'Quando coloco o coração no trabalho, ele vai para o lugar da intimidade, de contar a minha narrativa, minha história e meu enredo'
Iara Rennó, cantora e compositora
Ano passado, Iara Rennó foi surpreendida com a indicação de “Oríkì” ao prêmio Grammy Latino, na categoria Melhor álbum de raízes em língua portuguesa. Construído ao longo de mais de 13 anos de pesquisa, o disco disputou com trabalhos do pernambucano Alceu Valença e do baiano Luiz Caldas. Agora, a artista paulistana apresenta “Orí okàn”, o “irmão” do lançamento anterior.
As vivências da cantora e compositora no candomblé são o fio condutor da narrativa do disco, que tem 11 faixas. Com sonoridade intimista, marcada pelo uso de poucos instrumentos, há o protagonismo da voz de Iara Rennó na celebração de sua fé.
No show deste domingo (30/7), às 19h, no Clube de Jazz do Café com Letras, Iara assume voz e violão, enquanto a mineira Gal Duvalle ficará a cargo da percussão.
Música de orixá
O repertório vai reunir composições do novo disco, algumas canções de “Oríkì” e releituras de músicas como “Babá alapalá”, lançada em 1977 por Gilberto Gil, com referências aos laços do cantor e compositor baiano com a cultura africana.
“A apresentação será guiada pela temática da música de orixá, essência da música brasileira. Também vou trazer algumas leituras mais jazzísticas para as interpretações. Essa é uma das marcas do meu trabalho”, afirma.
Iara Rennó explica que a expressão orí okàn vem da língua iorubá – em tradução literal, orí significa destino; okàn, coração. Ela define suas composições como uma saudação ao espírito. “Quando coloco o coração no trabalho, ele vai para o lugar da intimidade, de contar a minha narrativa, minha história e meu enredo”.
Envolvida com a religiosidade desde 2007, só em 2020 Iara decidiu mergulhar no processo de iniciação. Durante essa vivência, compôs grande parte das músicas de seu nono disco de carreira.
As letras, escritas em primeira pessoa, narram o universo cultural e religioso com o qual a artista se relaciona.
“'Orí okàn' tem caráter mais subjetivo, narrado a partir da minha história dentro dessa cultura. É um disco com formação mais pessoal, cujas músicas foram feitas com elementos mais simples, à base de violão, percussão e piano”, diz.
À potência da narrativa de Iara Rennó se somam as participações de Karina Buhr, Moreno Veloso e Zé Manoel. Além de escrever os versos, a cantora tomou a frente da direção artística e musical do projeto fonográfico.
“A interligação entre as linguagens artísticas sempre povoou a minha cabeça, é um processo muito orgânico para mim. Estou sempre pensando na composição de tudo, em como levar isso para o palco para que o público tenha a experiência total, que abrace todos os sentidos”, explica Iara.
DNA musical
A cantora e compositora, de 46 anos, vem de família de artistas. Filha de Alzira E e do músico Carlos Rennó, é sobrinha da cantora Tetê Espíndola. Iara fez parte da banda de Itamar Assumpção, tem canções gravadas por Ney Matogrosso, Elza Soares, Gaby Amarantos e Lia de Itamaracá, entre outros.
Ao comentar a disputa do Grammy Latino, Iara considera as escolhas da premiação como fruto da logística mercadológica, mas, ainda assim, reconhece sua importância para a ampliação do alcance do trabalho de artistas como ela. Em 2022, o prêmio foi para “Senhora estrada”, álbum de Alceu Valença.
“Várias pessoas entraram em contato com o meu som, e isso foi muito gratificante. Depois de um processo de maturação tão longo, ter esse retorno é muito positivo”, conclui Iara.
“ORÍ OKÀN”
• Álbum de Iara Rennó
• 11 faixas
• Dobra Discos
• Disponível nas plataformas digitais
Iara Rennó
Show neste domingo (30/7), às 19h, no Clube de Jazz do Café com Letras (Rua Antônio de Albuquerque, 47, Savassi). Ingressos de R$ 20 a R$ 80, disponíveis no site www.clubedejazzdocafe.com
* Estagiária sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria
Sign in with Google
Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do Estado de Minas.
Leia 0 comentários
*Para comentar, faça seu login ou assine