O roteirista Lucas Paraizo

Responsável pelo roteiro das cinco temporadas da série "Sob pressão", Lucas Paraizo afirma que esse trabalho lhe ensinou "o poder da síntese"

Sesc/Youtube


Nascido no Rio de Janeiro em 1978, Lucas Paraizo tem graduação em jornalismo pela PUC do Rio e em cinema pela Escuela Internacional de Cine y Televisión (EICTV), de Cuba. É autor do livro “Palavra de roteirista” (Editora Senac), que reúne entrevistas com 21 profissionais da escrita para o audiovisual, entre eles Bráulio Mantovani, Doc Comparato, Jean-Claude Bernardet e Jorge Furtado. 

“Sempre senti falta de material brasileiro escrito sobre a profissão do roteirista. Fiz um documentário em 2008 sobre o mesmo assunto e decidi publicar o livro pela complexidade e a profundidade das conversas”, conta Paraizo, autor dos roteiros de longas-metragens premiados, como “Gabriel e a montanha”, “Aos teus olhos” e “Divino amor”. 

Na televisão, ele trabalhou com os autores de “O caçador”, “A teia”, “O rebu” e “Justiça”. Foi o roteirista responsável pelas cinco temporadas da série “Sob pressão”, ambientada em um hospital público. Destaca “a dimensão rítmica” como um dos elementos principais que levou para “Os outros”. 

“Aprendi a entender o cerne da cena e o tempo de cada uma. Não costumo escrever cenas longas e o ‘Sob pressão’ me ensinou o poder de síntese”, conta. “Além disso, trago da série médica a ambiguidade dos personagens não maniqueístas que transitavam por aquele hospital e ampliaram meu olhar sobre as possibilidades da dramaturgia em muitas camadas. Ninguém é uma coisa só”, acredita. 

A atriz Letícia Colin e a diretora  Luisa Lima

Luisa Lima (à direita) e a atriz Letícia Colin nos bastidores de gravação de 'Onde está meu coração', série com a qual ela diz ter entendido que "a direção de uma série podia ser uma forma de me posicionar no mundo em que eu vivo"

Fábio Rocha/Divulgação

Olhar particular

Também nascida no Rio de Janeiro e um ano mais nova do que Lucas, Luisa Lima trabalhou como diretora, sob direção artística de José Luiz Villamarim, nas séries “O Rebu”, “Justiça”, “Nada será como antes” e “Onde nascem os fortes”. A primeira direção artística veio com “Onde está meu coração”, de George Moura e Sergio Goldenberg, produção que estreou no Globoplay e depois foi exibida na tevê aberta.

“Foi quando entendi que a direção de uma série podia ser uma forma de me posicionar no mundo em que eu vivo, de colocar o meu olhar e assumir uma linguagem a fim de declarar um discurso. Assim, entender melhor o meu papel na televisão, na arte e na vida”, acredita Luisa. “Para ‘Os outros’ busquei não perder o frescor e o atrevimento, porque vem a noção dos aprendizados, de uma compreensão mais madura dos desafios formais”, complementa a diretora.
 

REFERÊNCIAS DO CINEMA

Na construção da identidade dramatúrgica e visual de “Os outros”, o roteirista Lucas Paraizo e a diretora Luisa Lima buscaram pontos de afinidade mais no cinema do que nas séries.
 
“A gente trabalha com conceito e referências, mas sempre tentando chegar a um lugar forte, que não corra o risco de virar um showroom”, define Lucas. 
 
Cena do filme O deus da carnificina

'O deus da carnificina', filme de Roman Polanski inspirado na obra da francesa Yasmina Reza, foi referência importante para a série brasileira 'Os outros'

Sony Pictures/divulgação
 

A seguir, algumas das referências cinematográficas da dupla para o trabalho, além de “O deus da carnificina”, de Roman Polanski, inspiração assumida para o primeiro conflito dos vizinhos do condomínio.

Cena do filme 'Relatos selvagens', de Damián Szifron 

Cena do filme "Relatos selvagens", de Damián Szifron 

Warner Pictures/Divulgação


“Relatos selvagens”, de Damián Szifron 

Os cinco episódios da produção argentina serviram de inspiração para a construção do que Lucas Paraizo e Luisa Lima chamam de “dinâmica da espiral”, com fatos ordinários iniciando eventos extraordinários, inesperados e irreversíveis.

Cena do filme 'Parasita', de Bong Joon-ho

Cena do filme "Parasita", de Bong Joon-ho

CJ Entertainment/Divulgação


“Parasita”, de Bong Joon-ho

A mistura de gêneros – drama, comédia, suspense – e a sucessão de eventos do filme sul-coreano também inspiraram a realização de “Os outros”, ainda que Lucas Paraizo tenha escrito a primeira temporada antes da estreia nos cinemas brasileiros do vencedor do Oscar de 2020.  

Cena do filme 'O som ao redor', de Kleber Mendonça Filho

Cena do filme "O som ao redor", de Kleber Mendonça Filho

Vitrine Filmes/Divulgação


“O som ao redor”, de Kleber Mendonça Filho

A referência ao primeiro longa-metragem do cineasta pernambucano vem da forma de mostrar as relações tensas entre vizinhos de parede. E a escalação de atores que trabalharam com Kleber, como Maeve Jinkings (uma das filhas de Sonia Braga em “Aquarius”) e Thomás Aquino (o matador Pacote, de “Bacurau”), também ajudou a consolidar a ligação.  

Cena do filme 'Play'

Cena do filme "Play"

Plattform Produktion/Divulgação
Cena do filme 'Força maior'

Cena do filme "Força maior"

Califórnia Filmes/Divulgação


“Play”  e “Força maior”  de Ruben Östlund

Os primeiros longas do diretor sueco, duas vezes ganhador da Palma de Ouro em Cannes, por “The Square: a arte da discórdia” e “Triângulo da tristeza”, foram lembrados pelo olhar social e pelo uso de uma composição de Vivaldi em uma sequência-clímax (na cena antes da avalanche em “Força maior”, no desfecho do episódio sete de “Os outros”).

Cena do filme 'Sem amor'

Cena do filme "Sem amor"

Non Stop Productions/Divulgação


“Sem amor”, de Andrey Zvyaginstev

O longa-metragem russo sobre uma criança que sofre com o divórcio dos pais foi uma das referências para as cenas da reação do adolescente Rogério (Paulo Mendes) durante as brigas do pai, Wando (Milhem Cortaz) com a mãe, Mila (Maeve Jinkings), no segundo episódio.

Cena do filme 'O homem das multidões'

Cena do filme "O homem das multidões"

Cao Guimarães/ Divulgação


“O homem das multidões”, de Cao Guimarães e Marcelo Gomes

A produção brasileira de 2013, que tem Paulo André (Grupo Galpão) como protagonista, inspirou Luisa Lima na composição visual da sequência final do último episódio. A sugestão veio do diretor de arte da série, Marcos Pedroso, que trabalhou no longa filmado em Belo Horizonte.