O bruxinho mais famoso do mundo comemora, nesta segunda-feira (31/7), 43 anos, segundo os livros. O conjunto das obras literárias, que teve seu último livro lançado em 2007, revolucionou a indústria cultural e proporcionou uma gama de possibilidades para vários mercados. Os fãs da saga puderam se deliciar ao longo dos anos com roupas, adereços, jogos, decoração, parques e até uma gastronomia temática.
Nesta data, é interessante lembrar que, mesmo após 16 anos do fim da saga e 12 anos do encerramento dos filmes da história central, o mercado continua a lucrar com produtos estilizados pensados na série de Harry Potter. A saga conquistou grande público e se tornou um fenômeno, fazendo com que novos filmes e séries relacionadas ao mundo bruxo fossem idealizadas, como a trilogia de “Animais Fantásticos” e a série da HBO Max, anunciada neste ano, mas sem previsão de estreia.
Diante do imensurável sucesso, que arrecadou quase US$ 8 bilhões, equivalente a R$ 43 bilhões, é válido ressaltar o grande impacto cultural gerado. Desde o lançamento do primeiro livro, várias tendências sociais foram atribuídas à série. A continuidade das obras se tornou uma ferramenta importantíssima para estimular a leitura de crianças e adolescentes, usadas até mesmo no ambiente escolar.
Ativismo de fãs
Outro impacto notável foi o crescimento de seguidores em massa, os famosos fandoms (grupos de fãs), que passaram a se mobilizar em grandes grupos e fizeram com que Harry Potter se tornasse uma das maiores franquias de cultura pop. Para os ‘potterheads’ (fãs de Harry Potter) com menor poder aquisitivo, o mais acessível além dos livros, eram as comunidades de fãs, que nasceram nos ambientes virtuais. Por alguns anos, no início dos anos 2000, a Warner Bros, produtora dos filmes, tentou derrubar as comunidades e perdeu a briga pela primeira vez.
Com esse acontecimento, os fandoms, que podem se organizar politicamente, tiveram, pela primeira vez, um marco. Para Paloma Lopes Arantes, formada em Comunicação pela UFMG, que teve como pesquisa de TCC o tema "Not in Harry's Name: uma análise do ativismo de fãs a partir do fandom de Harry Potter", a história da saga marcou uma geração inteira e ajuda, até hoje, a pensar em questões políticas, que, muitas vezes, são muito densas no mundo real.
O ativismo de fãs, conceito definido pelo pensador da comunicação Henry Jenkins, defende o uso de uma história fictícia para exemplificar o que está acontecendo no mundo real. De acordo com Jenkins, todos os fãs são autoridades no assunto que gostam, pois quando se é fã, ainda que não haja dinheiro para comprar itens de colecionador ou frequentar estreias, os fãs continuam sendo autoridades pois dominam o assunto.
Paloma conta que ao participar desse grupo de pessoas que não possuía dinheiro para adquirir vários produtos da saga, ela se encontrou nas comunidades virtuais. A partir disso, ela se interessou no tema e decidiu investir nos estudos relacionados ao assunto.
A pesquisa se trata de um recorte que observa uma organização internacional chamada ‘The Harry Potter Alliance’, que, atualmente, se chama ‘Fandom Forward’. Embora tenham mudado de nome, até os dias de hoje eles utilizam esse recurso de olhar pras histórias para mobilizar os fandoms em torno de diversas causas, como coletar livros e construir bibliotecas ao redor do mundo para combater o analfabetismo.
Uma das campanhas desenvolvidas pela organização foi a ‘Not in Harry's Name’, que Paloma aborda na pesquisa. Lançada oficialmente em 2010, a mobilização teve por objetivo fazer com que a Warner Bros, em sua produção de chocolates associada à saga, passasse a utilizar cacau de fontes eticamente responsáveis. A partir do anúncio da comunidade, os fãs de Harry Potter demonstraram apoio organizando eventos e festas realizados em todo o mundo. Petições foram distribuídas e muitos se comprometeram a comprar seu chocolate em outro lugar até que a Warner Bros corrigisse o problema.
Depois de quase quatro anos, a comunidade teve uma vitória notável: a Warner Bros anunciou que estava transferindo todos os seus contratos para empresas de Fair Trade e publicamente agradeceu à Harry Potter Alliance por seus esforços por trazer essas questões à sua atenção.
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