
“Nas festas, eu entendia o verdadeiro lugar da cultura e do lazer na vida do povo preto. Às vezes nos faltam direitos básicos, mas temos a poesia, a pintura e a dança para podermos nos recompor de violências e violações que sofremos”, afirma Larissa Amorim.
 

Protagonistas e invisíveis

Curiosa, a belo-horizontina questionava o porquê de as mulheres serem menosprezadas na cena do rap e do funk, embora muitas delas sejam atuantes na reverberação dessa cultura pela cidade. Foi assim que “Periferias do gênero” nasceu.
 
“Frequento manifestações artísticas e culturais aqui em Belo Horizonte, no Rio de Janeiro e até mesmo em outros países. E fico sempre com uma dúvida na cabeça: se nós mulheres fazemos tanto, por que não nos enxergam?”, diz Larissa.
 
A autora viajou para a Costa Rica e o Panamá, onde participou de eventos e percebeu nos relatos de mulheres colombianas, venezuelanas, argentinas e paraguaias tais dificuldades, ainda que elas se afirmassem como protagonistas na cultura de rua.
 
“A dinâmica do racismo e do patriarcado interfere na vida das mulheres em todo o planeta. Muitas vezes, por mais que as mulheres negras tenham um trabalho significativo, a chance de conseguirem visibilidade, financiamento ou monetização é mais restrita”, afirma.
 
“São 50 anos de hip hop no mundo e 40 anos no Brasil. Vemos que as barreiras ainda existem, mas conseguimos superar algumas. Às vezes, superamos por um tempo, elas continuam e a gente precisa tentar recomeçar de novo”, afirma Larissa.
 
Em constante mudança, o rap reafirma a importância da coletividade no fortalecimento da luta por uma sociedade mais harmoniosa e menos violenta, observa. “É importante pensarmos nos processos coletivos para fortalecer a individualidade e a coletividade em cada um”, diz Larissa.

Se estigmas patriarcais levam à invisibilidade feminina, a aliança entre as mulheres é a chave para o avanço sobre a discussão do machismo, acredita ela.
 
“Juntas, conseguimos nos identificar melhor e criar estratégias para construir projetos de resistência. Temos um longo percurso pela frente, vivemos em um país com muito feminicídio e cercado de violências físicas e simbólicas contra as mulheres”, diz Larissa Amorim

RODAS DE CONVERSA

Lançamento do livro “Periferias do gênero”. Na próxima terça-feira (11/7), às 19h, no Centro Cultural Salgado Filho (Rua Nova Ponte, 22, Salgado Filho). Dia 18/7, às 19h, no Centro Cultural Vila Santa Rita (Rua Ana Rafael dos Santos, 149, Vila Santa Rita). Dia 25/7, às 19h, no Centro Cultural Usina de Cultura (Rua Dom Cabral, 765, Ipiranga). Dia 4/8, às 19h, no Centro Cultural Liberalino Alves de Oliveira/Mercado da Lagoinha (Av. Antônio Carlos, 821, Lagoinha). Dia 5/8, às 14h, no Centro de Referência da Cultura Popular e Tradicional Lagoa do Nado (Rua Ministro Hermenegildo de Barros, 904, Itapoã).  Dia 12/8, às 14h, no Centro Cultural Venda Nova (Rua José Ferreira dos Santos, 184, Jardim dos Comerciários). 
 
* Estagiária sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria