Dalmon Albarn, vocalista do Blur

Dalmon Albarn, vocalista do Blur, durante apresentação da banda na França, em julho deste ano

Damien Meyer/AFP
 
Em 10 faixas inéditas, o Blur proporciona ao público a possibilidade de voltar para um tempo não tão distante. A música remete a todos os trabalhos anteriores da banda britânica, mas não em um caráter de comodidade. O Blur se encontra atualmente em um vácuo muito proveitoso. Muitos daqueles que dividiram os palcos com eles nos anos 1990 não estão mais na ativa ou vivem do passado, e esse novo álbum foi a prova final de que o grupo soube aproveitar o próprio tempo, mas não ficou parado por lá.
 
As músicas, na maioria, são baladas, como o próprio nome do disco já avisa. Damon Albarn, com a voz característica que tem, é acompanhado de um instrumental que, por vezes, é onírico, mas também ganha nuances “pé no chão”. Ainda há todo o apelo pop que fez do Blur o que é, mas a maturidade dos mais de 50 anos de idade dos integrantes entrega um outro caráter, que talvez não seja inédito, mas com certeza faz lembrar o motivo da banda ainda ser o maior nome de lineups de festivais do mundo inteiro, mesmo depois de mais de 30 anos de estrada.
 
 
A melancolia de faixas como “The everglades (for Leonard)”, “Goodbye Albert”, “Far away island” e “The heights” é contraposta pela emoção de músicas como “Barbaric”, “The narcissist” e “St. Charles square”.
 
O melhor do Blur está de volta, em uma roupagem mais classuda, mesmo que seja quase impossível imaginá-los se apresentando de terno em um palco com o público sentado. A classe vem da experiência, do fato de que a música já não é mais a mesma, mas eles conseguem relembrar de forma atual o que era bom no passado.
 
A impressão após ouvir os 36 minutos de disco é de reencontro. Parece que um som tão importante estava escondido e, como em um passe de mágica, o Blur foi capaz de trazê-lo de volta à superfície. Não existe a palavra saudade na língua inglesa, mas o grupo ajudou a matá-la com letras em inglês.
 

A sobrevida do britpop

A Inglaterra sempre foi celeiro de talentos no quesito bandas. Beatles, Rolling Stones, Led Zeppelin, Pink Floyd e The Who são alguns dos maiores nomes da história do rock e ícones de como o mundo entende a música britânica. Porém, a geração dos anos 1990 se encontrou em um caráter mais pop do rock n’roll e começou o movimento de muito sucesso chamado britpop. 
 
Extremamente populares, dois nomes se destacaram muito na cena e promoveram guerra no topo das paradas do Reino Unido: Blur e Oasis. Outros nomes, como Suede, Pulp e The Verve também chamaram a atenção, mas sem a mesma profusão de hits.
 
A sonoridade é um rock sem a necessidade das distorções de guitarra, apesar de até utilizá-las, às vezes. O som é “limpo”, resposta ao tremendo apelo que tinha o grunge norte-americano dos tempos de Nirvana. O britpop é mais deglutível para o público e, talvez, seja uma das principais referências para bandas de sucesso até a atualidade, caso de Snow Patrol, Coldplay e até dos norte-americanos do The Killers.
 
Entretanto, nada dura para sempre, principalmente no volátil mundo da música. Os anos passaram e as bandas ficaram pelo caminho. O golpe final no movimento foi a separação do Oasis, quando as brigas entre os irmãos Noel e Liam Gallagher impediram que a banda tivesse vida longa nos anos 2000. O anúncio do fim veio em 2009.
 
O Blur, por outro lado, permaneceu vivo. Este é o segundo álbum que lançam desde o fim do Oasis. Contudo, a produtividade diminuiu muito, visto que o projeto paralelo de Damon Albarn, o Gorillaz, alcançou um patamar que, para muitos, é mais alto que o do próprio Blur. 
 
O hiato de oito anos quebrado agora com o lançamento de “The ballad of Darren” parece longo, mas o anterior foi maior. Entre o disco “Think tank”, de 2003, e “The magic whip”, de 2015, foram 12 anos.
 
Toda a espera vale a pena, afinal, o Blur não só consegue manter o britpop vivo nos tempos de TikTok, como também prova que ainda há relevância e possibilidades dentro do rock britânico, responsável pelo amor por música de tantas pessoas pelo mundo.

Capa de disco da banda Blur traz foto de piscina

Capa de disco da banda Blur traz foto de piscina

Reprodução
“THE BALLAD OF DARREN”

. Álbum do Blur
. Parlophone (10 faixas)
. Disponível nas plataformas digitais