Na véspera da partida final da Copa do Mundo de 1990, na Itália, entre Alemanha e Argentina, os cantores líricos José Carreras, Plácido Domingo e Luciano Pavarotti (1935-2007) se apresentaram nas ruínas das Termas de Caracala, em Roma, momento televisionado para o mundo. O show “Os três tenores” tinha como objetivo aproximar a música erudita dos mais diferentes públicos.
Deu certo. O projeto fez sucesso estrondoso nas décadas de 1990 e 2000, com apresentações em diferentes países – inclusive no Brasil, em julho de 2000, no Estádio do Morumbi, em São Paulo.
De olho na TV
O menino cantava em coral e ficou fascinado com a possibilidade de apresentar um repertório que transitasse de clássicos operísticos a trilhas sonoras, algo até então inédito.
Arancam se tornou fã do trio de astros. Mal poderia imaginar que futuramente seria apadrinhado artisticamente por Plácido Domingo, ao vencer, em 2008, a competição Operalia de Plácido Domingo.
Hoje com 41 anos e carreira consolidada na música, Arancam considera ter certa dívida com os tenores italianos. Formado em canto lírico pelo Teatro Alla Scala, de Milão, ele já se apresentou em diversos países, e foi dirigido por Plácido Domingo em “Carmen”, ópera de Georges Bizet.
Dessa relação de fã e afilhado nasceu o show “Tributo aos três tenores”, que Arancam estreia em Belo Horizonte, no próximo sábado (29/7), no Grande Teatro Cemig Palácio das Artes.
Acompanhado por orquestra e banda, ele resgata clássicos famosos nas vozes de Carreras, Domingo e Pavarotti, como “Non ti scordar di me”, de Ernesto De Curtis; “My way”, de Jacques Revaux, eternizada por Frank Sinatra; e “Singing in the rain”, de Arthur Freed e Nacio Herb Brown, gravada por Gene Kelly no musical que se tornou clássico do cinema.
“Tributo aos tenores” é um “crossover”, explica Arancam, referindo-se à junção de músicas clássicas e populares. Embora cante sozinho, ele presta homenagem aos três tenores sem deixar ninguém de fora.
Transitando por repertório múltiplo entre erudito e popular, em determinados momentos a banda executa arranjo mais orquestral e, em outros, o chamado arranjo de banda, ou seja, para baixo, guitarra, bateria e teclado.
“O sole mio”, uma das canções italianas mais conhecidas mundialmente, não ficará fora do repertório. A música, que por 104 anos não tinha autor reconhecido – em 2002, a Justiça italiana reconheceu Alfredo Mazzuchi como seu compositor –, é um marco no projeto “Os três tenores”.
Trata-se da última canção apresentada no concerto de encerramento da Copa de 1990, aplaudido de pé pelo público, empolgado com repertório tão eclético, na época, para um concerto de cantores líricos.
É “O sole mio” que Arancam canta para o repórter durante a entrevista, trocando os versos “O sole mio sta 'nfronte a te” por “Belo Horizonte, estou chegando”.
'Quando voltei da Europa, em 2018, morei em BH por quatro meses. Tenho grandes amigos na cidade, e frequentemente volto para participar de ações, ora no teatro, ora na igreja do padre Alexandre Fernandes'
Thiago Arancam, tenor
Carinho por BH
“Quando voltei da Europa, em 2018, morei em BH por quatro meses”, conta o tenor. “Tenho grandes amigos na cidade, e frequentemente volto para participar de ações, ora no teatro, ora na igreja do padre Alexandre Fernandes, um grande amigo meu”, emenda, citando o pároco da Paróquia Bom Jesus do Vale, em Nova Lima.
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Em 2007, Arancam foi para a Europa estudar na Academia de Canto Lírico do Teatro Alla Scala, em Milão. Em seguida, participou da competição Operalia de Plácido Domingo. Ao vencer, foi apadrinhado por Domingo.
