Dentro da estratégia de fidelizar os clientes e atrair novos correntistas, os grandes bancos têm apostado cada vez mais no patrocínio a grandes shows de artistas nacionais e internacionais.
Criar boas memórias para os fãs durante as apresentações e buscar, por meio de anúncios e promoções, associar aquele momento com a marca da instituição financeira responsável pelo patrocínio é a aposta que tem movido o setor financeiro em direção ao do entretenimento.
O Santander acaba de firmar uma parceria com a produtora global Live Nation para trazer nomes internacionais aos palcos brasileiros. A primeira estrela do line-up será a cantora canadense Alanis Morissette, mas fãs já especulam nas redes sociais sobre a possibilidade de a estrela norte-americana Beyoncé ser uma das próximas a vir ao país.
O Itaú, que já vem patrocinando nos últimos anos o Rock in Rio, também investiu no "primo paulista" The Town, enquanto o BB (Banco do Brasil) investe em patrocínios a eventos como o festival João Rock, em Ribeirão Preto, o Turá, em São Paulo e Porto Alegre, e o Primavera Sound, também em São Paulo.
O Bradesco, por sua vez, tem buscado rejuvenescer a marca por meio do patrocínio ao festival Lollapalooza, enquanto o C6 mirou as fichas na cantora Taylor Swift.
Benefícios
As parcerias entre bancos e artistas geralmente envolvem uma pré-venda antecipada exclusiva aos clientes, que também contam com descontos e parcelamentos estendidos no cartão de crédito.
O Itaú ofereceu aos clientes pré-venda exclusiva de ingressos para o "The Town" e lançou uma promoção na qual, a cada R$ 100 acumulados em compras no cartão, os clientes concorrem a um par de ingressos para o festival.
Diretor de marketing do Itaú, Eduardo Tracanella afirma que esse tipo de patrocínio é parte de uma plataforma de relacionamento maior e de longo prazo por meio da qual o banco estabelece uma conexão com seus clientes.
"O retorno se dá não só pela visibilidade e reconhecimento que a marca conquista, mas também da memória afetiva que eventos culturais patrocinados pelo banco geram", diz Tracanella.
O patrocínio aos grandes festivais de shows permite uma conexão não apenas racional com o público, via a oferta de produtos e serviços, mas principalmente emocional, afirma o diretor de marketing do Itaú.
Segundo ele, na última edição do Rock in Rio, que o banco tem patrocinado há seis edições, o Itaú foi a marca mais falada nas mídias sociais no primeiro final de semana, segundo levantamento da BrandWatch.
Na mesma linha, a executiva responsável pela área de experiência e cultura do Santander, Bibiana Berg, afirma que a parceria com a Live Nation busca trazer ganhos relacionados à percepção da marca junto ao grande público e estreitar o relacionamento com a base de clientes, além de atrair novos correntistas.
"Os shows atraem diversos públicos e a nossa ideia é trazer nomes que variam bastante ", afirma Bibiana, sem antecipar quais serão os próximos artistas a se apresentarem no Brasil por conta da parceria.
Rumores nas redes sociais indicam que a cantora norte-americana Beyoncé seria um dos nomes trazidos pela dupla, mas o Santander e a Live Nation não confirmam.
De toda forma, mesmo sem uma confirmação oficial, fãs da artista têm feito publicações nas redes sociais em que afirmam estar interessados em abrir uma conta no banco para ter acesso facilitado aos ingressos, que prometem ser disputados.
"A cada projeto, investigamos como podemos oferecer vantagens que nos ajudarão na missão de oferecer as melhores experiências aos clientes, assim, as memórias positivas nos ajudam a criar uma conexão perene com o banco, que é sustentada com o acesso a uma oferta de benefícios tangíveis por meio de nossos produtos e serviços que poderão ser usados em outras oportunidades, seja em um novo festival de música ou necessidades do dia a dia", afirma Tracanella.
O banco não abre a demanda que tem chegado por conta dos shows, mas, segundo Gustavo Santos, executivo responsável pela área de experiência do cliente, a parceria acaba de fato atraindo um público que até então não tinha relacionamento com o Santander e que passa a ter acesso aos produtos financeiros ofertados pela instituição, além de aumentar o engajamento de quem já é cliente.
"Nosso interesse não é só promover um show, mas mostrar que os nossos serviços dão outros benefícios não financeiros", diz Bibiana. "É muito importante vincular o cliente", acrescenta a executiva.
Segundo o BB, o banco busca patrocinar projetos que expressem a pluralidade cultural, a diversidade e a riqueza de manifestações regionais que garantam representatividade em suas produções.
O banco diz que atua com todos os públicos e segmentos da sociedade, gerando negócios e "experiências memoráveis com a marca".
"O BB já obtém resultados efetivos a partir de sua estratégia em marketing promocional e no patrocínio a eventos e projetos culturais. Por estarmos em um segmento de concorrência acirrada, optamos por não divulgar esses dados para preservação de nossos negócios", informou o BB em nota enviada à Folha.
O banco digital C6 também investiu no patrocínio de grandes shows para atrair clientes ao apostar nas apresentações da cantora norte-americana Taylor Swift.
Para os clientes que buscavam aumentar o limite do cartão de crédito para adquirir os ingressos, o banco digital lançou uma oferta em que, a cada R$ 1 investido no CDB Cartão de Crédito do C6, o cliente ganhava R$ 1 de limite adicional.
A operação, no entanto, gerou uma série de reclamações nas redes sociais por parte de clientes que se queixaram de não ter conseguido aumentar o limite após o investimento.
Acesso antecipado
Advogado e pesquisador do programa de serviços financeiros do Idec, Fabio Pasin afirma que, em linhas gerais, a jurisprudência no Código de Defesa do Consumidor não veda práticas relacionadas a promoções de bancos destinadas aos clientes para compra de ingressos em shows e eventos culturais.
No entanto, a restrição aos demais consumidores deve ser momentânea e por um período breve, sem prejudicar aqueles que não são clientes na aquisição dos ingressos.
"É preciso garantir que todos terão direito aos mesmos setores, sob as mesmas condições, sem elevação do preço em relação à pré-venda", diz Pasin.
Sem entrar em casos específicos, o pesquisador do Idec acrescenta que, caso a instituição financeira induza o consumidor a contratar um serviço apenas para ter acesso a determinado produto, a ação pode ser considerada uma venda casada, considerada prática abusiva pelo Código de Defesa do Consumidor.