O músico João Donato, morto nesta segunda-feira (17/7) aos 88 anos, afirmou em entrevista à Folha em 1986 que a bossa nova é o samba que não é tocado nos morros, referindo-se às favelas.

 

 

Na ocasião, ele se preparava para fazer um show no Hotel Maksoud Plaza, na região central de São Paulo. Apesar de ser considerado um dos precursores da bossa nova, Donato recusava o título. "Eu sou um dos maiores sambistas do Brasil e ninguém descobriu ainda", disse durante a entrevista.





 

"A bossa nova não existe. O nome é apenas uma confusão criada pela indústria ou pelos críticos. Para mim, bossa nova sempre foi samba tocado por uma moçada que não é do morro."

 

Donato se firmou na música brasileira por sua versatilidade, atuando como compositor, pianista, acordeonista, arranjador e cantor. Com um modo inconfundível de tocar piano, fundiu a bossa nova a ritmos caribenhos, promovendo um diálogo entre a música brasileira e tradições estéticas do continente americano.

 

 

Em suas composições, Donato primava pela uma forma simples de compor, que não escondia a complexidade de sua música.

 

Por isso, a forma como estruturava a harmonia no piano era reverenciada -senão invejada- por seus pares. No ano passado, ele lançou o disco "Serotonina", primeiro trabalho solo com canções inéditas em 20 anos.

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