cena da montagem de Rigoletto no Palácio das Artes

"Rigoletto", de Verdi, é uma das obras abordadas na montagem, que tem sessões de hoje a domingo, com ingressos já esgotados

Paulo Lacerda/Divulgação

Para onde vão os cenários e figurinos das grandes óperas montadas em Belo Horizonte? No caso da Fundação Clóvis Salgado (FCS), os objetos cênicos de todas as produções vão para o acervo da instituição e, raramente, voltam a ser utilizados.

“Eventualmente eles são alugados para montagens realizadas por teatros e companhias de outras cidades”, conta Cláudia Malta, diretora de produção artística da instituição. Ela conta que, recentemente, o cenário e o figurino da ópera “Aida”, de Giuseppe Verdi, montada pela FCS em 2001, foram alugados pelo Teatro Sodre, de Montevideo, no Uruguai.

Com o objetivo de reutilizar esses objetos e atrair o público amante da ópera que a FCS decidiu montar “Viva Ópera: Espetáculo dos clássicos operísticos”, que estreia nesta quinta-feira (20/7), no Grande Teatro Cemig Palácio das Artes, e segue em cartaz até domingo (23/7). Os ingressos já estão esgotados.

Com direção e concepção cênica do argentino Pablo Maritano, e regência de Ligia Amadio, o espetáculo é uma amarração de trechos de nove óperas que a fundação montou ao longo de sua história. 

Romantismo

Todas as montagens filiam-se ao romantismo italiano. São elas “O Barbeiro de Sevilha”, de Gioachino Rossini; “Norma”, de Vincenzo Bellini; “Lucia di Larmmemoor”, de Gaetano Donizetti; “Madama Butterfly” e “Turandot”, de Giacomo Puccini; e “La Traviata”, “Nabucco”, a já citada “Aida” e “Rigoletto”, de Verdi.

Além dos corpos artísticos da fundação -  Cia de Dança do Cefart, Orquestra Sinfônica e Coral Lírico de Minas Gerais -, integram o elenco como convidados as sopranos Eiko Senda e Ludmila Bauernfeldt, o tenor Lucas Damasceno e o barítono Filipe Santos.

Embora todas as obras façam parte do mesmo movimento artístico e, justamente por isso, contem com características em comum nas suas composições, “Viva Ópera: Espetáculo dos clássicos operísticos” procurou criar uma narrativa autônoma para interligar as árias dos diferentes compositores.

Evocando o clássico “Alice no País das Maravilhas”, de Lewis Carroll, a ópera começa com uma garota (interpretada pela atriz Eduarda Fernandes), prestes a dormir, que lê um livro sobre ópera. Quando cai no sono, tudo o que ela leu é reproduzido em sonho.

“Nós tivemos, sim, ‘Alice no País das Maravilhas’ como referência. Inclusive, temos até nossa versão do coelho branco. Mas, no nosso caso, não é um coelho, e sim uma dançarina”, brinca Maritano.
 

A parte musical do espetáculo começa com o solo de Melina Peixoto, que interpreta a sacerdotisa nos trechos “Scena delle sacerdotesse” e “Danza sacra delle sacerdotesse”, da ópera “Aida”. A obra de Verdi, muito semelhante a “Romeu e Julieta”, conta a história de amor entre a princesa etíope que dá nome à obra e o comandante do exército egípcio, Radamés, que, na impossibilidade de ficarem juntos, optam pela morte.

Na sequência, Eiko Senda entra em cena para interpretar a vilã Abigail, de "Nabucco", nas árias “Gli arredi festivi”, “Salgo già del trono aurato” e “Va, pensiero”. Por fim, cenas de “O barbeiro de Sevilha”, “Rigoletto”, “Norma” e  “Madama Butterfly” fecham o primeiro ato.

O segundo ato começa com “O barbeiro de Sevilha” (“Sinfonia”). Em seguida, as vozes do Coral Lírico interpretam a famosa cena do “Coro di Zingarelle e Mattadori”, de “La traviata”. Na sequência, Ludmilla Bauerfeldt e Lucas Damasceno entram em cena para interpretar os protagonistas Violetta e Alfredo, nos trechos “Brindisi” e “Sempre Libera”, da mesma ópera.

O segundo ato continua com a trágica “Lucia di Lammermoor”, que narra o amor proibido entre Lucia Ashton e Edgardo di Ravenswood. É a mesma dupla Ludmilla Bauerfeldt e Lucas Damasceno que dá vida aos protagonistas na ária “Sestetto: Chi mi frena in tal momento”. 

O trecho conta ainda com o barítono Michel de Souza no papel de Enrico, o baixo André Fernando como Raimondo, a mezzosoprano Estefania Cap como Alisa e o tenor Márcio Bocca como Arturo.

Eiko Senda retorna ao palco em seguida para cantar a ária “In questa reggia”, de “Turandot”. Na sequência, o libreto retorna em “La traviata”  (“Addio del passato”), passa por “Madama Butterfly” (“Un bel di vedremo”) e fecha com “Aida” (“Marcia trionfale”).

Sonho de criança

A personagem da menina que sonha com as óperas acompanha todas essas apresentações e interage com os solistas, bailarinos e coro, como se estivesse vivendo dentro do próprio sonho.

“Todos os personagens, sejam eles mocinhos ou vilões, são avatares da fantasia de uma criança e, naturalmente, também servem como metáfora de situações como a pressão da sociedade, desejos pessoais e a forma como se encara a morte. Ao entrar nessa viagem, a personagem da menina descobre os ciclos fundamentais da experiência humana”, comenta Maritano.

“Eu falo que esse espetáculo é uma declaração de amor à ópera. Logo, colocar isso na perspectiva de uma criança significa, para nós, o futuro do gênero ópera. Tínhamos o objetivo de vincular novamente o público com a casa. E, vendo que os ingressos se esgotaram rapidamente, me parece que esse objetivo foi cumprido”, diz o diretor. 

Não há previsão de sessões extras da ópera. Contudo, a ideia de uma nova montagem não está descartada. “Vai ser um espetáculo para dizer: quem viu, viu; quem não viu… verá”, diz Cláudia Malta, emendando rapidamente: “Se a gente resolver repetir no ano que vem”.

“VIVA ÓPERA: ESPETÁCULO DOS CLÁSSICOS OPERÍSTICOS”

Montagem com os corpos artísticos da Fundação Clóvis Salgado. Direção: Pablo Maritano. Regência: Ligia Amadio. Nesta quinta, sexta e sábado (20/7, 21/7 e 22/7), às 20h30; domingo (23/7), às 19h. No Grande Teatro Cemig Palácio das Artes (Av. Afonso Pena, 1.537, Centro). Ingressos esgotados.