Documentários com sessões comentadas destacam a potência da música heavy metal em Belo Horizonte e o impacto das bandas da cidade mundialmente, na programação da mostra Metal em Minas, em cartaz no Cine Santa Tereza até o próximo domingo (6/8).
Nesta quarta (2/8), o geógrafo Gleyber Calaça participa da sessão comentada de “Cartografia e conhecimento headbanger”, ao lado de Luiz Flávio e Gim Warrior. O pesquisador mineiro de 27 anos decidiu se dedicar ao estudo da cena do metal em BH para unir suas duas paixões: geografia e rock.
Graduado em geografia pela PUC-Minas, Calaça faz sua pesquisa de doutorado sobre os 40 anos da territorialização da cena heavy metal belo-horizontina. No trabalho, ele diz ter se deparado “com a seguinte questão: onde está a minha geração na cidade? Não sei dizer os locais públicos, os bares, onde exatamente está essa turma, porque acredito que muito da territorialização feita nos anos 1980, 1990 e início dos 2000 foi perdida”.
O geógrafo aponta que a digitalização de shows e músicas fez com que as tradicionais reuniões fossem extintas e que espaços fossem perdidos. “Hoje em dia, a gente não precisa estar presencialmente em determinado espaço para consumir música. Com isso, muitos locais que eram efervescentes foram perdendo sua atividade com grande público”, diz.
Metal em BH
Apesar da mudança dos territórios, Calaça notou que a paixão por metal passou a se manifestar de outras maneiras e que continua viva na capital mineira. “Em Belo Horizonte existem alguns hibridismos culturais. Isso acontece quando a identidade do metal é mesclada com outros segmentos culturais, como o Bloco dos Camisa Preta, que mistura-se com carnaval e atrai muita gente.”Ele completa: “Além disso, existem as torcidas organizadas de times da cidade, como o Metalzeiros e a Galo Metal, que contribuem para manter a cena viva de alguma forma”. Segundo ele, desde o surgimento da primeira banda de metal na cidade, a Sagrado Inferno, em 1982, cerca de 300 bandas foram criadas e mais da metade delas estão ativas. “É uma magnitude muito grande”, ressalta.
Vocalista da banda Witchhammer e curador da mostra, Casito Luz é morador do bairro Santa Tereza há 53 anos e era vizinho de Paulo Jr., baixista da Sepultura. Na década de 1980, Casito passava as tardes ouvindo os ensaios do grupo, que viria a se tornar um fenômeno do death metal, e ficou encantado pela nova sonoridade que começava a surgir na capital mineira.
A Witchhammer foi fundada em 1986. Casito criou a mostra Metal em Minas em 2017. “Essa iniciativa surgiu entre os amigos do Santa Tereza, queríamos usar um espaço público do bairro para impulsionar essas novas bandas e pesquisas sobre metal”, conta.
Novas bandas
Nesta quarta edição, a mostra exibe amanhã (3/8) o documentário “BH depois dos anos 80”, de Clinger Carlos, que destaca a história de bandas mineiras conhecidas internacionalmente, como Sepultura, Sarcófago, Chakal e a trajetória de bandas surgidas depois. A sessão está marcada para as 19h e será comentada por participantes do documentário, com mediação de Oswaldo Diniz.
Na sexta (4/8) será exibida uma gravação do show de 1986 que reuniu as bandas Mutilador, Sepultura e Overdose. Também às 19h, a sessão será comentada por Pat e João Faria, fundadores da gravadora Cogumelo, que comemora quase 40 anos de história.
Fundada inicialmente como uma loja de discos, em 1980, a Cogumelo se tornou um ponto de encontro para os amantes do metal em Belo Horizonte. Cinco anos depois passou a trabalhar como o selo Cogumelo Records para lançar o álbum colaborativo “Bestial Devastation / Século XX” (1985), das bandas Sepultura e Overdose. Do Sepultura, o selo lançou ainda “Morbius vision” (1986) e “Schizophrenia” (1987).
No sábado (5/8), a aposta da mostra é em bandas emergentes no cenário musical da cidade, que trazem para o universo de metal novas discussões e quebram o padrão de grupos compostos exclusivamente por homens. “Essas novas bandas vêm com novos estilos interessantes e com a cabeça bem aberta para discussões como as de gênero, porque o metal, infelizmente, tem um pouco desse lado machista e misógino, mas que, hoje em dia, está sendo vencido por essa geração”, afirma Casito.
“A explosão das supernovas: Videoclipes” começa às 19h e mostra os trabalhos de Inventor, Old Audrey’s Funeral, Shiron The Iron, Tantum, Loss, Mortom, Payback, Nuclear Screams, Dirty Grave, Napalm Cobras, Cracked Skull e Double Cross, responsáveis por agitar os espaços do underground mineiro na atualidade. A sessão contará com a presença de músicos de todas as bandas.
A mostra Metal em Minas se encerra no próximo domingo (6/8) com a exibição do documentário “Desagradável” (2013), de Fernando Rick, sobre a banda Gangrena Gasosa, adepta do chamado saravá metal, que incorpora elementos da umbanda à sua música e estética.
MOSTRA METAL EM MINAS
Em cartaz até domingo (6/8), no Cine Santa Tereza (Rua Estrela do Sul, 89, Santa Tereza). Gratuita, com retirada de ingressos pela plataforma Sympla ou na bilheteria local, com 30 minutos de antecedência à sessão. Mais informações e programação completa em
pbh.gov.br/cinesantatereza.
*Estagiária sob supervisão da editora Silvana Arantes