Dominguinhos era um dos poucos músicos que conseguia tocar ao vivo com maestria, sem qualquer ensaio. “Fiquei três anos me apresentando com ele pelo país e nunca o vi ensaiar”, revela o multi-instrumentista Arismar do Espírito Santo, baixista do sanfoneiro no projeto “Asa Branca”, realizado no início da década de 1990.
“Em todas as músicas que a gente o acompanhava, Dominguinhos tinha o costume de dar um passo para trás, em determinado momento, e deixar os músicos improvisarem. Era muito bacana, ele dava liberdade para a gente”, emenda Arismar.
É essa liberdade que ele pretende levar para o palco no show “Domingou – Homenagem a Dominguinhos”, que será realizado neste sábado (15/7), na Praça Floriano Peixoto. Arismar vai tocar com Gabriel Grossi (gaita) e Silvia Goes (piano).
Baixo, gaita e 'zabumba'
A apresentação integra o projeto BH Instrumental, marcando a estreia da turnê de lançamento do disco “Domingou – Zambumbaixo e fole de boca”, de Arismar e Gabriel, produzido pela Biscoito Fino.
Em formato inusitado – apenas baixo e gaita –, a dupla interpreta 13 sucessos de Dominguinhos. “Eu só quero um xodó”, “Lamento sertanejo”, “Contrato de separação” e “De volta pro aconchego” estão entre eles.
“O nome do disco é referência ao modo como tocamos os instrumentos”, explica Gabriel Grossi. “O Arismar faz uma batida no baixo que mais parece zabumba, enquanto toco gaita num estilo semelhante ao da sanfona. Foi uma proposta muito interessante. Até então, ainda não tinha visto nenhum projeto com esse formato”, emenda o gaitista.
A ideia surgiu das diversas conversas de Arismar e Gabriel a respeito de Dominguinhos (1941-2013), referência para ambos. Os dois tocavam músicas do sanfoneiro em projetos que realizavam juntos, mas o disco instrumental, só com canções do mestre pernambucano, veio das lembranças de suas turnês com o baixista e o gaitista.
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O repertório deste sábado terá as músicas do disco e também as que acabaram não entrando no álbum. A diferença é que, desta vez, Silvia Goes sobe ao palco para acompanhar o duo no piano. Ela foi a única pianista que tocou com Dominguinhos, ressalta Arismar.
Até a véspera do show, o trio ainda não havia decidido o repertório do show. “Dominguinhos tinha mais de 800 músicas, nós três tocamos com ele por algum tempo. Então, isso não vai ser problema”, brinca Arismar. Ele adianta que além dos clássicos do disco, devem entrar na setlist “Gostoso demais”, “Abri a porta” e “Cadê a marreca”.
Show até no brejo
O jeitão despreocupado de Arismar reflete bem o espírito de Dominguinhos. Além de não ensaiar, o sanfoneiro e compositor não se importava se suas apresentações ocorreriam em grandes palcos ou locais mais singelos.
“Certa vez, tocamos num charco lá em Goiás. Foi uma loucura danada. Eles colocaram o palco no meio do brejo para a gente. O Dominguinhos, quando viu, não achou ruim. Ele disse: ‘Olha que bonitinho!’”, conta Arismar, imitando a voz do sanfoneiro.
Dominguinhos conseguia, tranquilamente, fazer show de quase duas horas sem desanimar em momento algum. Aquelas apresentações eram verdadeiros bailes, relembra o baixista.
“Vejo Dominguinhos como unanimidade. Ele conseguiu agradar tanto as pessoas do universo popular quanto as do universo mais sofisticado, porque era um músico muito impressionante. Musicalmente falando, Dominguinhos tinha maturidade, sensibilidade e técnica incríveis”, destaca Gabriel Grossi.
"DOMINGOU – HOMENAGEM A DOMINGUINHOS"
Show de Arismar do Espírito Santo e Gabriel Grossi, com participação de Silvia Goes. Abertura: Ítalo Fernando Quinteto, Raissa Anastácia e Warley Henrique. Neste sábado (15/7), a partir das 17h30, na Praça Floriano Peixoto, Bairro Santa Efigênia. Entrada franca.