Sabe a máxima de quanto pior, melhor? Cai como uma luva para a série “The great”, cuja terceira temporada estreia nesta sexta (14/7), no Lionsgate+. Pior no sentido de coisas terríveis, abomináveis e absurdas, e não de ruim, já que a produção tem um texto primoroso. É assinada pelo roteirista e produtor Tony McNamara, criador de “A favorita” (2018), filme que deu o Oscar de melhor atriz a Olivia Colman.





Aqui, mais uma vez, McNamara pega um fato histórico e o transforma completamente. No caso, o longo reinado de Catarina, a Grande (1729-1796), imperatriz da Rússia por mais de três décadas. “Ocasionalmente inspirada em uma história real”, é como a própria série se apresenta. Ou seja, é muita ficção. Isto deixa a trama – uma comédia fora do padrão – ainda mais interessante. Mas não é para todo mundo.

“Ou você ama, ou você odeia”, afirma o ator britânico Adam Godley, que interpreta o Arcebispo, o maior nome da Igreja Ortodoxa no reinado de Pedro III, marido de Catarina e imperador da Rússia. Mas seu personagem é chamado pela abreviação, Archie, que vai ao encontro de um personagem bem mais mundano do que caberia a uma autoridade religiosa.
 

 

Desafios e vingança

A nova temporada começa com Catherine (Elle Fanning) e Peter (Nicholas Hoult) tentando fazer seu casamento funcionar, após problemas que, para qualquer casal, seriam intransponíveis. “Tivemos algumas dificuldades”, diz Catarina na sequência inicial, em que ela e o marido se consultam com um terapeuta. “Aparentemente, o casamento tem desafios”, completa Peter.





Bem, no caso, um dos desafios ocorreu no fim da segunda temporada. Catarina tentou se recuperar do fato de que Peter transou com a mãe dela (e a matou no processo). O marido, por sua vez, fecha a guarda depois que a própria mulher matou seu sósia em vingança. Só pode ser piada. 

É por aí que a história começa na nova temporada. A corte ainda está achando que o imperador está morto e os amigos dele se preparam para também enfrentar a morte. A turma, que é odiada por Catarina, será submetida ao teste “A bala ou o urso” (também o nome do primeiro episódio). 

Basicamente, cada um tem duas opções: encarar um pelotão de fuzilamento ou ser atacado por um urso. Não há boas notícias para o grupo, como tampouco há misericórdia no casal Pedro e Catarina, que, depois de todas as traições, está sedento por sexo.





Ambos sabem que, apesar de dividirem a cama, a relação deles é um jogo de vida ou de morte. Mas para quem está ao seu redor ainda há espaço para algumas manobras. Archie, que sempre foi contra as ideias iluministas da imperatriz e ficou ao lado do imperador, viu que está de volta ao jogo. Catarina lhe pede conselhos e ele jura lealdade.

Que será apenas ilusória, diz Adam Godley. “Como sempre acontece com Archie, suas decisões são baseadas no que é melhor para a igreja. Ele apenas parece estar apoiando Catarina, mas sabemos que não será assim. Ele está indo para outra direção, e as coisas vão ficar realmente feias no decorrer da temporada.”

Archie é como um Rasputin cheio de libido e raiva. “São características que uma pessoa com um grau tão alto na igreja não tem permissão para ter. Então acho que ele vive estas contradições. Há sempre no personagem uma tensão entre o ser humano e a figura meio santa, o chefe da igreja. Além disto há a política, pois ele tenta proteger a todo custo as tradições da igreja que Catarina quer modernizar.”




 
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Cola, gelo e calor

Godley sofre com a caracterização do personagem, com seus longos cabelos e barba. Nas filmagens, durante o quente verão na Itália, para que ele suportasse a caracterização, que inclui vestimenta negra, usou muito gelo sobre o corpo nos intervalos das gravações. 

A preparação, diz o ator, leva algumas horas. “É muita cola, já que de meu mesmo é só o bigode. Todo o resto é colocado e retirado a cada dia de gravação. Quando começamos a série (a temporada inicial é de 2020), eu me preocupei se tudo o que veriam seria um monte de cabelo e pelo. Tive muito cuidado para que pudesse convencer como o personagem, que poderia ficar sobrecarregado por todo o visual.”

Para Godley, o maior trunfo de “The great” está na maneira como a história é escrita. “É uma série que expõe o que é essencial em um ser humano. Nenhum de nós é uma coisa só, todos temos nossas próprias contradições. E a vida é também cheia delas. Tragédia, comédia, muitas vezes elas andam juntas. A série encapsula esta ideia”, afirma.

“THE GREAT”

• A terceira temporada, com 10 episódios, estreia nesta sexta (14/7), no Lionsgate. Um novo episódio por semana

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