Com o padrinho, fez uma série de apresentações na América do Norte e Europa. Além de “Carmen” (interpretava Don José), foi dirigido por Plácido Domingo em “Madame Butterfly”, de Giacomo Puccini, “Cyrano de Bergerac”, de Franco Alfano, e “Cavalleria rusticana”, de Pietro Mascagni, entre outros espetáculos.
Também foi Plácido Domingo que preparou Arancam para a montagem norte-americana de “Adriana Lecouvreur”, ópera de Francesco Cilea.
“Ó fantasma da ópera”
Em 2018, Arancam voltou ao Brasil para protagonizar “O fantasma da ópera”, de Andrew Lloyd Webber. O musical ficou em cartaz no Teatro Renault, em São Paulo, de agosto de 2018 até dezembro de 2019. Quando ele iniciaria a turnê nacional, chegou a pandemia.“Foi sofrido”, relembra Arancam. “A gente já tinha 35 cidades pré-estabelecidas, tudo certinho. Mas acabou que foi tudo por água abaixo”, acrescenta.
Agora, com o fim das restrições que a pandemia impôs, Thiago Arancam retorna aos palcos não com projetos próprios, mas com o tributo ao trio que o influenciou.
Para conceber a cenografia do show, recorreu ao artista plástico e amigo Jotapê. Esse artista, que teve na ópera seu primeiro contato com a arte ainda na infância, desenvolveu o cenário da turnê a partir de elementos e projeções que dialogam com o repertório por meio de cores e objetos cênicos.
Mais que prestar homenagem ao trio de tenores, o brasileiro pretende trilhar o mesmo caminho. “O projeto ‘Os três tenores' foi marco importante. Eles romperam barreiras do erudito, indo ao popular”, comenta Arancam.
“Se formos ver hoje, quem está mais próximo do que eles fizeram talvez seja (Andrea) Bocelli, que não deixa de ser ramificação da ideia primária que foi o projeto ‘Os três tenores’. No contexto mais atual, tem também o Il Volo, grupo italiano. Eu mesmo, nessa minha linha, deixei as grandes óperas para fazer algo mais voltado para o popular, para grandes plateias. Porém, de fato, eles (Plácido, Pavarotti e Carreras) são os precursores do conceito, gênero e estilo, além de serem referência para outros que vieram depois”, afirma.
Convite a Plácido
O show “Tributo aos três tenores” não é a única homenagem de Arancam ao trio italiano. Ele conta que mantém conversas com Plácido Domingo para trazê-lo ao Brasil.“Estamos vendo a viabilidade de trazê-lo em breve. Quem sabe para apresentar repertório que relembre ‘Os três tenores’. Estamos tentando encaixar agendas”, diz.
Perguntado se caso a vinda de Domingo ao Brasil se concretize, a estreia seria em Belo Horizonte, Thiago Arancam não garante, mas solta um sugestivo “por que não?”.
'Se formos ver hoje, quem está mais próximo do que eles fizeram talvez seja (Andrea) Bocelli, que não deixa de ser ramificação da ideia primária que foi o projeto 'Os três tenores'. No contexto mais atual, tem também o Il Volo, grupo italiano. Eu mesmo, nessa minha linha, deixei as grandes óperas para fazer algo mais voltado para o popular, para grandes plateias'
Thiago Arancam, tenor, sobre o famoso concerto de Plácido Domingo, Pavarotti e José Carreras
THIAGO ARANCAM
Concerto “Tributo aos três tenores”. No próximo sábado (29/7), às 21h, no Grande Teatro Cemig Palácio das Artes (Av. Afonso Pena, 1.537, Centro). Ingressos: R$ 180 (inteira/plateia 1), R$ 120 (inteira/plateia 2) e R$ 80 (inteira/plateia superior), na bilheteria do teatro ou pelo site eventim.com.br. Meia-entrada na forma da lei. Informações: (31) 3236-7400.
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