Leny Andrade

Leny Andrade foi comparada com Ella Fitzgerald pela crítica americana

Nana Moraes/divulgação
 
A cantora Leny Andrade, diva das boates de Copacabana nos anos 1960, e importante intérprete da fatia mais jazzística da Bossa Nova, morreu na madrugada desta segunda-feira (24/7), aos 80 anos.

“A diva do jazz brasileiro, Leny Andrade, foi improvisar no palco eterno. Leny faleceu nessa manhã, cercada de muito amor”, diz o texto em seu perfil no Instagram. Ela se recuperava de uma pneumonia e estava internada no Hospital das Clínicas de Jacarepaguá.
 
Nesta terça-feira (25/7), a cantora será velada junto da amiga, Doris Monteiro, que também morreu hoje, de causas naturais, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro.

Leny Andrade ficou como conhecida pelo canto refinado entre o jazz, o samba e a Bossa Nova em uma carreira de mais de seis de décadas. Lançou 34 álbuns.

Nascida no Rio de Janeiro em 1943, aprendeu piano clássico com a mãe, professora de música, e cantava desde criança. Adolescente, começou a participar de orquestras e programas de calouros.

A princípio influenciada pelas cantoras da era de ouro do rádio, Leny se destacou na noite carioca. Nos anos 1960, se tornou uma das divas das boates do Beco das Garrafas, em Copacabana. Segundo Ruy Castro, na época de Leny, o beco era o feudo de “cobras do samba-jazz”, entre eles Johnny Alf, Sergio Mendes e Wilson Simonal.

Inspirada em Dolores Duran, Leny tinha voz grave e aveludada, e canto empostado e poderoso, mais próximo do jazz do que dos vocais suaves e econômicos da Bossa Nova. Encaixava o suingue brasileiro em seu refino técnico.

Seu primeiro álbum, “A sensação” (1961), traz uma das principais características que marcaram Leny ao longo dos anos – o scat singing, com solos e improvisos vocais.
 
 

Em 1963, ela gravou “Batida diferente”, compacto cuja faixa-título se tornou uma das mais conhecidas em sua voz, parceria de Durval Ferreira e Mauricio Einhorn.

Leny foi uma das artistas que vestiu o samba de fraque, como dizia uma das canções que gravou. Em 1965, fez sucesso com o show “Gemini V”, na boate carioca Porão 73. Lançada em disco, a apresentação trazia a cantora ao lado do Bossa Três – Luiz Carlos Vinhas no piano, Bailly no baixo e Ronnie Mesquita na bateria –, além do cantor Pery Ribeiro.

“Gemini V” a tornou conhecida fora do Brasil. Leny morou no México entre 1966 e 1972. Disse ter namorado homens de “todas as raças e nacionalidades”,i nclusive o atacante Jairzinho, tricampeão na Copa do Mundo em 1970.

Amiga de Tony Bennett

Nos anos 1980 e 1990, expandiu sua fama para Estados Unidos, Europa e a Argentina. A estreia dela em Nova York ocorreu no Blue Note, lendária casa de jazz, em 1983. O New York Times disse que Leny fazia “o scat singing com agilidade que remete a Ella Fitzgerald”.

Em 1992, Leny cantou por quatro noites no clube Ballroom, em Nova York, elogiada pelo NYT novamente. Lá, conheceu Tony Bennett, o mestre dos standards americanos e do jazz, que morreu na semana passada. O artista costumava frequentar os shows da brasileira nos Estados Unidos. Eles se tornaram amigos, e o americano chegou a desenhá-la algumas vezes.

A carreira fonográfica de Leny tem faceta mais próxima da MPB nos anos 1970, com “Alvorço” (1973) e “Leny Andrade” (1975). Também lançou discos dedicados ao samba, como “Luz negra – Nelson Cavaquinho por Leny Andrade” (1995) à Bossa Nova “Antonio Carlos Jobim, letra e música” (1995) e ao bolero “Alma mia” (2010).

No Retiro dos Artistas

Entre 2018 e 2019, com a saúde debilitada, ela foi morar no Retiro dos Artistas, em Jacarepaguá, no Rio. Leny morreu solteira e não teve filhos.

A última gravação que deixou foi “Por causa de você”, de Tom Jobim e Dolores Duran, lançado como single no começo deste ano, nas celebrações de seus 80 anos. A música integraria um álbum da cantora ao lado do pianista Gilson Peranzetta, mas o projeto não chegou a ser concluído.