Sairé é um pequeno município de 20 mil habitantes no agreste de Pernambuco. Nas férias escolares, Marcelo Jeneci aguardava ansiosamente para visitá-la. Não só a cidade, mas especialmente seus avós paternos. Nascido em São Paulo, foi criado até os 5 anos pela bisavó e pelos avós pernambucanos, já que seus pais trabalhavam o dia inteiro.
Um dia, o avô, pedreiro, pegou pneumonia. Consultou um médico do SUS que lhe sugeriu que deixasse São Paulo e voltasse às origens. O ar da terra natal ajudaria os pulmões, enfraquecidos pela poluição da metrópole. “Meus avós foram arrancados de mim e foram para Sairé, o ponto de partida de tudo em que acredito até hoje”, continua Jeneci.
Trilogia nordestina
Nesta sexta-feira (14/7), ele lança seu quarto álbum. “Caravana Sairé”, na verdade, será o primeiro de uma trilogia temática de Jeneci sobre a música nordestina. O primeiro é todo de regravações. O volume 2, já gravado, mas com lançamento para 2024, é todo autoral. E o terceiro ainda está em aberto.
“Esse negócio de fazer um disco de quatro em quatro anos acabou”, comenta ele, cujo trabalho mais recente é “Guaia” (2019). Além dos três discos, o projeto inclui o documentário que marca seu reencontro com o realizador pernambucano Helder Pessoa Lopes, autor do poema “Dar-te-ei”, uma das canções de “Feito pra acabar” (2010), álbum de estreia de Jeneci.
Lopes é também diretor artístico de “Caravana Sairé”, que chega aos palcos no mesmo dia do disco – serão três shows, de sexta a domingo (14 a 16/7), no Sesc Vila Mariana, em São Paulo.
“A partir dos diálogos que tivemos, fizemos imersão nos maiores sanfoneiros das menores cidades, que são os grandes arquitetos da música brasileira a partir do Nordeste”, conta Jeneci.
Para o primeiro álbum, foram selecionadas músicas de Luiz Gonzaga (o clássico “Baião”, parceria com Humberto Teixeira, e “Olha pro céu”, com José Fernandes), Accioly Neto (“Lembrança de um beijo”), Jorge de Altinho (“Devagar”), Antonio Barros e Cecéu (“Sou o estopim”).
O tema do primeiro clipe, gravado na própria Sairé, é “Felicidade”, canção que Jeneci compôs com o paraibano Chico César.
Pífanos sinfônicos
Para as gravações, Jeneci fez uma formação diferente da percussão tradicional do forró. “Fui em busca da percussão das tradicionais bandas de pífanos de Caruaru, que é mais sinfônica do que as de forró”, conta. Na zabumba está Mestre Bastos, nos pratos Mestre Zé Gago e no pandeiro Ivson Santos. Juba Carvalho completa o time da percussão, com tambores. Já as sanfonas são divididas entre Jeneci e Lucas Dan. A mesma banda do disco estará no palco da turnê.
“Lucas é um professor paraibano da escola de Dominguinhos. Além da sanfona, também toco órgão Hammond, já que Jovem Guarda e Luiz Gonzaga sempre andaram de mãos dadas juntos comigo. Já cantei com Erasmo e ganhei uma sanfona de Dominguinhos. Isso deu uma internacionalizada no resultado final”, diz ele. A mixagem foi feita em Los Angeles, por Mario Caldato.
Jeneci comenta que em seus discos anteriores as “melodias agrestinas” estavam presentes. “Mas agora é uma grande imersão no universo de canções que já existe. Vamos fazer o nosso baião, mas com outro tempero”, acrescenta . “Caravana Sairé”, diz o músico, celebra uma “terra encantada”, à qual retorna sempre que pode. O ar de Sairé, vale dizer, fez muito bem ao avô de Jeneci. “Hoje em dia, ele vive com o meu pai em Caruaru”, finaliza.
“CARAVANA SAIRÉ”
• Álbum de Marcelo Jeneci
• 10 faixas
• Lançamento nesta sexta-feira (14/7), nas plataformas digitais
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