Os mais ligados nas redes vão reconhecer os bordões “Aqui quem fala é ela, a P-fizer”, “Tá passada?” e “Beijinhos científicos”. Trata-se do “meme da Pfizer”, que viralizou em 2021, protagonizado pelo mineiro Esse Menino – ele prefere não revelar seu nome de registro.
Naquela produção caseira, gravada dentro do quarto com câmera de celular, o humorista de Teófilo Otoni ironizava o então presidente Jair Bolsonaro, a quem chamava de “Naro”, por não responder a 101 e-mails da farmacêutica Pfizer, propondo a venda de vacinas ao país em plena crise da COVID-19.
Fingindo ser representante da empresa, Esse Menino criava potenciais correspondências, todas em tom de humor, que a Pfizer poderia ter enviado ao governo brasileiro.
Sucesso e trauma
Contudo, o sucesso repentino não fez bem ao rapaz de 26 anos. Passados seis meses do estouro, Esse Menino se afastou das redes sociais, anunciou pausa na carreira e foi cuidar da saúde mental.
O retorno às atividades ocorreu no ano passado, com o stand-up “Esse Menino ao vivo”, estreia do artista em espetáculo solo. A turnê foi bem recebida e prossegue este ano, rodando cidades do Nordeste, Sul e Sudeste.
Em setembro, ele desembarca em Belo Horizonte para se apresentar no Cine Theatro Brasil Vallourec. Parte dos ingressos já acabou. Há entradas disponíveis apenas para a plateia superior, à venda na bilheteria do teatro e no site Eventim.
“Agora estamos vindo mais preparados, com um circo mais armado”, avisa o comediante. “Sinto que a galera que tem ido ao show finalmente consegue entender que Esse Menino não é personagem que eu criei. Sou eu mesmo, é como se fosse meu apelido. Assim, as pessoas conseguem estabelecer conexão melhor, porque stand-up é isso: eu ali, falando de várias questões. É uma sessão mais intimista”, afirma.
Isso não quer dizer, no entanto, que Esse Menino vai assumir personalidade mais comedida no palco, contrastando com seu jeito espalhafatoso. E, sim, abordará temas recorrentes em sua vida, como a perspectiva da comunidade LGBTQIA+ em relação à sociedade e o sexo gay.
A política estará no repertório, mas sem entrar muito em questões partidárias a ponto de transformar o espetáculo em peça panfletária.
Tais assuntos, aliás, já fazem parte do repertório dele na internet. “São temas muito pouco explorados na comédia, sobretudo no stand-up, ambiente majoritariamente heterossexual”, destaca. Contudo, as piadas feitas para o teatro não serão as mesmas que foram contadas nas redes sociais.
Embora tenha conquistado popularidade na internet – além do “vídeo da Pfizer”, Esse Menino mantém a periodicidade de publicações humorísticas em suas redes –, ele não pretendia fazer das plataformas digitais seu principal meio de trabalho.
Ex-estudante de cinema, começou a gravar pequenos esquetes no Instagram a fim de avaliar como o público receberia as piadas de seus roteiros. Não funcionou do jeito que imaginava. “As pessoas comentavam ‘kkkk’ ou ‘ri muito’, mas se tratava de vídeo de um minuto e meio, com várias piadas seguidas, uma depois da outra. Eu não sabia qual piada funcionava e qual não funcionava”, lembra ele.
Em 2019, já morando na capital paulista, ele resolveu contar suas piadas no palco e assistir em tempo real à reação do público.
Começou fazendo pequenos shows de cinco minutos – muitas vezes, abrindo espetáculos de outros comediantes. Quando já estava amadurecendo e ganhando traquejo, veio a pandemia. “Aí, tive que dar dez passos para trás e voltar para Teófilo Otoni”, conta.
Foi lá que gravou o “vídeo da Pfizer”. Esse Menino jamais imaginaria que a sátira que o alçou ao estrelato poderia levá-lo ao esgotamento mental.
“O ambiente (artístico) às vezes te engole”, comenta. “Quebrei minha cara muitas vezes com a realidade desse ambiente. As coisas não são tão organizadas como deveriam ser. Nem todo mundo tem a boa intenção que a gente pensa. Então, isso foi me machucando muito. Tinha receio de que minha carreira acabasse ali e me cobrava para que isso não acontecesse”.
Ele confessa: chegou ao nível máximo de estresse. “Foi o famoso burnout”, diz. Daí a decisão de dar um tempo. “Sempre escrevo tudo o que faço, mas, naquele momento, não estava conseguindo escrever nada. Não tinha nenhuma ideia. E, ao mesmo tempo, estava me cobrando”, afirma.
Terapia
A recuperação veio com a terapia. No início do ano passado, ele voltou a ter autoconfiança para tocar seus projetos, montou a própria equipe, encabeçada pelo irmão mais velho, Felipe, além de um social media, um maquiador e um estilista.
Esse Menino conta também com assessoria de marketing da Mynd8, empresa que tem Preta Gil como sócia e gerencia as redes sociais de quase 300 perfis de artistas, digitais influencers e páginas de fofoca.
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Com a confiança readquirida, ele passou a escolher projetos de que gostaria de participar. Deixou de ter medo de rejeitar propostas que não o agradassem.
“Muito da minha carreira eu fiz de maneira independente. Então, sei como é a cena independente. Sei como é desenvolver um projeto sem ter cheque de milhões no bolso. Sei como funciona. Então, tudo pode rolar”, ressalta.
Para o futuro, Esse Menino tem planos de gravar seu stand-up e lançá-lo nas plataformas. Também negocia com plataformas de streaming projetos escritos por ele e outros em que atua. Até o próprio show ele está negociando.
“O que mais me dá paz é a liberdade de poder fazer os conteúdos que faço no Instagram. Se apresento um trabalho hoje para a Netflix e ela me fala não, amanhã, dependendo do orçamento, consigo fazer por conta própria (nas redes). Graças a Deus, sei que vai ter público, vai ter quem assista. Isso é o que me dá paz”, conclui.
“ESSE MENINO AO VIVO”
Stand-up do humorista Esse Menino. Em 16 de setembro (sábado), às 20h, no Cine Theatro Brasil Vallourec (Praça Sete, Centro). Ingressos: R$ 80 (inteira/plateia superior) e R$ 40 (meia/plateia superior), à venda na bilheteria do teatro ou no site eventim.com.br. Informações: (31) 3201-5211.