Militani de Souza e Raul Garcia, a dupla de palhaços Serragi e Joe, estão sentados em banco no palco

Militani de Souza e Raul Garcia levam para seu espetáculo a memória e a simplicidade dos circos que circulam pelo interior

Priscila Garcia/divulgação
 

'O espetáculo tem de ser gostosinho. A diversão sintetiza tudo o que a gente cria. A simplicidade da comunicação do palhaço é o que encanta'

Militani de Souza, palhaço Serragi


Circulando por cidades do interior de Minas Gerais desde agosto do ano passado, o espetáculo “Aques'Dois”, protagonizado pelos palhaços e músicos Militani de Souza e Raul Garcia, chega a Belo Horizonte em única apresentação, neste domingo (9/7), às 16h, na Funarte. Além de atuar, a dupla Serragi e Joe responde por direção, texto, trilha sonora, figurino, luz e som.

Criador da Psiu de Luz – que é, ao mesmo tempo, grupo com foco nas artes cênicas e empresa que oferta peças e esquetes para empresas, aniversários e casamentos –,  Souza diz que “Aques'Dois” nasceu de sua longa amizade com Garcia, o que explica o fato de a dupla cuidar de praticamente tudo relativo à montagem.

“Estudamos juntos no Teatro Universitário da UFMG. Mais recentemente, eu estava com o espetáculo solo 'Qualé o pé', em que o Raul fazia a luz e o som. Ele também é ator, palhaço e músico, então pensei em criarmos um espetáculo em que pudéssemos estar juntos em cena. O ponto de partida de 'Aques'Dois' foi a amizade mesmo, a vontade de querer trabalhar juntos”, explica Militani de Souza.

Cenas na gaveta

 Ele já tinha algumas cenas criadas para “Qualé o pé” que não foram usadas, ficaram guardadas e acabaram constituindo uma base para a montagem que será apesentada logo mais na Funarte.

“Fui acessando esse material, falei para o Raul que dava um bom jogo, fomos nos encontrando para ensaios, com cada um trazendo um pouco do que queria falar, até que nasceu o espetáculo”, pontua.

Tendo como foco a arte da palhaçaria, as técnicas circenses e a música, “Aques'Dois” é uma coleção de esquetes, um jogo entre os dois artistas, segundo Souza. O espetáculo não tem dramaturgia fechada, mas se ancora em um roteiro.

“O que a gente faz não é circo teatro. Tem um único momento em que uma história é contada, de quando Serragi saía para pescar com seu avô, mas ela também está ali para justificar o jogo de cena”, aponta.
 

A montagem trabalha com modelos clássicos de clown: o branco, com o personagem sabido, que tenta ludibriar o parceiro de cena, e o augusto, mais ingênuo. Um serve de “escada” para o outro.

“Com essa composição, estruturamos o roteiro em que sabemos como começar, sabemos o que precisa ser feito e qual jogo vai acontecer, mas deixando bastante espaço para a interação com o público”, diz.

Vários elementos se somam na montagem. A música, por exemplo, cumpre papel fundamental, ao propor perguntas que serão respondidas pela plateia. “A gente já chega cantando para criar aproximação com o público. Além das gags, também trazemos malabares, mas tudo como parte da narrativa”, explica Militani de Souza.
 
Palhaços Serragi e Joe

Serragi e Joe usam elementos clássicos do clown

Aliny Mirely/divulgação
 

Pássaro, lua e música

Ele cita o número de diabolô, em que o cone arremessado para cima cumpre o papel de pássaro. “Depois o Serragi entra e fala da lua, usando a bolinha de contato para ilustrar o texto. Todos os objetos de cena estão ali por algum motivo, assim como as músicas, que foram criadas para conduzir a narrativa. A Psiu de Luz trabalha com circo, teatro e música, então tudo o que a gente cria tem um pouquinho de cada uma dessas linguagens”, pontua Souza.

O palhaço Serragi surgiu há 10 anos, tendo como inspiração as lembranças da infância de Militani de Souza, que morava em Nepomuceno, sua cidade natal, no Sul de Minas. Quando o circo chegava, ele, os irmãos e amigos moradores da rua onde a avó tinha casa corriam para acompanhar todo o processo, desde a montagem da lona.

“Éramos recrutados para ajudar. Os artistas nos davam vassouras e pediam que fôssemos cuidar da serragem, mas eu era alérgico. Daí veio a ideia do Serragi, a partir do caderno diário que comecei a escrever e me levou à Rua Belo Horizonte, número 402, o endereço de minha avó em Nepomuceno. Costumávamos criar nosso próprio circo no quintal da casa dela”, recorda.
 

'Existe a preocupação social, de levar arte ao povão mesmo, que é quem vai mais ao circo na cidade do interior. Eu me vejo no lugar dessas pessoas, o que acho necessário para o jogo acontecer em cena. É uma forma de as pessoas terem contato com a memória compartilhada do circo'

Militani de Souza, palhaço Serragi

 

O artista ressalta o caráter democrático e acessível das produções da Psiu de Luz. “São criações pensadas para todo mundo, normalmente apresentadas em espaços públicos. Existe a preocupação social, de levar arte ao povão mesmo, que é quem vai mais ao circo na cidade do interior. Eu me vejo no lugar dessas pessoas, o que acho necessário para o jogo acontecer em cena. É uma forma de as pessoas terem contato com a memória compartilhada do circo”, diz.
 
Questionado sobre a característica fundamental dos espetáculos da Psiu de Luz, ele não titubeia: “A diversão”. Souza considera que para divertir os espectadores é necessária a comunicação direta, que passa pela simplicidade.

“Quando crio esquete para empresa ou quando faço um espetáculo com o Raul, digo que ele tem de ser gostosinho. A diversão sintetiza tudo o que a gente cria. A simplicidade da comunicação do palhaço é o que encanta”, ressalta.

“AQUE'SDOIS”

• Com Militani de Souza e Raul Garcia
• Neste domingo (9/7), às 16h, na Funarte-MG  (Rua Januária, 68, Floresta)
• Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia-entrada)